CEO do PSI ganham 32 vezes mais do que os trabalhadores

Empresas do PSI aumentaram os trabalhadores em 4,9% em 2023, um pouco acima da subida registada para os CEO, pelo que o fosso baixou ligeiramente. Na Jerónimo Martins a diferença chega às 260 vezes.

Os presidentes executivos (CEO) de 14 companhias do PSI auferiram uma remuneração média de 1,44 milhões de euros em 2023, o que representa um crescimento de 4% face ao ano anterior. Já os custos com os seus perto de 305 mil trabalhadores tiveram um valor médio de 44.541 euros, mais 4,9% do que em 2022.

Esta evolução traduz-se num alívio apenas ligeiro no fosso entre as remunerações dos líderes das empresas e os seus trabalhadores. Situou-se em 32,3 vezes no ano passado, contra 32,6 vezes em 2022. Os números dizem respeito a 14 cotadas, uma vez que o CEO da EDP Renováveis (Miguel Stilwell) é remunerado através da EDP e a Ibersol ainda não publicou os números do ano passado.

Estes valores pecam por defeito, tendo em conta que a remuneração média dos trabalhadores foi apurada através da divisão dos custos com pessoal pelo número de trabalhadores de cada empresa. Esta rubrica inclui outras componentes além do dinheiro que os trabalhadores levam para casa, como as contribuições para a Segurança Social, impostos e outros encargos. Contudo, a massa salarial é a métrica que permite comparar os valores entre as diferentes empresas de forma mais fidedigna e permite captar a tendência.

O aumento de 4,9% nos custos por trabalhador indicia que foi possível, pelo menos, manter o poder de compra (inflação média em Portugal situou-se em 4,3% no ano passado). As empresas do PSI assumiram custos com pessoal conjuntos de 7,7 mil milhões de euros em 2023, um crescimento de 14,9%, num ano em que o número de colaboradores subiu 5,1% para 304.964.

No caso das remunerações dos CEO, os valores são brutos (ilíquidos de impostos) e contemplam componentes como o salário fixo, pagamentos variáveis, prémios, contribuições para complementos de reforma e indemnizações a gestores que já não estão nas companhias. Não incluem a remuneração através de ações, devido à dificuldade em valorizar esta componente.

Dos 9 aos 260

O rácio médio de 32,3 vezes apurado em 2023 esconde uma grande amplitude que se verifica entre as várias empresas do PSI, o que reflete a discrepância entre as remunerações dos CEO portugueses, mas sobretudo as atividades distintas das cotadas e os países onde operam.

A Jerónimo Martins é de longe a empresa do PSI onde o fosso entre CEO e trabalhadores é mais alto. Pedro Soares dos Santos é o gestor mais bem pago em Portugal (4,9 milhões de euros em 2023) e a companhia tem o segundo custo por trabalhador mais baixo do PSI (18.835 euros), o que pode ser explicado pela forte presença em países com salários mais reduzidos (Polónia e Colômbia) e o retalho ser um setor com salários médios mais baixos.

A discrepância entre CEO e trabalhadores da Jerónimo Martins atingiu 260 vezes no ano passado, agravando-se face ao rácio de 2022 (232 vezes). A dona do Pingo Doce aumentou os custos com pessoal em mais de 20% em 2023, para 2,5 mil milhões de euros, de longe o valor mais elevado entre as cotadas do PSI. O número de trabalhadores subiu 2,5% e o custo por cada um cresceu 16%.

A Sonae é a segunda cotada do PSI com a diferença de remunerações mais elevada (74,7 vezes em 2023, contra 78,3 em 2022), também devido à elevada fatia da sua força de trabalho no setor do retalho. A Corticeira Amorim surge no polo oposto, com o seu CEO a receber “apenas” nove vezes mais do que o custo médio por trabalhador. Seguem-se a REN, Altri e Greenvolt, com rácios em redor ou abaixo de 15, ou seja, menos de metade da média do PSI.

A REN tem o custo por trabalhador mais elevado do PSI, acima dos 87 mil euros, sendo que as empresas de energia dominam o Top 5. Galp Energia e EDP estão pouco acima dos 60 mil euros, surgindo depois a Altri e a Greenvolt, acima dos 50 mil euros.

No gráfico em baixo (que pode consultar aqui se estiver a ler esta notícia na aplicação do ECO) pode consultar os diferentes indicadores para cada uma das 14 empresas analisadas neste artigo.

Seis CEO receberam menos

Os 14 CEO do PSI receberam uma remuneração conjunta de 20,2 milhões de euros no ano passado, um valor que representa um crescimento de 4% face a 2022, mas ainda longe do total do ano anterior. As remunerações caíram 39% em 2022, depois de em 2021 os gestores de topo das empresas do índice levarem para casa mais de 30 milhões de euros, com o total a ser influenciado pela contribuição extraordinária de 9,3 milhões atribuída a Soares dos Santos e pelo pagamento de 5,6 milhões aos gestores que saíram da Galp Energia nesse ano.

As remunerações variáveis de 2023 representaram mais de metade (53,7%) do valor global auferido pelos CEO, ligeiramente acima do registado em 2022 (52,1%). Tendo em conta que 2023 foi o terceiro ano seguido de lucros recorde nas empresas do PSI, é provável que este peso continue a subir. As remunerações variáveis dizem sobretudo respeito ao desempenho de anos anteriores, devido à prática habitual das cotadas de diferirem os prémios no tempo.

Esta é uma das razões pelas quais vários CEO baixaram a remuneração em 2023, apesar de nesse ano os lucros terem subido para máximos. É o caso de Miguel Maya do BCP, que baixou a remuneração em 23,2%, bem como de Filipe Silva. O CEO da Galp Energia ganhou menos 27,5% do que o seu antecessor, com a remuneração variável a baixar para menos de metade da que foi auferida por Andy Brown em 2022.

Além do BCP e da Galp, mais quatro CEO do PSI viram a remuneração baixar face a 2022: Manso Neto da Greenvolt (-29,2%), António Rios de Amorim da Corticeira Amorim (-19,9%), José Soares de Pina da Altri (-16,1%) e Carlos Mota Santos da Mota-Engil (-9,8%).

Entre os oito que aumentaram a remuneração, destaca-se Pedro Soares dos Santos. O CEO da Jerónimo Martins reforçou o estatuto de ser o que mais ganha do PSI, com um aumento de 31,7% para 4,9 milhões de euros. Miguel Stilwell surge em segundo, acima dos 2 milhões de euros, com Cláudia Azevedo a ascender ao último lugar do pódio após um aumento de 8,5%. No total, são oito os CEO do PSI que auferiram mais de 1 milhão de euros, abaixo dos nove de 2022 (Manso Neto ficou abaixo da fasquia dos sete dígitos).

Após um corte de 19,9% para 344 mil euros, António Rios de Amorim também reforçou o estatuto de CEO do PSI com remuneração mais baixa. O CEO da Corticeira Amorim foi sobretudo penalizado pelo corte de 74,7% na remuneração variável, que passou a representar apenas 14% do total. É o peso mais reduzido no PSI, sendo que a Sonae atinge e proporção mais elevada (69,5%).

Além de remunerarem os atuais CEO, várias empresas do PSI continuam a pagar aos gestores que já deixaram o cargo, sobretudo devido a prémios de desempenho referentes a anos anteriores e pacotes de indemnizações. É o caso de António Mexia, que saiu da EDP em 2020, mas ano passado recebeu mais de 1,8 milhões de euros da elétrica. Manso Neto, que agora lidera a Greenvolt, recebeu mais de 600 mil euros da EDP em 2023. Andy Brown recebeu 219 mil euros referentes ao desempenho da Galp em 2022.

Remunerações das comissões executivas sobe 3%

No que diz respeito aos membros das comissões executivas destas 14 empresas, as remunerações agregadas subiram 3%, para perto de 57 milhões de euros, sendo que apenas em quatro companhias se observou uma variação negativa (BCP, Galp, Semapa e Greenvolt).

A maior subida foi registada na Sonae (48%), sendo que a EDP continua com a comissão executiva mais “cara” (única acima dos 10 milhões de euros). Um estatuto que é explicado também por ter um número elevado de elementos (cinco) com funções executivas e vários gestores continuarem a receber remunerações devido ao desempenho de anos anteriores.

Administradores não executivos recebem mais 21%

Alargando a análise a todos os administradores (com e sem funções executivas), as remunerações totais dos conselhos de administração de 15 empresas do PSI aumentaram 6,3% para mais de 75 milhões de euros.

Os administradores sem funções executivas receberam 18,2 milhões de euros no ano passado, mais 21% do que em 2022 (15 milhões de euros) e também acima do registado em 2021 (14,4 milhões de euros).

A EDP também tem o conselho de administração com remunerações totais mais altas, surgindo depois o BCP e a Navigator. Ainda assim, as remunerações da elétrica aos seus administradores (executivos e não executivos) continuam abaixo do registado em 2021 (13,3 milhões de euros) e 2020 (14,7 milhões de euros).

A Galp Energia protagoniza a maior redução (-29,8%) e a Mota-Engil a maior subida (+67,2%), refletindo o facto ter um conselho de administração composto por 15 pessoas. Gonçalo Moura Martins, o antigo CEO e agora administrador não executivo, ganhou 2 milhões em 2023, mais do dobro de Carlos Mota dos Santos e o chairman António Mota também ficou acima (1,1 milhões).

A Altri é a companhia do PSI onde os valores pagos aos administradores têm um peso maior nos custos com pessoal. Na empresa de pasta e papel chega aos 9%, seguindo-se a Nos (5,5%), REN e Navigator (4,4%). A Jerónimo Martins (0,2%) e a Sonae (0,4%) surgem no polo oposto, o que evidencia o peso elevado que o pessoal tem na estrutura de custos destas empresas.

As remunerações totais dos administradores representam 1% dos custos com pessoal globais, mas a média dos valores é de 2,5%.

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