“Na Corticeira Amorim, o aumento dos juros não penaliza a decisão de investir”, diz CFO
A administradora financeira da Corticeira Amorim garante que "o aumento das taxas de juro vem penalizando a conta de resultados, mas não a decisão de investir".
Cristina Rios Amorim, administradora financeira da Corticeira Amorim, considera que “estão reunidas as condições para se assistir ao corte das taxas de juro diretoras”, embora “receie que, no curto prazo, esse corte não seja expressivo”. A candidata ao prémio de melhor CFO dos Investor Relations and Governance Awards, da consultora Deloitte, garante que os planos de investimento da empresa não foram penalizados.
A persistência de taxas de juro mais elevadas por mais tempo é o principal desafio que os CFO irão enfrentar este ano? Que outros destacaria?
O aumento das taxas de juro, uma das medidas visando o controlo e redução da inflação, colocaram a todos os agentes económicos dificuldades acrescidas e obrigaram a maior rigor na gestão financeira, com reflexos no consumo e no investimento. Com a aparente estabilização da taxa de inflação em níveis consentâneos com os preconizados pelas autoridades financeiras, julgo que estão reunidas as condições para se assistir ao corte das taxas de juro diretoras, embora receie que, no curto prazo, esse corte não seja expressivo.
Como é que a empresa se adaptou a este contexto de taxas de juro mais altas? Os níveis de investimento tiveram de ser revistos? Foi necessário cortar custos?
Na Corticeira Amorim, o aumento das taxas de juro vem penalizando a conta de resultados, mas não a decisão de investir. Aliás, coincidiu com um período de fortes investimentos, porque o plano de investimento decorre da estratégia e da visão que temos do negócio a longo prazo: a expansão da atividade, o reforço das vantagens competitivas, o desenvolvimento tecnológico, a eficiência dos processos e a capacitação das nossas pessoas. A acrescer, adquirimos participações relevantes na Saci (50%), no Grupo VMD (55%) e mais um importante ativo florestal – a Herdade de Rio Frio.
Registámos um aumento da dívida e, neste enquadramento, um relevante aumento do custo da dívida. A Corticeira Amorim monitoriza e gere ativamente o seu perfil de dívida, nomeadamente em termos de distribuição entre curto e médio-longo prazos, estrutura de maturidades e o mix taxa variável vs taxa fixa. Nesse âmbito, a Corticeira Amorim dispunha, à data de fecho do exercício de 2023, de um relevante montante de 83,3 milhões de euros de financiamento a taxa fixa, contratado a médio-longo prazo, que nos permitiu registar, em termos consolidados, um all-in-cost da dívida inferior ao nível das Euribor, apesar do aumento da dívida ocorrido.
Uma parte significativa deste endividamento (quase 40%) está, também, alinhado com a nossa estratégia ESG e, por isso, é financiamento sustentável, implicando o cumprimento de condições mais abrangentes do que as inerentes aos financiamentos tradicionais, nomeadamente critérios sociais e ambientais. Com vantagens comparativas interessantes, são também ferramentas eficazes para apoiar o crescimento económico sustentável, tanto nas nossas próprias operações como na cadeia de valor. Em 2023, promovemos a primeira linha de financiamento ESG para fornecedores de matéria-prima cortiça em parceria com a Caixa Geral de Depósitos, que podem beneficiar de um desconto no spread de financiamento em função do desenvolvimento das práticas ESG e de gestão florestal, visando incentivar os fornecedores a adotar práticas de gestão responsáveis e sustentáveis, contribuindo assim para um impacto ambiental e social mais positivo.
Que impacto é que os avanços na inteligência artificial poderão ter no negócio?
Vejo os avanços da inteligência artificial com otimismo. Conhecemos já o valor das suas aplicações mais correntes, como o tratamento de dados, a automatização de tarefas repetitivas, otimização de tempos e métodos, auxiliando na tomada de decisões e contribuindo para a redução de riscos e de custos.
Como é que os temas do ESG estão a mudar o papel dos CFO?
Os temas ESG estão a mudar – mudaram já – a definição de empresa, alterando substancialmente as responsabilidades tradicionais dos seus principais gestores, incluindo as do CFO. O alinhamento da nossa atividade pelos ODS, tomando também em conta as expetativas dos nossos stakeholders, as metas ESG que estabelecemos para os nossos resultados ambientais e sociais, obrigam a uma atuação concertada a todos os níveis da empresa e disclosure detalhado verificável.
Apesar da complexidade na sua implementação, o novo quadro regulatório europeu para a sustentabilidade é uma oportunidade para uma avaliação sistemática dos temas materiais associados à atividade da empresa. Não trazendo práticas ou estratégias novas, propõe um disclosure mais estruturado e abrangente, uma visão holística do negócio, integrando toda a atividade e todos os seus impactos: na própria empresa, na cadeia de valor, na sociedade e no planeta.
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