Inapa vai entregar já amanhã pedido de insolvência em Portugal
Distribuidora de papel vai formalizar esta sexta-feira o pedido de insolvência em Portugal, cinco dias depois de avançar com o processo na Alemanha para a subsidiária Inapa Deutschland.
Depois de ter apresentado a sua unidade alemã, a Inapa Deutschland, à insolvência esta segunda-feira, dia 22 de julho, a Inapa IPG deverá entregar amanhã o pedido de falência em Portugal, apurou o ECO. A distribuidora de papel tinha comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que o colapso na Alemanha era inevitável, uma vez que não conseguiu aprovação da Parpública, o seu maior acionista, para uma injeção de emergência de 12 milhões de euros, e teria repercussão na atividade da holding, puxando-a também para a falência.
“Atentos os impactos imediatos que a apresentação à insolvência da Inapa Deutschland terá na Inapa IPG, o Conselho de Administração da Inapa IPG reuniu e analisou a sua situação financeira, tendo concluído pela consequente e iminente insolvência da Inapa IPG, pelo que deliberou também apresentar a Inapa IPG à insolvência nos termos da lei portuguesa, o que será formalizado nos próximos dias“, lê-se num comunicado, publicado no dia 21 de julho.
O desfecho “surpreendente” do grupo surge depois de a Inapa ter comunicado à Parpública, que detém cerca de 45% do capital, que precisava de uma injeção de 12 milhões de euros, dos quais nove ficariam a cargo do Estado, para fazer face a “uma carência de tesouraria de curto prazo da sua subsidiária Inapa Deutschland, GmbH (“Inapa Deutschland”)”. Sem solução de financiamento, uma vez que as Finanças vetaram a injeção de fundos, por considerarem que faltava “estratégia de recuperação” e garantia de “ressarcimento do Estado”, a administração, que entretanto se demitiu, decidiu avançar com a falência na Alemanha e em Portugal, indicando apenas que o processo seria formalizado “dentro de dias”.
Segundo apurou o ECO junto de fonte próxima da empresa, este pedido de insolvência será realizado esta sexta-feira, cinco dias após a falência na Alemanha.
O colapso do grupo de distribuição de papel, que tem também atividades na área das embalagens e da comunicação visual, deixa em risco os mais de 1.400 colaboradores que trabalham para a empresa nas dez geografias onde mantém atividade.
Com a maior participação nas mãos do Estado, através da Parpública, com cerca de 45% do capital, a Inapa tem ainda o Novobanco como acionista, com 6,55%, e a Nova Expressão detém 10,85% do capital, segundo a informação relativa ao final de 2023. Já os restantes 37,7% do capital da Inapa, cuja capitalização bolsista atual é de 15,47 milhões de euros, estão nas mãos de pequenos investidores.
Colapso do papel, juros e Alemanha afundam Inapa
Apesar de ter sido a operação alemã a atirar a Inapa para a falência, a companhia já vinha a debater-se com o colapso do negócio do papel, uma dívida grande de mais para a sua dimensão – que se tornou mais pesada com a subida dos juros –, custos mais elevados fruto da inflação e ainda um travão na procura.
A empresa fechou o último ano com um prejuízo de oito milhões de euros em 2023, que compara com os lucros de 17,8 milhões no ano anterior. A margem bruta ascendeu a 18,1% das vendas, 1,9 pontos percentuais abaixo do registo passado.
Numa mensagem na apresentação destes resultados, o presidente destacava que, “a nível setorial, registou-se uma quebra substancial na procura de papel, associada a um processo de destocking ao longo de toda a cadeia de valor, mas também a uma redução efetiva da procura”, acrescentando que, “em termos de performance, as receitas em 2023 foram 969 milhões de euros, o que representa uma redução de 243 milhões de euros face a 2022″.
Os números partilhados pela empresa na apresentação de resultados confirmam a evolução muito negativa no negócio do papel. Segundo refere a empresa, “na Europa Ocidental, em 2023, a redução no consumo de papel para artes gráficas, escrita e impressão foi, segundo a EuroGraph (European Association of Graphic Producers) de 25,4% (no primeiro semestre a redução foi de 29,9%). Essa redução afetou a procura de papéis revestidos (coated woodfree) e não revestidos (uncoated woodfree).” Em termos globais, o decréscimo do consumo de papel na Europa Ocidental comparativamente com o período pré-pandemia foi de cerca de 40%.
O elevado endividamento face à sua dimensão é um dos problemas estruturais da empresa ao longo dos últimos anos e que levou a que vários credores da empresa, como o BCP ou o Novobanco, acabassem por tornar-se acionistas de referência. A CGD, que vendeu em 2019 a totalidade da sua participação de 33% ao Estado por 15,8 milhões de euros, era até à entrada da Parpública o maior acionista.
No final do ano passado, a dívida líquida situava-se em 207 milhões de euros, representando uma redução 14 milhões de euros face ao período homólogo de 2022, quando estava nos 221 milhões de euros. Apesar desta descida, os custos com juros dispararam, a refletir o aumento de 450 pontos base das taxas e juro, nos últimos dois anos. Os custos financeiros passaram de 16 para 20 milhões de euros, no final de 2023.
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