Guerra em grande escala na Europa “já não é uma fantasia”, avisa Borrell
Chefe da diplomacia da UE alerta para “ameaça” da Rússia à Europa e pede mais investimento dos Estados-membros em Defesa, apontando que ajuda dos EUA depende de quem governar Washington.
O Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, disse esta terça-feira que um conflito em grande escala na Europa, para além da Ucrânia, “já não é uma fantasia”, alertando para que o continente se prepare para uma potencial guerra.
“A guerra está certamente a pairar à nossa volta. Uma guerra convencional e de alta intensidade na Europa já não é uma fantasia“, afirmou o chefe da diplomacia europeia, num discurso proferido em Bruxelas, citado pelo jornal britânico Financial Times.
De forma mais clara, o responsável espanhol apontou depois que “a Rússia ameaça a Europa”, quer através da guerra em curso na Ucrânia, quer por meio de ataques híbridos contra os Estados-membros da UE.
É a primeira vez que Josep Borrell faz referência à ameaça de Moscovo de forma tão explícita, após vários avisos, nos últimos meses, de chefes militares e de governos de países do norte da Europa sobre o risco de mais ataques russos para além da Ucrânia.
Por exemplo, o ministro da Defesa dinamarquês afirmou, em fevereiro, que a Rússia poderia testar a solidariedade da NATO dentro de três a cinco anos. “O Muro de Berlim foi substituído por um anel de fogo à nossa volta”, disse, referindo-se também à guerra entre Israel e o Hamas e à instabilidade no norte de África.
Com a invasão russa da Ucrânia, ficou exposto o fraco investimento da UE na indústria de Defesa e nas capacidades militares do bloco comunitário. Ao mesmo tempo, os Estados-membros receiam que os EUA possam abandonar o seu papel de garantia de segurança a longo prazo do continente caso Donald Trump regresse à Casa Branca após as eleições presidenciais de novembro.
Aliás, o antigo presidente norte-americano e atual candidato republicano sugeriu, num comício na Carolina do Sul, em fevereiro, que “encorajaria” a Rússia a atacar qualquer país da NATO que não contribuísse com 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para os cofres da aliança militar.
“O guarda-chuva dos Estados Unidos, com o qual contamos desde a Guerra Fria, pode não estar sempre aberto. Talvez, dependendo de quem governa Washington, não possamos contar com a América para nos proteger”, disse Borrell.
Ainda que os países europeus tenham vindo a aumentar o investimento na sua capacidade de produção industrial no setor, num esforço não só com o intuito de aumentar a ajuda a Kiev, como também para rearmar os seus próprios exércitos, Borrell pede mais investimento, uma vez que a situação de segurança da Europa é uma “crise existencial”.
“Precisamos de um novo veículo de financiamento intergovernamental […], comparável ao que criámos durante a crise financeira [da Zona Euro]“, apontou ainda o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha.
Alguns líderes europeus defendem que o financiamento seja obtido através de emissão de dívida na UE para objetivos comuns na Defesa, enquanto outros, resistindo à ideia de mais dívida comum, apoiam um alívio das regras para permitir que o orçamento da UE financie mais armamento.
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