Auchan recusa responsabilidades no fecho de Minipreços franqueados. “Não comprámos lojas para encerrar ou despedir”

Nova dona do Minipreço diz ao ECO que “gestão das lojas e colaboradores é responsabilidade do franqueado - a todos os níveis”. Garante que “só haverá anulação de contratos no pior cenário possível”.

“Além de ‘militantes do bom, são e local’, são também fervorosos militantes da precariedade”. É desta forma que o Sindicato dos Trabalhadores das Grandes Superfícies, Armazéns e Serviços de Portugal (STGSSP) contesta o encerramento de supermercados por parte de franqueados do Minipreço, acusando a Auchan, a nova dona desta rede retalhista de ter “absorvido o inventário e mobiliário” dessas lojas, enquanto “descarta responsabilidades sociais” para com os trabalhadores.

Em declarações ao ECO, João Diogo, Chief Integration Officer da Auchan, justifica que “no âmbito do modelo de franquia, a gestão das lojas e dos seus colaboradores é da responsabilidade do franqueado – a todos os níveis”. E que essas unidades em regime de franchising, localizados no Porto e em Matosinhos, “encerraram por inviabilidade do respetivo franqueado”. Por outro lado, sendo “naturalmente” intenção da Auchan aumentar a sua rede franquia, nota que “só haverá anulação de contratos no pior cenário possível”.

“A Auchan assume por completo as responsabilidades dentro do seu âmbito de atuação, nomeadamente através do cumprimento de todos os procedimentos obrigatórios que visam zelar, não só pela organização, mas também pelos seus parceiros”, acrescenta o porta-voz do grupo francês, que em abril pagou 155 milhões de euros ao grupo Dia para ficar com as perto de 480 lojas Minipreço, além de 30 gasolineiras, quatro armazéns e uma loja digital.

Desde o momento da compra, foi encerrada uma loja própria Minipreço. Nenhum colaborador da Auchan Retail Portugal foi despedido. As restantes lojas encerradas são franqueadas, sendo a gestão dos colaboradores da responsabilidade do próprio franqueado.

João Diogo

Chief Integration Officer da Auchan

Desde o momento da compra, em que passou a ter cerca de 11 mil trabalhadores em Portugal, numa operação que visou “reforçar a posição” do grupo no formato de proximidade, em que já operava com a marca MyAuchan, e apostar no franchising, a Auchan diz ter encerrado apenas uma loja própria Minipreço, em “resultado da obrigatoriedade imposta pela Autoridade da Concorrência”.

“Todos os colaboradores foram realocados o mais perto possível da sua loja de origem, tomando em consideração as suas necessidades e preferências. Nenhum colaborador da Auchan Retail Portugal foi despedido. As restantes lojas encerradas são franqueadas, sendo a gestão dos colaboradores da responsabilidade do próprio franqueado”, resume o Chief Integration Officer do grupo de distribuição.

Estão previstos outros encerramentos e a saída de mais trabalhadores? “O propósito inicial desta aquisição mantém-se: gerar valor para todas as partes. A Auchan não comprou lojas com o objetivo de as encerrar e/ou despedir pessoas. O modelo futuro ainda está a ser definido, mas será assente nos mesmos princípios que motivaram este projeto”, responde João Diogo, esclarecendo que este processo de reestruturação ficará concluído até 2026.

Quando oficializou a compra do Minipreço, após receber o parecer de não oposição da Autoridade da Concorrência, a Auchan calculou um investimento de 100 milhões de euros no desenvolvimento e modernização das lojas Minipreço num prazo de três anos. Questionada sobre o andamento deste processo, o gestor desta área da integração de negócios avança que “a execução terá início no segundo trimestre de 2025, estando de momento numa fase de planeamento e testes iniciais”.

Trabalhadores denunciam lockout à ACT

Foi a 2 de outubro que os 14 funcionários das lojas Minipreço Trindade (Porto) e Matosinhos Stara, ambas franqueadas, foram surpreendidos com o encerramento definitivo. Volvida uma semana, dizem continuar sem qualquer comunicação oficial de situação de desemprego, ou da continuidade dos seus empregos, tendo já denunciado o lockout à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT).

Esta sexta-feira, em que houve uma concentração à porta da loja de Matosinhos, na Rua Alfredo Cunha, o Sindicato dos Trabalhadores das Grandes Superfícies, Armazéns e Serviços de Portugal lamentou que “estes trabalhadores, incluindo quem tem décadas de serviço e sobreviveu a anteriores processos de transmissão de estabelecimento, serão atirados para o desemprego numa altura de grande incerteza no mercado de trabalho”. Ao mesmo tempo que, frisa, a Auchan está a “contratar para várias áreas e lojas” no âmbito do plano de expansão em Portugal.

“Os trabalhadores continuarão a visitar os seus postos de trabalho, ao qual estão atualmente impedidos de aceder, ato absolutamente ilícito e que reflete o nível mais baixo da mentalidade que ainda grassa nalgumas franjas do tecido empresarial nacional e que só beneficia os autodenominados empresários, que mais não são que abutres que se aproveitam de quem alimenta a sua ganância corporativista”, lê-se no mesmo comunicado da organização sindical.

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