Gonçalo Capela Godinho garantiu que querem ser relevantes e que o crescimento em faturação tem permitido fazer um conjunto de investimentos estratégicos “muito importantes”.
A sociedade de advogados espanhola Pérez-Llorca instalou-se em Lisboa no final de 2023. A primeira contratação foi a de Gonçalo Capela Godinho, advogado com mais de 20 anos de experiência – sobretudo nos mercados brasileiro, português, britânico e norte-americano – para o cargo de sócio. O advogado – que transita da Lefosse e esteve também na Demarest – está encarregue de desenvolver o negócio nos países lusófonos, nomeadamente nos setores da energia e das infraestruturas.
Especializado em fusões e aquisições em diversos setores, especialmente energia e infraestrutura e private equity, os seus clientes incluem empresas multinacionais, empresas norte-americanas, fundos e bancos de investimento, entre outros. No seu currículo conta ainda com passagens pelos escritórios Cardigos & Associados e Cuatrecasas, Gonçalves Pereira, em Lisboa, Simpson, Thacher & Bartlett (em Londres e Nova York) e Holland & Knight (em Miami e Nova Iorque). A Pérez-Llorca foi fundada em 1983 por Antonio Jiménez Blanco, Jaime García Añoveros e José Pedro Pérez-Llorca e tem presença em Madrid, Barcelona, Londres, Nova Iorque, Singapura e Bruxelas.
Tem larga experiência no mercado da advocacia internacional. Essa é a sua grande mais-valia?
Se começamos pela parte internacional, peço, desde já, desculpa pelos anglicismos usados nesta entrevista. Foram muitos anos fora…
Penso que a experiência e a dimensão internacional são, inevitavelmente, uma parte muito importante da minha carreira. Diria que somos todos um “produto” das experiências que tivemos, dos lugares por onde passámos e das pessoas e clientes com quem trabalhámos. No meu caso pessoal, tive muita sorte em ter, numa fase muito embrionária da minha carreira, pessoas que foram verdadeiros mentores e proporcionaram-me um conjunto de oportunidades que não eram necessariamente óbvias para um advogado português da minha geração. Quando penso nesses anos, acho que o grande mérito que tive foi o de manter sempre uma mente muito aberta e mostrar muita recetividade aos conselhos que me deram.
A minha primeira experiência profissional, após concluir a Faculdade de Direito, com 22 anos, foi num escritório americano em Nova Iorque e Miami. Foi o meu primeiro contacto com common law e com assuntos de natureza cross-border. Para ser sincero, a possibilidade de fazer uma carreira internacional, e trabalhar em jurisdições diferentes, não era algo óbvio para mim durante os 5 anos de faculdade.
É natural que esse tipo de experiência tenha tido uma grande influência no que foram as minhas escolhas e opções de carreira nos anos subsequentes. Depois disso, seguiram-se mais alguns anos em Londres e Nova Iorque e, mais recentemente, 12 anos no Brasil. Foram experiências, académicas e profissionais, muito ricas e importantes. Os anos que passei nos Estados Unidos, em particular em Nova Iorque, foram transformacionais. Trabalhar em Nova Iorque significa, entre outras coisas, estar exposto ao mercado legal mais sofisticado, exigente e competitivo do mundo. O work ethic, compromisso e dedicação, padrões de customer service, disponibilidade para o cliente e sofisticação do trabalho realizado são incomparáveis. Por outro lado, mas não menos transformacionais, os 12 anos de Brasil proporcionaram-me uma exposição única ao mercado da América Latina. São Paulo oferece um dos mercados mais meritocráticos que já conheci. É possível, como foi no meu caso, chegar a São Paulo, tendo feito todo o percurso académico e profissional (até então) em outros países, e nunca sentir que isso é uma desvantagem ou que não podemos ter as mesmas oportunidades.
Mais do que qualquer outra coisa, espero que esta dimensão internacional possa se materializar em contribuições importantes para Pérez-Llorca e para os nossos clientes. Isso é o que verdadeiramente interessa. O escritório tem um DNA internacional muito óbvio. Queremos assegurar que ambos, os nossos clientes e profissionais, possam retirar o máximo valor da plataforma que oferecemos.
Portugal tem tudo para se tornar uma referência em matérias como a descarbonização, cadeia de valor de Electric vehicles, produção e exportação de hidrogénio verde, baterias e armazenamento de energia.
A criação da Pérez-Llorca em Portugal tem com certeza razões e objetivos a cumprir. Pode partilhar connosco quais são? O mercado está curioso…
Entendo a pergunta e a curiosidade. Diria que o primeiro objetivo é ser consistente com a estratégia internacional e modelo de negócio do escritório. Felizmente para todos, trabalhamos num setor onde é possível ser bem-sucedido e feliz em diferentes modelos de negócio. Pessoalmente, não distingo os vários modelos possíveis entre certos ou errados. Acima de tudo, acredito na consistência, coerência e execução disciplinada de modelos e estratégias. Lisboa era um passo natural. De uma perspetiva de negócio e mercado, tudo apontava na direção de um escritório verdadeiramente Ibérico e integrado. Acresce que, o trabalho que fazemos para os nossos clientes é cada vez mais de natureza cross-border e, em muitos casos, com uma expectativa muito forte que seremos capazes de oferecer assistência nos dois lados da fronteira.
O que tentamos fazer, em todos os momentos, é garantir que estamos a ler bem os sinais do mercado, a ouvir os nossos clientes e a identificar áreas, produtos ou geografias onde podemos acrescentar valor. Quando se olha para a nossa equipa em Lisboa, parece-me que duas coisas resultam muito evidentes: um conjunto de valências que nos permite competir por qualquer tipo de transação complexa e, de uma forma muito transversal, uma aposta fortíssima em setores regulados. Setores regulados são, tradicionalmente, o sweet spot do escritório. Lisboa não será diferente; de public M&A, a energia, instituições financeiras, transportes, EU/antitrust, etc., estamos preparados e equipados para responder às necessidades dos nossos clientes. Tudo isto sempre no contexto de um “sonho maior”, isto é, a convicção que estamos a construir o melhor escritório possível para as nossas pessoas.
Para ser muito claro: queremos ser líderes no mercado jurídico português, assumir e desempenhar de forma muito consciente o nosso compromisso social enquanto instituição e, naturalmente, ser a melhor escola de formação possível para todos os profissionais que se queiram juntar a nós, e garantir que somos capazes de proporcionar aos nossos colaboradores um caminho claro para o seu desenvolvimento e crescimento profissional.
Este será ou já é um escritório português mas com sede em Madrid ou uma sucursal da firma espanhola?
Somos um escritório Ibérico, com um single partnership e plano de carreira uniforme para todos os nossos profissionais. Por outras palavras, somos uma single firm, com uma cultura interna muito forte – porque é aberta – e desenvolvemos a nossa atividade de forma totalmente integrada. As áreas de prática e negócio, esforços de business development internacional, training de profissionais, oportunidades de carreira nos nossos escritórios internacionais, comunicação, iniciativas de responsabilidade social, etc., tudo é pensado e discutido firmwide. Somos uma instituição onde as pessoas são importantes porque fazem coisas importantes, independentemente da geografia onde estão. O talento para nós não tem “passaporte”.
A autonomia do escritório de Lisboa existe face à sede ibérica?
Acho que temos um modelo que não complica aquilo que pode ser simples. Quando se tem um single equity partnership, onde todos os sócios têm os mesmos direitos e obrigações, um modelo de governança claro e transparente e uma estrutura altamente profissionalizada, não faz muito sentido falar em coisas como “autonomia face à sede Ibérica”. Como referido, temos uma cultura totalmente aberta. Uma cultura que valoriza, reconhece e respeita muito as contribuições das pessoas que vêm de fora. Não existe uma fórmula mágica de sucesso que se aplique de forma cega, independentemente da geografia, e que nos permita fazer as coisas melhor que os outros. O sucesso deste projeto estará sempre intrinsecamente ligado às contribuições e ao bom trabalho desenvolvido pelos nossos profissionais em Lisboa. A nossa única preocupação é colocar as pessoas certas a fazer as coisas certas e, claro, garantir que as pessoas se sentem parte importante da estrutura, independentemente da geografia onde estão. Quando se juntam profissionais altamente qualificados, que trabalham bem juntos e acreditam no projeto, o resultado tende a ser muito positivo.
Pretendem apostar em mais alguma área de prática como, por exemplo, o contencioso?
Penso que os primeiros sinais são claros. Portugal é um mercado estratégico para nós – estamos disponíveis para fazer um investimento importante para sermos um player relevante e líder nas áreas em que somos ativos. Penso que temos um projeto muito interessante para oferecer a qualquer profissional que partilhe dos nossos valores, cultura colegial, a visão que temos da profissão e o tipo de trabalho que queremos fazer.
Estamos, naturalmente, atentos ao que são as necessidades dos nossos clientes e onde achamos que podemos acrescentar valor. Apostaremos em tudo o que seja: coerente com a nossa estratégia, que faça sentido para o negócio dos nossos clientes e onde possamos ser relevantes. Não querendo ser demasiado simplista ou repetitivo, Lisboa não será uma “ilha” dentro da Pérez-Llorca, i.e., os nossos clientes podem esperar a mesma excelência, dedicação, disponibilidade, integridade, compromisso e vontade de estar com eles nas transações ou disputas mais complexas. O modelo de negócio é muito claro: foco no trabalho mais relevante dos nossos clientes.
Temo que o quadro atual de inflação e taxas de juro terão uma reversão mais lenta do que todos nós desejaríamos e, por outro lado, temos alguns eventos que criam alguma incerteza nos mercados, exemplo, a eleição nos EUA.
Quais foram os critérios para a escolha de sócios que até agora foi feita?
Sabemos o que queremos. E isso é fundamental. O primeiro e mais importante critério era o de estabelecer uma linha de coerência e consistência. As coisas têm que fazer sentido e em total harmonia com a cultura e estratégia do escritório. Apesar do tamanho limitado do mercado, Portugal oferece uma pool de talento incrível e rica em diversidade. Tivemos a sorte de encontrar um grupo de pessoas que se identificam com a cultura e valores do escritório, gostam de construir coisas novas e acreditam num projeto internacional de crescimento.
Temos muito claro aquilo que queremos para o escritório de Lisboa e o tipo de talento que precisamos para alcançar os objetivos a que nos propomos.
O reconhecimento e a satisfação demonstrada pelos nossos clientes fazem-nos acreditar que estamos no caminho certo.
A faturação em Espanha não é um tabu, mas em Portugal sim. Como vão encarar essa questão, relativamente ao escritório em Portugal?
O escritório, a exemplo do que outros concorrentes Ibéricos fazem, continuará a manter uma política de transparência com relação a questões de faturação.
Quais são os valores de faturação que pretendem atingir no escritório em Portugal?
Queremos e vamos ser relevantes. Somos um escritório que tem crescido double-digit numa base anual. Este crescimento em faturação tem permitido fazer um conjunto de investimentos estratégicos muito importantes.
Claro que fazemos os nossos exercícios internos de budget e temos uma ideia de onde queremos chegar. De qualquer forma, o mais importante, neste momento, é trabalhar em tudo o que constitui a base de um projeto que se quer de sucesso. Estamos conscientes das dificuldades e dos desafios que temos pela frente, mas também sabemos que temos as pessoas certas, um projeto e liderança.
Temos objetivos muito claros para o escritório de Lisboa. Esses objetivos passam por posicionamento de mercado, contribuir para a promoção do mercado legal português, atrair os melhores profissionais, conseguir os melhores mandatos, excelência e rigor em tudo o que fazemos e, naturalmente, dar a melhor carreira possível aos nossos profissionais. Não tenho qualquer tipo de dúvida que seremos uma instituição de referência em Portugal. Temos obrigações claras para com o País, a sociedade civil e as nossas pessoas, que vão muito para além de ser apenas um escritório de advogados.
Quaisquer valores de faturação, serão o reflexo positivo do trabalho que faremos em todas as frentes referidas acima.
O facto de serem um escritório com origem ibérica limita-vos ou pode vir a limitar na escolha de alguns clientes?
Não, de todo. Pelo contrário, acreditamos que a nossa presença ibérica será, necessariamente, muito relevante para os nossos clientes, dado que temos um profundo conhecimento dos dois mercados e atuamos de forma completamente integrada. A abertura de Lisboa vai de encontro às expectativas dos nossos clientes e do próprio mercado.
A Pérez-Llorca tem atualmente 7 escritórios: além de Lisboa, Madrid e Barcelona na Península Ibérica, o escritório está presente em Londres, Nova Iorque e Singapura, cobrindo, assim, aquelas que consideramos serem atualmente as três capitais financeiras do mundo, e Bruxelas, capital “regulatória” da União Europeia.
A nossa proposta de valor, e plataforma internacional, não é apenas reconhecida pelos nossos clientes internacionais em matérias de inbound investment em Portugal. Temos vários clientes em Portugal para quem trabalhamos em outras jurisdições. Os clientes entendem e reconhecem o valor que os nossos escritórios fora da Península Ibérica, e os nossos relacionamentos internacionais, trazem para a mesa.
Como se destacam face aos escritórios ibéricos com presença em Portugal, como a Cuatrecasas, Garrigues ou Uría?
Estamos conscientes da qualidade e do excelente trabalho que os nossos concorrentes têm desenvolvido em Portugal e Espanha. Os escritórios que mencionou são firmas ibéricas de referência, por quem sentimos uma profunda admiração, estima e amizade. Não vejo valor em entrar em qualquer tipo de exercício de comparação. Temos mais de 40 anos de história que mostram o que tem sido o nosso caminho. Um caminho de busca incessante pela excelência e qualidade, com o objetivo máximo de que qualquer cliente, confrontado com um grande desafio ou uma questão complexa, chegue à conclusão que nós somos o escritório certo.
Queremos e vamos ser relevantes. Somos um escritório que tem crescido double-digit numa base anual. Este crescimento em faturação tem permitido fazer um conjunto de investimentos estratégicos muito importantes.
De que forma funciona a dinâmica com Madrid?
Não posso deixar de reforçar que o nosso modelo assenta num conceito de single firm. As nossas áreas de prática e negócio operam de uma forma completamente integrada. As nossas equipas são multidisciplinares e multi-jurisdiction. O melhor talento ao serviço do cliente, independentemente da geografia onde esse talento está. São várias as transações onde temos equipas constituídas com advogados de todos os escritórios da sociedade. Essa é a beleza do no nosso modelo. A nossa cultura, colegialidade e equity model garantem que os nossos clientes estarão sempre com os melhores profissionais, independentemente da nacionalidade, presença geográfica ou time zone.
A discrição e low profile é uma exigência de Madrid? Ou pretendem ser mais ativos na comunicação?
Não existem exigências de Madrid, Lisboa ou qualquer outro lugar. Existe, sim, uma cultura única e uma política de comunicação, interna e externa, alinhada com a cultura e estratégia do escritório. Comunicamos quando temos que comunicar, e penso que o fazemos quando faz sentido, com transparência, muita qualidade de informação e critério. Aceitamos os rótulos de “discrição” e “low profile”. Temos uma cultura assente em pessoas altamente qualificadas que trabalham juntas, num ambiente colegial e colaborativo, onde o único objetivo é servir os nossos clientes com excelência, sobriedade e integridade.
Que diferenças encontra entre o mercado jurídico espanhol e o português?
As grandes diferenças estão, em minha opinião, essencialmente ligadas à dimensão, escala e vocação internacional do mercado espanhol. O mercado jurídico espanhol tem um contexto altamente competitivo, não só pela imensa qualidade dos escritórios espanhóis, mas, também, pela forte presença dos escritórios ingleses e, mais recentemente, com o aumento do investimento realizado por alguns escritórios americanos. Acrescentaria, ainda, a forte ligação à América Latina (a um nível que Portugal nunca conseguiu estabelecer com o Brasil) e uma cultura de não resignação à dimensão reduzida do mercado ibérico (não só o tecido empresarial, mas os próprios escritórios espanhóis). Encontro em Espanha uma admirável vocação para projetos de crescimento e com dimensão internacional. Em termos de qualidade, talento, formação, sofisticação, etc., são mercados muito parecidos, e com uma forma de ver a profissão e servir os clientes muito similar.
E que avaliação faz do mercado brasileiro? Muito semelhante ao nosso?
São mercados muito diferentes. A influência americana no mercado brasileiro é muito presente e visível.
Sou muito parcial com relação ao mercado brasileiro. Passei 12 anos extraordinários no Brasil e na região. Atrevo-me a dizer que o Brasil é uma das melhores escolas do mundo para public M&A e equity capital markets. Para que se tenha uma ideia, em 2021 o escritório de que era sócio no Brasil esteve envolvido em 61 operações de equity ao mesmo tempo, IPOs e follow-on offerings – algo que, excluindo Nova Iorque, dificilmente poderia acontecer em qualquer outro mercado.
O mercado brasileiro é muito sofisticado e com uma capacidade única de se reinventar em cenários de grande volatilidade (por exemplo, inflação e taxas de juro altíssimas, risco cambial e de país, etc.). Estamos a falar de um mercado de mais de 200 milhões de consumidores. São Paulo tem um GDP maior que o Chile. Penso que as grandes diferenças resultam da dimensão e escala do mercado, e da proximidade ao mercado de Nova Iorque.
Não se trata de ser melhor ou pior, mas diria que os escritórios brasileiros têm a capacidade de pensar e desenvolver negócio de uma forma muito intensa e orientada. O business development é visto como investimento e medido como tal. Não se correm riscos de que investimentos em iniciativas de BD se convertam em custo fixo. Tudo é medido contra o retorno gerado.
Não existe qualquer tipo de passividade. O diálogo com os clientes sobre novos produtos e novas oportunidades de colaboração acontece 365 dias por ano.
Não tenho qualquer tipo de dúvida que seremos uma instituição de referência em Portugal. Temos obrigações claras para com o País, a sociedade civil e as nossas pessoas, que vão muito para além de ser apenas um escritório de advogados.
Que setores, tendo em conta o contexto atual, podem ter mais movimento em 2024?
Assumindo que os fundamentos de longo prazo da economia Portuguesa e certos sectores não se alteram de forma material, penso que é razoável esperar níveis de atividade interessantes em tudo o que tenha a ver com real assets, incluindo o projeto do TGV, privatização da TAP, energia renovável (greenfield e brownfield), digital infra, fintech, digital banking/retail – poderão acontecer coisas interessantes na área da saúde e, claro, real estate deverá continuar a gerar um volume interessante de transações. Acho que “decarbonisation”, “digitalisation” e “deconsolidation” serão catalisadores de atividade em vários setores.
Portugal continua a ser apetecível para os investidores, mesmo neste contexto de inflação e crise Europeia?
Sem dúvida, todos os índices de avaliação de performance da economia Portuguesa e de atractividade de investimento estrangeiro, mostram a resiliência de Portugal num cenário macroeconómico e geopolítico muito desafiador. É muito importante que, num quadro de transição energética, Portugal saiba tirar partido da sua posição geográfica e da qualidade dos seus recursos. Existindo vontade política e uma aposta contínua na inovação, Portugal tem tudo para se tornar uma referência em matérias como a descarbonização, cadeia de valor de Electric vehicles, produção e exportação de hidrogénio verde, baterias e armazenamento de energia, etc.
O ano de 2023 foi “negro” em termos de atividade de M&A que caiu para o nível mais baixo em 10 anos em todo o mundo. Está otimista para 2024?
Sim, 2023 foi um ano difícil para as fusões e aquisições em termos gerais.. No entanto, é importante entender que na maioria dos casos não esteve relacionado com uma alteração material dos fundamentos de longo prazo de “região” ou “setor”. É normal que, num quadro inflacionário alto e de taxas de juro elevadas várias coisas sucedam: por exemplo, uma quase que imediata alocação de recursos para produtos de renda fixa que oferecem, agora, uma boa remuneração e com menos risco, custo de capital mais alto que, inevitavelmente, tem impacto na atividade de M&A e desenvolvimento de novos projetos, uma maior dificuldade em chegar a acordo nos exercícios de valuation (um legado de capex que vem desde o período da Covid difícil de “price”) e, por último, diria que continuamos a viver num cenário macro onde existe abundância de dinheiro para alocar e um número reduzido de oportunidades que ofereçam os retornos esperados. Para 2024, penso que já estamos a ver algum aumento de atividade, mas, pessoalmente, não penso que vai ser um ano materialmente diferente de 2023. Temo que o quadro atual de inflação e taxas de juro terão uma reversão mais lenta do que todos nós desejaríamos e, por outro lado, temos alguns eventos que criam alguma incerteza nos mercados (exemplo, a eleição nos EUA).
Quais poderão ser os setores de M&A mais ativos?
Penso que existem alguns processos de M&A em curso que não me parecem reveladores de maior atividade em determinados setores, mas apenas transações de oportunidade ou como resultado de alguns eventos de liquidez que terão necessariamente de acontecer. Vejo um 2024 com atividade de M&A em vários segmentos de infra e energia, projetos PtX, um aumento de investimento em tech, com fintech, digital banking, proptech e health tech provavelmente a prevalecerem.
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