Operadoras apostam em marcas “low-cost” para concorrer com a Digi

Uzo, Woo e Amigo são três marcas "low-cost" detidas por Meo, Nos e Vodafone. Estas poderão vir a assumir um papel importante na concorrência à Digi, que em breve se estreará no mercado português.

A chegada da nova operadora Digi ao mercado português vai mexer com o setor das telecomunicações, onde três grandes empresas com redes próprias se batem por atrair e reter o maior número possível de clientes. A empresa romena, que há três anos comprou licenças 5G no leilão realizado pela Anacom, tem estado a trabalhar para oferecer uma “gama completa de serviços”, sendo principalmente conhecida pelos preços mais baixos e curtos prazos de fidelização que pratica em Espanha. Nos bastidores, a concorrência já se posiciona para o que há de vir e uma das opções pode passar pelas marcas secundárias ditas low-cost: a Uzo, detida pela Meo; a Woo, que pertence à Nos; e o Amigo, que é da Vodafone.

A data de início da comercialização dos serviços pela Digi permanece em segredo e a empresa ainda não forneceu nenhuma informação concreta sobre a política de preços que vai seguir em Portugal. Por isso, a expectativa dos consumidores é muito elevada, estando bem visível nas centenas de comentários sobre a chegada da Digi que todos os dias são publicados por utilizadores em fóruns na internet e nas redes sociais. Acreditam que a Digi vai trazer mais concorrência ao mercado, em benefício dos consumidores.

Para as operadoras já estabelecidas, o aparecimento de mais um player ameaça a sustentabilidade financeira do setor e vai contra a tendência europeia, incluindo as recomendações do recentemente conhecido Relatório Draghi, que expôs as fragilidades da União Europeia em relação aos EUA e à China, incluindo nas telecomunicações.

Nos últimos meses, a Digi tem estado a realizar testes às suas redes fixa e móvel, com a instalação de fibra ótica nas casas de voluntários e a distribuição de cartões SIM. A empresa sabe que, para não frustrar os consumidores, terá de oferecer estabilidade nas suas redes e uma boa velocidade, mas também preços que sejam realmente mais baixos e períodos de fidelização mais curtos (em Espanha, para a Digi, três meses é a norma). Só que, para se apresentar como uma verdadeira alternativa às três grandes operadoras, também será necessário ter um serviço de televisão e um bom apoio ao cliente. Sobre este último ponto nada se sabe, mas, quanto à televisão, é público que a Digi tem tido dificuldades no licenciamento de alguns canais relevantes, embora a compra da Nowo em agosto, que ainda depende da aprovação da Autoridade da Concorrência, possa ter ajudado a desbloquear a situação.

Fontes da concorrência ouvidas pelo ECO admitem que a Digi até poderá surpreender os consumidores no arranque, devido ao descongestionamento das suas redes, mas alertam que eventuais problemas poderão só tornar-se evidentes mais tarde, quando a empresa tiver muitos mais clientes. Mas isso, naturalmente, ainda está por provar. E só com uma bola de cristal alguém poderia prever com exatidão o efeito que a Digi terá no mercado, nomeadamente, se os consumidores vão ou não aderir com a mesma força com que têm procurado a operadora no país vizinho.

É aqui que entram os alter ego — uma espécie de “outro eu” — das três principais operadoras de telecomunicações, Uzo (Meo), Woo (Nos) e Amigo (Vodafone). O ECO sabe que a aposta nestas marcas secundárias, que servem nichos de mercado específicos e se apresentam como alternativas low-cost e mais flexíveis, é uma das hipóteses em cima da mesa para concorrer com a Digi, pelo menos numa primeira fase, sendo percetível o aumento da visibilidade em campanhas publicitárias ou stands em centros comerciais. Deste modo, Meo, Nos e Vodafone poderiam continuar a apresentar-se como marcas com um serviço premium, até porque é sabido que a Digi, pelo menos para já, só terá ofertas para consumidores, deixando de fora os serviços para empresas.

Meo, Nos e Vodafone têm marcas low-cost que poderão ser úteis na estratégia contra a Digi

Do trio de operadoras low-cost, a Uzo é a mais antiga e, provavelmente, a mais conhecida do público em geral. Foi lançada em 2005 pela então TMN, pelo que está prestes a completar 20 anos. “PT lança nova operadora móvel simplificada”, noticiava o Jornal de Notícias nessa altura. “PT aposta na simplificação do tarifário e num serviço sem carregamentos obrigatórios”, escrevia também o Público em junho desse ano. Atualmente, a Uzo oferece fibra ótica e comunicações móveis por 35 euros por mês. Por 27 euros mensais, é possível contratar um serviço de internet com 1 Gbps (gigabit por segundo) de velocidade de download, indo ao encontro dos consumidores que só querem contratar internet. Pressupõe dois anos de vínculo contratual.

A Woo, detida pela Nos, nasceu em julho de 2020, em plena pandemia, e apresentou-se como “a primeira telco tech 100% digital em Portugal”, disponível “exclusivamente através de uma aplicação móvel”. Quatro anos depois, a marca também já tem stands em centros comerciais para captar novos clientes e fá-lo com uma oferta de fibra e móvel pelos mesmos 35 euros mensais. Novamente, um dos fatores de atratividade é a oferta de serviço fora de um pacote: “Temos o que precisas: Só net”, anuncia o portal da empresa.

O Amigo, da Vodafone, é a low-cost mais recente. “O Amigo é um novo operador virtual de telecomunicações, lançado no final de 2023, que funciona sobre a rede da Vodafone para responder a oportunidades de mercado identificadas na área dos serviços de comunicações digitais”, diz ao ECO fonte oficial da operadora. “Está vocacionado para clientes que procuram um serviço simplificado à medida das suas necessidades, a um preço competitivo e com total controlo de custos”, acrescenta. Pelos mesmos 35 euros por mês, o Amigo oferece comunicações móveis e fixas, tal como as duas outras concorrentes, e o padrão são os 24 meses de fidelização. Mas as três permitem outros períodos, como obriga a lei, apesar de cobrar algumas centenas de euros pela instalação no caso da internet fixa.

Nas questões enviadas pelo ECO às três operadoras de telecomunicações, com questões sobre as suas marcas low-cost, uma dizia respeito a possíveis alterações à estratégia dessas marcas com a chegada da Digi. Sem se referir diretamente ao futuro competidor, fonte oficial da Vodafone assume: “Estamos a testar novos serviços, preços e ofertas, pelo que será de esperar novidades para breve.”

Em relação à Uzo, fonte oficial da Meo diz tratar-se de “uma marca que se destaca no segmento das ofertas simplificadas e que hoje apresenta uma oferta móvel pré e pós paga, bem como uma oferta de internet fixa suportada e fibra”. “Assumindo-se como ‘a opção mais simples e inteligente do mercado’, a Uzo tem ampliado o seu portefólio, priorizando soluções simples e de fácil acesso, que respondam diretamente às necessidades dos nossos clientes, acompanhando sempre a evolução do mercado”, acrescentou.

Quanto à Woo, o seu diretor, João Lima Raposo, explica que a aposta da operadora está na “simplicidade, transparência e confiança”. “Os clientes da marca Woo começaram por ser pessoas mais digitais, mas neste momento a abrangência é maior quer de idades quer de geografias. São pessoas que necessitam de um serviço mais simples, um processo de adesão e gestão descomplicado, com uma boa qualidade de serviço e que querem pagar um preço justo pelo que realmente precisam”, indicou ao ECO.

“A evolução da Woo nos últimos anos tem sido muito positiva, tanto em número de clientes, onde temos crescido de forma continuada ao longo destes quatro anos, como em termos de satisfação”, continuou João Lima Raposo, reconhecendo que “tem havido uma evolução natural da marca, alargando o portefólio de oferta de forma a garantir ir ao encontro das necessidades dos clientes e também em dimensão da base de clientes”. Para o responsável, “é normal que esta evolução orgânica continue”.

Por fim, quanto à Digi, o challenger que se vai estrear no mercado, sabe-se que estará para breve o lançamento, mais não seja porque a empresa está obrigada por lei a iniciar a exploração comercial do 5G até ao final de novembro. Esta obrigação legal deriva do leilão de frequências do 5G, finalizado em 2021, que dava um prazo de três anos às operadoras para começarem a oferecer serviços. A pressão é grande, até porque os potenciais clientes já estão impacientes: como reparou o ECO na altura, em janeiro deste ano, num fórum na internet, um utilizador brincava que a Digi “está a tornar-se uma espécie de D. Sebastião das telecomunicações”.

(Notícia atualizada pela última vez às 14h23)

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