Dez números que mostram o valor da floresta e o desafio de a gerir

O valor económico total da floresta nacional, sem contabilizar os custos dos incêndios, é de 2,24 mil milhões de euros.

A floresta portuguesa tem valor económico e está subaproveitado — é isso que garantem os atores e académicos que se movem neste setor. “A economia pode e deve ajudar a salvar a floresta portuguesa”, sendo um “eixo fundamental” para a valorização do território, afirmou o secretário de Estado da Floresta, Rui Ladeira, numa conferência organizada pelo ECO.

Na mesma ocasião, os vários intervenientes, dos setores da sivicultura, da biomassa e da indústria papeleira, foram revelando diversos números que ilustram o valor económico que a floresta representa. Conheça-os abaixo.

2,24 mil milhões

O valor económico total da floresta nacional, sem contabilizar os custos dos incêndios, é de 2,24 mil milhões de euros, de acordo com o estudo ECOFOR – Valorização Económica dos Bens e Serviços dos Ecossistemas Florestais de Portugal, que se debruça sobre o período entre 2014 e 2019.

O estudo foi apresentado pela professora universitária na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Lívia Madureira, que considera essencial que “proprietários e agentes económicos possam capturar valor”.

90%

A maior parte da área florestal no país é privada, salienta o diretor da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, António Marques. “Parece que é proibido falar de economia, de investimento privado, quando temos 90% da área [florestal] é privada”, comentou.

Entre estes proprietários, tanto existem produtores que procuram extrair valor dos terrenos, mas também aqueles que possuem apenas “pedras que tiveram o azar de herdar”, contrasta o mesmo responsável associativo.

0,57

A área média da propriedade em Portugal é de 0,57 hectares. “O problema da floresta portuguesa a norte do Tejo é a pequena propriedade”, identifica o líder da Toscca, assumindo que desta forma “ninguém vai investir”, pois “é inviável fazer o que quer que seja” com uma propriedade destas dimensões.

O diretor da CAP afirma que os proprietários chegam a agregar-se, e a fazer um plano de gestão florestal para determinada área, mas “vai a ver-se e nada”. Aponta um problema de falta de financiamento, em que este só é atribuído numa fase inicial mas não chega a sustentar o funcionamento.

2,3 milhões

A Navigator foi afetada pelos incêndios de setembro. A área ardida ficou um pouco acima da média histórica de 1,5% — chegou aos 2% da sua área florestal. Isto corresponde a cerca de 2,3 milhões de euros de perdas líquidas, estimou Nuno Neto, diretor de Património e Produção Florestal da Navigator.

No entanto, acrescentou, o maior impacto dos incêndios não é sentido no próprio ano em que ocorrem, mas sim nos anos seguintes. Este impacto traduz-se na madeira que não é aproveitada, no tempo de crescimento que se perdeu e também no cenário de crescente descrença e abandono, que reduz a produtividade.

10 milhões

Na Navigator, indicou, trabalha-se 12 meses do ano no combate a incêndios. No combate em si, são gastos cerca de 3,5 milhões de euros anualmente, enquanto o investimento em prevenção é de 7 a 10 milhões de euros.

“Nós temos um investimento florestal gigantesco todos os anos em Portugal”, sublinhou o gestor da Navigator, contabilizando os gastos em aviões, carros de combate e reconstrução de casas. A alocação de parte desses recursos quando chove, isto é, em épocas de baixo risco de incêndio, “pagaria muitos hectares de limpeza de combustíveis finos”. O gestor considera ainda que o Fundo Ambiental, um dos fundos de maior dotação do Estado, “está subutilizado” nesta vertente.

18%

O eucalipto tem um peso de 18% nas áreas que mais ardem, apontou Gonçalo Almeida Simões, diretor-geral da Biond. Já olhando ao eucalipto “bem gerido”, apenas 2% arde, afunilou.

Essa é uma das espécies que mais atrai os investidores, que tem maior rendibilidade e que é das mais resistentes aos incêndios quando é bem gerida“, defendeu o diretor-geral, ao mesmo tempo que considerou estar-se a “discriminar uma espécie”, e que “essa questão devia ser repensada”.

30%

O diretor de Sustentabilidade e Floresta da Sonae Arauco, Nuno Calado, estima que nos terrenos de menor dimensão geridos pela sua empresa os custos são 25% a 30% mais caros, em comparação com os terrenos de maior dimensão, sublinhando a importância da escala.

Por um lado, a Sonae Arauco gere propriedades de grandes áreas, na ordem dos 500 ou 1.000 hectares. Por outro, e com maiores custos, a empresa gere os chamados minifúndios, que só ocupam três a quatro hectares, usados para projetos de investigação e desenvolvimento. A diferença nos custos, de acordo com a escala, é sentida na hora de ir ao mercado contratar prestadores de serviço.

61

O diretor-geral da Centrais de Biomassa do Norte, Manuel Pitrez de Barros, recordou que, após os grandes incêndios de 2017, estava planeado o lançamento de centrais de biomassa com uma capacidade de 61 megawatts. No entanto, até ao momento, ainda nenhuma foi adjudicada”, lamentou.

O arquiteto paisagista Henrique Pereira dos Santos, ressalvou que as centrais de biomassa não produzem com a biomassa fina que se está a acumular no território e a “dar gás” aos incêndios. Pitrez de Barros contrapôs que as empresas que gerem estas centrais “fazem questão” de receber este material e valorizá-lo, apesar de não ter o mesmo poder calorífico.

58%

O défice de madeira do país é de 58%, indicou Pedro Pinhão, fundador da Toscca, uma empresa de equipamentos de madeira para exteriores. Esta empresa, importa metade da madeira que utiliza. “Com a floresta bem gerida, teríamos matéria-prima para todos e eventualmente por mais alguns“, remata.

Uma das formas de incentivar a plantação de árvores é colocar um valor na fixação de carbono, um dos grandes méritos da madeira, e que “terá de ser pago direta ou indiretamente por nós todos”, defende.

25

O secretário de Estado das Florestas, Rui Ladeira, garantiu que o plano de intervenção para as florestas, que o Governo lançou a 27 de setembro, estará pronto nos 90 dias seguintes ao lançamento, e que no 91.º dia estará pronto para a aplicação. A 25 de dezembro deste ano terminam esses 91 dias.

O Plano de Intervenção para a Floresta 2025, a designação oficial do referido plano, está a ser elaborado sob a alçada dos membros do Governo responsáveis pelas áreas governativas da coesão ­territorial, da justiça, do ambiente e da agricultura.

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