Portugal vai ter de requalificar 1,3 milhões de trabalhadores para aproveitar IA e automação
Automação e IA são oportunidade para Portugal dar o salto na produtividade, mas isso terá "impacto significativo" na força de trabalho: 1,3 milhões terão de ser requalificados e 320 mil recolocados.
A automação e a inteligência artificial generativa podem ajudar Portugal a resolver um problema de que padece há muito: os baixos níveis de produtividade. Mas, para isso, é preciso que haja rapidez na adoção da nova tecnologia e que a força de trabalho seja equipada com as devidas competências. O diagnóstico é feito pela consultora McKinsey & Company, que, num novo estudo, estima que será preciso requalificar 1,3 milhões de trabalhadores em Portugal.
“Estas tecnologias podem permitir a Portugal dar um salto na produtividade e fechar o fosso face aos congéneres europeus. É algo que vemos como uma oportunidade“, sublinhou o sócio sénior Duarte Begonha esta segunda-feira, na apresentação do referido estudo.
Em concreto, hoje Portugal apresenta “níveis de produtividade na contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) aquém da média da União Europeia e dos Estados Unidos” (0,4% contra 0,7% e 1%, respetivamente).
No entanto, a adoção célere da automação e da inteligência artificial poderá puxar essa contribuição para 3,1% em Portugal até ao fim da década, ficando alinhada com o previsto para o bloco comunitário (também 3,1%) e mais perto do estimado para os Estados Unidos (4%).
“A adoção rápida de automação e de inteligência artificial generativa no mercado de trabalho deve ser vista como uma oportunidade única para passar a competir diretamente com as economias mais desenvolvidas do mundo em matéria de crescimento“, salienta a consultora, no estudo agora conhecido.
A adoção rápida de automação e de inteligência artificial generativa no mercado de trabalho deve ser vista como uma oportunidade única para passar a competir diretamente com as economias mais desenvolvidas do mundo em matéria de crescimento.
Por outro lado, se Portugal não der esse salto, o fosso ficará ainda mais acentuado, já que, entretanto, outros países europeus irão abraçar estas tecnologias, fazendo crescer as suas economias, alerta a McKinsey & Company.
Ora, Duarte Begonha realçou esta manhã que Portugal só conseguirá aproveitar plenamente os ganhos proporcionados por estas tecnologias, se cumprir dois requisitos. Por um lado, há que ter rapidez na implementação (caso contrário, o crescimento económico será significativamente inferior). Por outro, há que dar aos trabalhadores as competências adequadas a estas novas ferramentas.
A consultora projeta que será preciso requalificar 1,3 milhões de trabalhadores em Portugal para que o salto na produtividade se dê, sendo que essa transformação da força de trabalho terá de ser transversal a todos os setores, e a todos os níveis de sofisticação de funções.
Além disso, cerca de 320 mil pessoas (“sobretudo em tarefas mais previsíveis, repetitivas e com exposição direta a cliente, como o atendimento ao cliente”) vão ter de ser recolocadas, isto é, para estas, não bastará adquirir novas competências, mantendo-se no seu setor habitual; Terão mesmo de abraçar novas funções profissionais.
A adoção rápida da automação e Gen AI conduzirá à necessidade de recolocação profissional de cerca de 320 mil pessoas (sobretudo em tarefas mais previsíveis, repetitivas e com exposição direta a cliente, como o atendimento ao cliente).
Perante este cenário, será preciso, então, argumentou esta manhã a sócia associada Rita Calvão, “coordenação entre o setor público, empresarial e educativo”, com vista a garantir que o país tem as infraestruturas (tecnológicas e de dados) certas, o talento devidamente requalificado e o controlo de risco.
Ou seja, por exemplo, a requalificação dos trabalhadores não cabe apenas às escolas ou ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Também as próprias empresas estejam envolvidas neste esforço. E até as pessoas em si mesmas.
Hoje, explicaram os sócios, ainda “falta consciencialização ao nível nacional” sobre a necessidade de requalificação, mas é preciso fazer essa sensibilização. “O buzz que a inteligência artificial generativa ganhou nos últimos anos foi um acelerador da consciencialização. Pode ser uma oportunidade”, realçou Rita Calvão, que aproveitou também para deixar uma mensagem às lideranças: “é importante que os líderes encarem este tema como algo que não é puramente tecnológico. É de pessoas“.
Já Duarte Begonha avisou que não basta investir na tecnologia, é preciso ter atenção à sua implementação — por cada euro investido no primeiro passo, serão precisos três nessa segunda fase, precisou –, sendo que Portugal já provou, pela sua história, que consegue adaptar-se “mais rapidamente que outros países”, o que pode ser um trunfo.
“Somos menos rígidos e isto pode ser algo positivo para nós“, rematou, referindo, a propósito, que a própria dimensão das empresas nacionais pode ser um dificuldade, mas também uma vantagem (por serem mais pequenas, são mais ágeis e flexíveis).
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