Setor eólico europeu alerta para custos das emissões de carbono na importação
A cobrança de um valor associado às emissões de carbono implícitas nas importações terá impacto no setor eólico europeu, assinala associação, com base num estudo.
O aperto do controlo das emissões nas importações para a União Europeia está a dificultar a vida à indústria eólica, afirma a associação empresarial WindEurope. Os custos “extra” decorrentes destas alterações legislativas podem chegar a pesar quase um milhão de euros no custo de produzir uma turbina para gerar energia eólica offshore — a partir do mar –, de acordo com um estudo apresentado pela associação. A mesma aponta riscos no que toca ao apetite para o investimento, dada a maior imprevisibilidade, mas também no volume de exportações.
O Mecanismo de Ajustamento Carbónico Fronteiriço (CBAM, na sigla em inglês) é um mecanismo que prevê que passem a ser contabilizadas as emissões de carbono associadas aos produtos importados pela União Europeia, e que essas passem a ter um custo. É apenas para 2026 que está planeado o “verdadeiro” arranque do CBAM, isto é, quando passarão a existir pagamentos associados às quantidades reportadas. Até lá, estão previstas apenas exigências ao nível do reporte. Mas o que aí vem já parece estar a preocupar as empresas.
À medida que as licenças de emissão de dióxido de carbono encolhem e começa a ser aplicado este mecanismo de carbono na fronteira, “praticamente todos os aspetos da cadeia de valor da energia eólica vão ser impactados“, afirmou Eamonn Lawler, diretor na Penta Energy, na apresentação do estudo encomendado pela Windeurope à consultora EY e ao Penta Group, designado “O Impacto do CBAM no Setor da Energia Eólica na Europa”.
Só uma turbina usada na geração de energia eólica offshore pode contar com uma inflação, decorrente da aplicação do CBAM, de até 910 mil euros, estima o estudo, assumindo o cenário mais gravoso, no qual as licenças de carbono chegam a valer 200 euros por tonelada — esta segunda-feira rondavam os 60 euros. O mecanismo “pesa” sobre materiais base para a construção das turbinas eólicas, com é o caso do aço, alumínio e cimento, mas também sobre o fabrico das mesmas, explica o estudo.
De acordo com as conclusões do documento, o CBAM cria assimetrias na competição entre os fabricantes europeus e os países terceiros. Os europeus “não vão estar aptos a passar o preço do carbono nos mercados internacionais” pelo que “há o risco de as exportações da União Europeia saírem prejudicadas”.
A WindEurope realça, ainda, que o CBAM está a tornar mais difícil fazer o planeamento do negócio e dos investimentos, em toda a cadeia de valor, dada a dificuldade em estimar os custos futuros associados à diminuição das licenças de carbono e com as certificações CBAM. Isto, quando a União Europeia avançou metas no sentido de aumentar a fatia de energia eólica no seu mix energético, para os 35% em 2030.
A pressão do CBAM chega numa altura em que a indústria afirma estar a viver uma conjuntura difícil, tendo em conta a inflação, taxas de juro mais elevadas e longos tempos de espera para a ligação de projetos à rede elétrica. Por outro lado, sente-se a pressão da parte da China, cujos fabricantes oferecem preços mais baixos.
Ainda assim, de acordo com o gabinete de estatística europeu Eurostat, o saldo comercial das turbinas eólicas é positivo e melhorou em 2023, face a 2022: as importações de turbinas eólicas afundaram-se 66% em valor e 68% na quantidade, enquanto as exportações subiram 26% em quantidade e 49% em valor, atingindo os 2 mil milhões de euros.
Setor pede tempo e melhorias à CE
Neste cenário, a associação do setor considera que a Comissão Europeia deve considerar “ajustes técnicos” ao CBAM e procurar apoiar a indústria, tendo em conta as “pressões inflacionárias” de que esta é alvo. Ao mesmo tempo, a WindEurope apela a que exista uma simplificação e acompanhamento do setor na aplicação das exigências do mecanismo e que exista uma colaboração internacional para alinhar o preço do carbono. A associação deixa ainda a um apelo que seja concedido mais tempo para preparar a aplicação do regime.
Já no que diz respeito à própria indústria europeia, o estudo aconselha que que esta aposta na relação com os fornecedores e na obtenção de dados fiáveis no que toca às emissões. Em paralelo, é aconselhável a elaboração de estratégias de gestão de risco no que diz respeito aos diferentes cenários para o CBAM.
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