Concurso de armazenamento com 76 candidaturas e triplo da procura. Empresas pedem regulação que acomode novas baterias

O aviso lançado pelo Governo, e que encerrou esta semana, é bem recebido pelo setor. Mas falta ainda o regulamento regulatório adequado para este tipo de soluções proliferar, assinalam as energéticas.

O concurso de quase 100 milhões de euros para promover a flexibilidade e o armazenamento na rede elétrica fechou esta segunda-feira, com 76 candidaturas, que representam uma capacidade de armazenamento quase três vezes superior à do aviso, informa o Ministério do Ambiente e Energia. Os promotores consultados pelo ECO/Capital Verde aplaudem a iniciativa, mas deixam alertas quanto à necessidade de afinar a regulação e de trabalhar o licenciamento, de forma a ser menos demorado.

“Foram submetidas 76 candidaturas (…) que ascendem a uma capacidade de armazenamento quase três vezes superior à do aviso (500 MW)”, indica o Ministério do Ambiente e Energia, questionado pelo ECO/Capital Verde. As candidaturas seguirão agora para validação e as que forem consideradas válidas prosseguem para análise, de acordo com os termos do aviso.

O objetivo do aviso é investir 99,75 milhões de euros na instalação de pelo menos 500 megawatts (MW) de capacidade de armazenamento de energia na rede elétrica, sendo que o projeto deve estar concluído até ao final de dezembro de 2025. Os projetos serão apoiados até 20% dos custos elegíveis.

Entre os representantes do setor contactados pelo ECO/Capital Verde, é unânime a importância de lançar este procedimento. Soluções de flexibilidade e armazenamento são “essenciais na otimização da integração de energias renováveis” a rede e para a estabilidade da mesma, realça o diretor de Desenvolvimento de Negócio da Statkraft, João Schmidt. A Statkraft não participou este aviso, mas afirma-se atenta “a futuras oportunidades que possam surgir”.

Em relação a este concurso, alguns dos promotores apontam um calendário apertado. O aviso esteve aberto entre o dia 31 de julho e o dia 9 de setembro. A BNZ, apesar de ter apresentado três projetos, num total de 100 megawatts-hora (MWh), reconhece “alguns constrangimentos de agenda no que respeita ao convite à apresentação de candidaturas e ao curto prazo para apresentação das mesmas”. A mesma dificuldade acabou por travar a Endesa. “Infelizmente, o prazo concedido para a preparação de candidaturas inviabilizou a preparação pela Endesa de alguma proposta adicional”. Os projetos que tem atualmente nesta área não são compatíveis com o aviso, que exige a entrada em exploração até ao final de 2025.

"A probabilidade de faltar boa regulamentação para o desenvolvimento e implementação de projetos é alta.”

Luís Selva

Diretor-geral da BNZ

Apesar do mérito do incentivo, há dois desafios que o setor destaca como barreiras a que a indústria das baterias avance em Portugal. O setor assinala diversas dificuldades no que diz respeito à regulação. “A probabilidade de faltar boa regulamentação para o desenvolvimento e implementação de projetos é alta“, indica o diretor-geral da BNZ, Luís Selva, que considera fundamental haver “um protocolo de exploração bem definido, que facilite a implementação e adoção desta tecnologia”. A Endesa sublinha que falta ainda um enquadramento legal “claro” para as soluções de armazenamento com baterias, especialmente se desenvolvidas numa lógica stand alone (baterias que nascem para servir o sistema em vez de estarem associadas a uma produção ou cliente específicos).

A Endesa critica ainda a ausência de uma retribuição regulada para os serviços que as soluções de armazenamento podem prestar.

A elétrica espanhola critica ainda a ausência de uma retribuição regulada para os serviços que as soluções de armazenamento podem prestar. Uma bateria, além de armazenar e fornecer energia, pode ser usada para regular a frequência e tensão da rede ou pode ser chamada a contribuir quando, após por exemplo um apagão, a rede “recomeça” do zero. Fonte do setor, que preferiu não ser identificada, entende que um incentivo à operação seria mais interessante para os operadores do que um incentivo ao investimento, como é o caso deste aviso, tendo em conta a quebra que prevê no preço das baterias — o que pode anular o benefício aqui concedido num futuro próximo –, mas também numa ótica de previsibilidade de receitas.

"A introdução de novas tecnologias no fabrico de baterias, como de fluxo e de iões de sódio, deverá trazer soluções muito competitivas no mercado no médio prazo.”

Pedro Antão Alves

Diretor de Vendas da Helexia

A Helexia alerta precisamente para o preço atual das baterias, “que é ainda elevado pois compete com a indústria automóvel na absorção da produção”, que é maioritariamente baseada na tecnologia de iões de lítio e suas derivadas. “A introdução de novas tecnologias no fabrico de baterias, como de fluxo e de iões de sódio, deverá trazer soluções muito competitivas no mercado no médio prazo“, prevê Pedro Antão Alves, diretor de Vendas da Helexia em Portugal. Este promotor não participou neste aviso porque os destinatários são as centrais de produção de energia centralizada, embora assinale que tem capacidade de investir em projetos de armazenamento de energia.

Ainda numa ótica regulatória, o diretor de Desenvolvimento de Negócio da Statkraft defende que “o principal desafio poderá passar pela definição estratégica, pelo operador do sistema, de pontos de ligação ótimos para sistemas de armazenamento e flexibilidade”. Acredita também que será necessária uma modernização de sistemas de controlo e supervisão, garantindo uma gestão eficiente e otimização da operação da infraestrutura existente.

"O principal desafio poderá passar pela definição estratégica, pelo operador do sistema, de pontos de ligação ótimos para sistemas de armazenamento e flexibilidade.”

João Schmidt

Diretor de Desenvolvimento de Negócio da Statkraft

Por fim, surge um entrave já crónico na área das renováveis: a “morosidade” do licenciamento de energias renováveis e também de projetos de armazenamento, assinala a Endesa. “O principal desafio neste momento é simplificar e acelerar os processos de licenciamento“, afirma o diretor-geral da BNZ, Luís Selva. “Ainda há margem para simplificar processos”, reforça Schmidt.

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