Borrell lamenta que 27 tenham hesitado nas ajudas a Kiev

  • Lusa
  • 3 Janeiro 2024

"Se não tivéssemos vacilado tanto, talvez a guerra tivesse seguido outro curso", disse Josep Borrell, que acredita que "é preciso ser mais rápido na ajuda".

O Alto Representante para a Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, lamentou esta quarta-feira as hesitações dos 27 nas ajudas à Ucrânia, referindo que se as decisões tivessem sido mais rápidas, talvez o curso da guerra tivesse sido outro. “Fizemos muito pela guerra na Ucrânia, mas hesitámos muito”, criticou Borrell, durante a sua intervenção no Seminário Diplomático, que decorre hoje e quinta-feira na Fundação Oriente, em Lisboa.

“Se não tivéssemos vacilado tanto, talvez a guerra tivesse seguido outro curso”, afirmou, sublinhando que “é preciso ser mais rápido na ajuda”. De acordo com o representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, todas as decisões de envio de sistemas de armamento foram antecedidas por semanas de conversações e dúvidas que apenas resultaram numa demora em transferir o apoio militar pedido por Kiev.

Embora tenha reconhecido ser difícil “pôr 27 Estados em acordo numa situação tão tremenda como uma guerra na sua fronteira”, Josep Borrell sublinhou que “a Europa não pode fraquejar no seu apoio à Ucrânia”. “Se a Rússia conseguir o seu objetivo, a Europa estará em perigo”, alertou, acrescentando que “o apoio dado até agora não é suficiente”.

Gostava que houvesse uma perspetiva de paz, mas francamente não a vejo. As perspetivas concentram-se mais numa disputa militar do que na procura de uma solução de paz”, disse. O Presidente russo, Vladimir “Putin, não tem nenhuma intenção de acabar esta guerra enquanto não conseguir os seus objetivos, isso ficou demonstrado nos ataques da semana passada”.

A Rússia lançou cerca de 300 mísseis e 200 ‘drones’ (aeronaves sem tripulação) contra a Ucrânia desde 29 de dezembro, tendo Putin garantido que vai intensificar os seus ataques contra alvos militares na Ucrânia. O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, pediu na terça-feira aos parceiros internacionais que acelerem a entrega de ajuda militar, sobretudo de sistemas de defesa aérea, na sequência da multiplicação dos ataques russos.

Inicialmente, lembrou o representante da UE, a resposta dos 27 Estados-membros à guerra na Ucrânia foi facilmente consensual. “Em poucos dias, tivemos uma resposta unânime para mobilizar recursos financeiros e, pela primeira vez, enviar ajuda militar a um país em guerra”, referiu.

Nos últimos tempos, essa unanimidade não é tão sólida e, “quanto mais durar a guerra, mais difícil será continuar” a haver união. Questionado, durante o seminário, pela embaixadora portuguesa em Moscovo, Mariana Fisher, sobre a relação que se pode esperar entre a Europa e a Rússia quando a guerra terminar, o chefe da diplomacia europeia admitiu que “tudo depende de como [o conflito] acabe”.

“É muito difícil imaginar como nos vamos relacionar com a Rússia”, reconheceu, referindo que não pode haver uma “permanente instabilidade na fronteira leste da Europa”.

Borrell defende solução para o conflito no Médio Oriente imposta pela comunidade internacional

O chefe da diplomacia europeia defendeu ainda que a solução para o atual conflito no Médio Oriente tem de ser imposta pela comunidade internacional já que as partes em confronto “nunca se conseguirão entender”.

A solução para a guerra em curso entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas “tem de ser imposta a partir do exterior porque as duas partes nunca conseguirão chegar a acordo. Tem de ser a comunidade internacional a impô-la”, afirmou Josep Borrell, durante o Seminário Diplomático, que decorre esta quarta e quinta-feira em Lisboa.

A guerra entre palestinianos e israelitas “é um problema territorial” entre “dois povos que têm direitos legítimos a uma terra”, referiu o alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, considerando que “a única solução é que partilhem [o território] ou que um deles desapareça”.

Borrell lembrou que “há 30 anos que se defende a solução de dois Estados”, mas “o radicalismo do Hamas e a extrema-direita de Israel não o têm permitido”. E, embora os últimos anos tenham criado “uma ilusão de que o Médio Oriente estava pacificado”, o ataque de 7 de outubro “pôs em evidência a debilidade” da paz entre as duas partes agora em confronto.

O Hamas atacou, de forma inesperada e inédita, o território israelita em 7 de outubro, provocando, segundo as autoridades de Telavive, cerca de 1.200 mortos, a maioria dos quais civis. Mais de 200 pessoas foram também sequestradas nesse dia e levadas para a Faixa de Gaza, das quais mais de 120 ainda permanecem em cativeiro no enclave, território controlado pelo Hamas, considerado uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por Israel.

Em retaliação, Israel declarou guerra ao Hamas, bombardeando Gaza diariamente e provocando, segundo as autoridades locais, controladas pelo grupo islamita, mais de 22.000 mortos, além de bloquear o acesso a bens essenciais como água, medicamentos e combustível. “O que estamos a aprender [com esta guerra e com o passado] é que a solução tem de ser imposta pela comunidade internacional”, insistiu Josep Borrell.

“Os Estados árabes já avisaram que está fora de questão voltarem a financiar a reconstrução de Gaza – esta seria a quarta vez – se não houver uma solução que comprometa a comunidade internacional”, adiantou o representante europeu. Por outro lado, recordou, “o Hamas não quer a solução de dois Estados e Israel também não”, pelo que o cenário tem de ser forçado externamente.

Se isto [a guerra] não acabar rapidamente, todo o Médio Oriente vai entrar ‘em chamas’”, advertiu, referindo que, em menos de três meses de conflito, “já há mais de 20 mil mortos, dois milhões de deslocados e Gaza tornou-se numa cidade mais destruída do que estava Varsóvia quando acabou a II Guerra Mundial”. Mas a necessidade de a comunidade internacional impor uma solução no Médio Oriente também mostra as fraquezas da própria UE, admitiu o chefe da diplomacia europeia.

Ao contrário do que aconteceu em relação à guerra na Ucrânia, “não conseguimos ter uma posição unânime” relativamente à Palestina e Israel, lamentou Borrell. “Só conseguimos um acordo para apoiar pausas humanitárias e, quando chegamos às Nações Unidas, esse consenso rompeu-se”, referiu o político, sublinhando que a falta de união “debilita a Europa” e facilita as críticas de que “há comportamentos diferentes [‘double standards’]” relativamente a diferentes conflitos.

Josep Borrell participou esta quarta-feira, como convidado especial, no primeiro dia do Seminário Diplomático, encontro anual promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros com os diplomatas portugueses para debater as prioridades da política externa.

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