É “impossível” alargar frota de autocarros 100% elétricos em Portugal, diz Flixbus
A empresa que lançou em setembro o primeiro autocarro de longa distância 100% elétrico em Portugal afirma que as limitações da rede de carregamento não permitem pensar num alargamento da frota.
Depois de ter estreado, em setembro, a primeira rota entre Lisboa e Porto que é percorrida por um autocarro 100% elétrico, a Flixbus indica ao ECO/Capital Verde que “é impossível” estender a iniciativa devido às limitações da rede de carregamento em Portugal.
“Neste momento é impossível pensar num alargamento da frota”, afirma Pablo Pastega, vice-presidente na Flixbus para a Europa Ocidental, em declarações ao ECO/Capital Verde. “Podemos pensar em ter mais dois ou três autocarros 100% elétricos, mas, com as condições atuais, não é possível fazer mais do que isso. Isto porque falta, em Portugal, uma rede de postos de carregamento”, explica o mesmo responsável.
De acordo com Pastega, a rota que a empresa inaugurou recentemente só foi possível dado o apoio dos parceiros, AV Feirense e EDP, que fornece energia através de um ponto de carregamento nas instalações em Sacavém.
O autocarro operado pela Flixbus, da marca chinesa Yutong, tem autonomia para cerca de 400 quilómetros e tem realizado duas viagens por dia, uma em cada sentido, sete dias por semana. É carregado no final de cada viagem, sendo que o carregamento demora, em média, duas horas e 45 minutos a passar dos 20% aos 100%. A viagem tem decorrido sem problemas a assinalar, garante a Flixbus.
“É importante que as autoridades competentes, sejam nacionais ou locais, pensem estrategicamente na questão da descarbonização dos transportes, de forma a termos terminais preparados para o carregamento de autocarros de longa distância – os chamados expressos”, remata. Como exemplo positivo, aponta Leiria, cujos planos para o novo terminal incluem postos de carregamento elétricos para os expressos. “Leiria será a primeira cidade a disponibilizar esta infraestrutura, já a partir de 2025”, diz.
Mais do que interferir com os desígnios desta empresa, “sem uma rede de abastecimento que cubra o país todo, independentemente da fonte de energia, não vai ser possível pensar em atingir essas metas [do Plano Nacional da Energia e Clima 2030]”, afere o responsável. As metas só são realistas, na sua opinião, se houver um plano estratégico para as atingir.
Financiamento público aquém
Além do entrave da infraestrutura, o representante da Flixbus aponta ainda a falta de apoios: “Não há qualquer tipo de apoio para os autocarros de longa distância”, sendo que o financiamento à aquisição de frotas limpas apenas está disponível para estes autocarros urbanos e interurbanos. E um autocarro de longa distância 100% elétrico custa o dobro de um autocarro a gasóleo, estima. Outra medida que sugere como incentivo é a redução das portagens para os veículos com menos emissões.
Questionado sobre se a Europa está a falhar na promoção da fileira das baterias, tendo em conta também a recente instabilidade em torno das finanças da sueca Northvolt, onde o respetivo Governo recusa injetar capital, Pastega concede que “sem um desenvolvimento adequado para a transição, por exemplo, através de financiamento público, será difícil para o setor descarbonizar-se”. Considera que “é obviamente importante que as autoridades competentes salvaguardem a investigação e o desenvolvimento de tecnologias e combustíveis alternativos para apoiar a transformação do setor dos transportes”.
Não são só elétricos
A FlixBus tem vindo a testar cinco tecnologias alternativas de combustível e de propulsão. Desde 2018 que a transportadora tem testado autocarros alimentados a eletricidade, biogás e biofuel, possuindo também vários autocarros equipados com painéis solares.
Em breve, a Flixbus vai lançar o primeiro projeto de pilha de combustível de hidrogénio da Europa, um projeto em parceria com a Freudenberg Fuel Cell e-power Systems e a ZF Friedrichshafen AG, mas fá-lo fora das fronteiras portuguesas. Apesar das dificuldades, a transportadora considera que os autocarros de longa distância a funcionar com baterias elétricas são os que mais facilmente podem ser implementados por cá.
Estas iniciativas inserem-se no compromisso da Flix de descarbonização total da frota na Europa até 2040. Estando comprometida com a iniciativa SBTi (Science-Based Target Initiative), a empresa de transporte tem de reduzir as emissões de âmbito 1 e 2 (ou seja, as diretamente geradas pela Flix) em cerca de 54% até 2032.
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