Proprietários acusam Governo de “manter medidas gravosas do Mais Habitação”
A Associação Lisbonense de Proprietários critica a manutenção do "teto ao aumento das rendas para novos contratos". Inquilinos lamentam falta de medidas para "regular e fiscalizar o mercado".
Os proprietários acusam o Governo de manter “a maior parte das medidas gravosas do pacote Mais Habitação”, como o teto ao aumento das rendas para os novos contratos e a proteção das rendas antigas”, afirmou ao ECO o presidente da Associação Lisbonense de Proprietário (ALP), Luís Menezes Leitão, em reação à estratégia para a habitação, apresentada esta sexta-feira pelo Executivo, no Porto. “É uma quebra gravíssima da promessa eleitoral”, atira o ex-bastonário da Ordem dos Advogados.
“Avalio pessimamente esta proposta, o que assistimos foi um verdadeiro flop, no âmbito de um programa de habitação de um Governo de centro-direita, que na campanha eleitoral, prometeu que iria revogar o Mais Habitação do anterior Executivo”, sublinhou Menezes Leitão.
De facto, e analisando o documento apresentado pelo ministro das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz, não há qualquer nota sobre a revogação do teto às rendas ou sobre o regime das rendas antigas.
Teto ao aumento das rendas para novos contratos vigora até 2030
Assim, mantém-se a medida do Mais Habitação que determina que, “nos imóveis que já se encontravam no mercado de arrendamento nos últimos cinco anos, a renda inicial nos novos contratos não pode ultrapassar os 2 % face à renda anterior, salvo nas rendas em que se pratiquem valores enquadrados dentro dos limites do programa de arrendamento acessível”.
De salientar que “a este valor podem acrescer os coeficientes de atualização automática dos três anos anteriores. No caso dos imóveis, onde tiverem sido feitas obras de remodelação ou restauro profundos, devidamente atestados pelos municípios, o aumento pode ser de 15% adicionais”, de acordo com o Mais Habitação. Este regime estará em vigor até 2030.
Por outro lado, o pacote do Governo socialista de António Costa garante a não transição dos contratos anteriores a 1990 para o Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU), medida que se mantém inalterada na estratégia de Montenegro para a habitação. Isto significa que os proprietários não podem atualizar estas rendas, muito baixas, além do coeficiente da inflação. No final do ano passado, o Governo estava a estudar medidas de compensação fiscal aos senhorios, que acabaram por não sair do papel, por causa da demissão do primeiro-ministro.
Luís Menezes Leitão indica que, face às promessas eleitorais de revogação do pacote Mais Habitação, “as únicas propostas que avançaram foram a reversão do arrendamento coercivo e a garantia pública de arrendamento por parte do Estado, caso o inquilino deixasse de pagar as rendas”, lamenta.
Ora tanto uma como outra medida “não têm impacto algum”. “Primeiro, porque as autarquias não estavam a avançar com o arrendamento forçado, devido às dúvidas jurídicas existentes. Depois, revogar o ónus que recaía sobre o Estado para se assumir como senhorio quando os inquilinos não pagavam as rendas até é um alívio para o Governo”, explica o líder da ALP. “Isto é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”, lamenta.
Quanto à descida do IVA para 6% no caso de obras de reabilitação e construção de habitação, Menezes Leitão considera a “medida positiva”, mas critica o longo prazo para a sua implementação: “até ao final da legislatura, ou seja só lá para 2028”.
De recordar que, neste momento, as obras de recuperação já beneficiam da taxa mínima do IVA, desde que os imóveis estejam localizados em zonas de reabilitação urbana ou tenham um contrato com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) ou estejam integrados em regimes especiais de apoio financeiro ou fiscal à reabilitação de edifícios, tal como o ECO já noticiou.
António Machado, da Associação dos Inquilinos Lisbonenses, considera que o programa de habitação é “curto e contestável”. Em declarações à RTP3, indica que faltam medidas para “regular e fiscalizar o mercado”.
E destaca uma proposta em particular: a redução do IVA. “Há que garantir que a redução do IVA não é absorvida pelos agentes do mercado”, defende. A associação dos inquilinos espera agora fazer parte do grupo de trabalho que será criado.
Alojamento Local aplaude fim da contribuição extraordinária
Em relação ao fim da contribuição extraordinária sobre o Alojamento Local de 15%, criada pelo Mais Habitação, o presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), Eduardo Miranda, congratula-se com a medida, mas aguarda pelos detalhes da proposta.
“Vemos como positivo que o Governo indique um prazo para resolver os principais pontos que ameaçam o setor, com as medidas do Pacote Mais Habitação”, sinaliza Eduardo Miranda. De salientar, que o Executivo promete aprovar a proposta de revogação da taxa sobre o Alojamento Local em 10 dias. Eduardo Miranda prefere não se alargar em mais comentários, uma vez que “a informação é escassa.
“Vamos aguardar com serenidade para ver a proposta concreta“, indica, acrescentando que “o acordo que a associação fez com o PSD, no ano passado, envolvia ainda outros tópicos”, sublinhou, sem explicitar quais.
(Artigo atualizado às 18h47)
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