Bancos centrais do euro acumulam perdas de 57 mil milhões
Subida das taxas de juro está a provocar perdas milionárias aos bancos centrais em todo o mundo. Banco de Portugal anuncia hoje perdas de mil milhões. Na Zona Euro, fatura ascende a 56 mil milhões.
O ministro das Finanças recebeu com surpresa os prejuízos operacionais de mais de mil milhões de euros que o Banco de Portugal se prepara para revelar apenas esta quinta-feira. Mas os resultados dos outros bancos centrais da Zona Euro também estão bem no vermelho por conta da subida das taxas de juro.
Mário Centeno vai anunciar esta manhã que o banco central que lidera teve de usar provisões de 1.045 milhões de euros para cobrir prejuízos resultantes do aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE), com o objetivo de levar o resultado do exercício a zero, segundo adiantou o Jornal de Negócios.
Embora a notícia tenha surpreendido Joaquim Miranda Sarmento, as contas negativas do Banco de Portugal eram de alguma forma expectáveis. O próprio governador já tinha avisado há um ano que o Banco de Portugal ia “entrar numa fase de resultados negativos”, sinalizando que não vai haver dividendos nos próximos tempos.
Na altura, Centeno sublinhou que os resultados negativos não trazem “nenhuma perturbação para o Banco de Portugal, economia portuguesa, e de o banco prestar apoio ao sistema financeiro e preservar o interesse geral, que é reduzir a inflação”.
O banco central português conta com uma almofada de provisões de quase quatro mil milhões para enfrentar as perdas. Ou contava. Acabou de gastar mil milhões para fazer face às perdas registadas em 2023 e agora sobram outros três mil milhões. Centeno assegurou há um ano que as provisões que o Banco de Portugal tem “serão suficientes para a evolução expectável deste processo”.
Euro perde 56 mil milhões
Centeno não está sozinho nestas dificuldades. Por conta da ação do BCE para combater a escalada da inflação, o próprio BCE e outros 12 dos 20 bancos centrais nacionais do Eurosistema que já apresentaram contas referentes à atividade do ano passado revelaram perdas acumuladas na ordem dos 56 mil milhões de euros, segundo dados compilados pelo ECO.
Como fez o Banco de Portugal, alguns bancos centrais “taparam” as perdas com recurso à almofada de provisões que construíram nos últimos anos, evitando resultados líquidos negativos.
Quem perdeu dinheiro?
Fonte: Bancos centrais
No BCE foram usadas provisões de 6,6 mil milhões de euros para tapar perdas, mas nem isso impediu que as contas fossem para o vermelho: os prejuízos ascenderam a 1,3 mil milhões de euros no ano passado.
Bundesbank (Alemanha) e Banque de France (França) foram ainda mais penalizados pelo aperto da política monetária do banco central liderado por Christine Lagarde: o banco central alemão teve de ir ao cofre buscar mais de 21 mil milhões de euros (em provisões e reservas) para “zerar” o resultado, enquanto o banco central francês usou provisões no valor de 12,4 mil milhões de euros com o mesmo objetivo.
Já os bancos centrais da Bélgica e dos Países Baixos encerraram as contas de 2023 com prejuízos acima dos três mil milhões de euros, com o banco belga (de capitais privados) a avisar que espera prejuízos de mais de seis mil milhões nos próximos cinco anos.
Ainda há bancos a lucrarem
A maioria destas perdas resulta do programa de estímulo do BCE da última década para estimular a inflação e o crescimento económico. O banco central da Zona Euro injetou liquidez nos bancos e esse excesso de 3,5 biliões de euros ainda circula no sistema.
A situação inverteu-se nos últimos anos. Com a subida das taxas de juro para enfrentar a inflação, o BCE está a pagar uma taxa de depósito de 4% quando essa liquidez é depositada de volta no banco central, enquanto os títulos de dívida pública rendem muito menos, situação que está a resultar em perdas milionárias para os bancos centrais.
O Morgan Stanley estima que o BCE e os bancos centrais nacionais do euro enfrentem perdas de 62,2 mil milhões de euros este ano, que deverão recuar para 12,3 mil milhões em 2025.
No meio de tantos prejuízos, ainda há bancos centrais com contas no verde: o Banco da Grécia registou um lucro de 98,7 milhões de euros e aproveitou para reforçar as provisões em mais de 70 milhões. O Banco da Lituânia lucrou 23,6 milhões. Já o Banco da Estónia teve lucro zero porque aumentou a almofada financeira em 87 milhões. O mesmo se passou com o Banco de Malta.
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