Lucros da banca vão resistir à descida dos juros com mais negócio e eficiência

BCE vai continuar a baixar juros e a pressionar a margem financeira dos bancos. Mas as agências e banqueiros esperam compensar com mais crédito e com racionalização do negócio.

Os lucros dos bancos em Portugal vão atingir o pico este ano, mas vão resistir à descida das taxas de juro e manterem-se em níveis “sólidos” nos próximos anos à boleia do contexto favorável da economia e beneficiando da grande reestruturação realizada nos últimos anos, de acordo com as agências de rating ouvidas pelo ECO.

“Apesar das taxas de juro mais baixas, prevemos que os bancos portugueses continuem a apresentar uma rentabilidade e eficiência sólidas”, adianta a Standard & Poor’s ao ECO.

“As margens de juros deverão diminuir este ano e no próximo num contexto de taxas mais baixas e custos de financiamento mais elevados, mas os bancos deverão beneficiar de estruturas operacionais simplificadas e de perdas de crédito contidas”, acrescenta a mesma agência.

Os bancos portugueses preparam-se para apresentar as contas dos primeiros nove meses do ano a partir da próxima semana, com o BCP a dar o pontapé de saída na temporada dos resultados na quarta-feira. No dia a seguir é o BPI.

As margens de juros deverão diminuir este ano e no próximo num contexto de taxas mais baixas e custos de financiamento mais elevados, mas os bancos deverão beneficiar de estruturas operacionais simplificadas e de perdas de crédito contidas.

Standard & Poor's

Os números apresentados pelos cinco maiores bancos até junho abrem o caminho para mais um ano histórico, com um aumento dos lucros em 31% para 2,6 mil milhões e a margem financeira a engordar 13% para perto de 4,8 mil milhões em comparação com 2023. Mas enfrentam agora um ciclo novo.

O BCE iniciou no verão uma fase de descida de juros à medida que a batalha contra a escalada dos preços vai sendo vencida e a economia da Zona Euro vai dando sinais de enfraquecimento.

Desde junho o banco central já cortou as taxas diretoras em 75 pontos base e os economistas esperam que mais descidas de 25 pontos base venham a ser decididas em cada uma das próximas três reuniões, embora haja quem – como Mário Centeno – pretenda acelerar o calendário.

Ainda assim, se a descida das taxas vai pressionar a margem, o impacto não será somente negativo para os bancos.

O CEO da CGD, Paulo Macedo (C), ladeado pelo CEO do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida (E), intervém durante na conferência dos 40 anos da APB.ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Alívio dos juros puxará pela economia

Como a Standard & Poor’s, também a DBRS vê os lucros e a margem dos bancos baixarem no próximo ano, mas acrescenta um outro fator que vai ajudar a banca compensar a redução das taxas de juros: a economia.

O desaperto da política monetária do BCE vai ajudar a dinamizar a economia, aumentando a procura por crédito e reduzindo o risco de falência de empresas e de famílias. No global, isto traduzir-se-á numa redução das provisões e imparidades por um lado e num aumento do negócio bancário por outro.

“Esperamos também que o perfil dos lucros do setor bancário português continue a beneficiar das características positivas do ambiente operacional português, incluindo uma atividade económica saudável, o forte crescimento do emprego e o declínio da alavancagem do setor privado”, consideram os analistas da DBRS.

Acrescentam: “Taxas mais baixas deverão também continuar a melhorar a qualidade dos ativos do sistema, limitar as provisões para perdas com empréstimos e, assim, apoiar a rentabilidade dos bancos“.

O Governo antecipa um crescimento da economia de 1,8% este ano e de 2,1% no próximo, sendo que o FMI, por exemplo, está mais otimista e aponta para uma taxa de expansão do PIB de 1,9% e de 2,3% em 2024 e 2025.

Taxas mais baixas deverão também continuar a melhorar a qualidade dos ativos do sistema, limitar as provisões para perdas com empréstimos e, assim, apoiar a rentabilidade dos bancos.

DBRS

Recentemente, os líderes do BCP e do BPI disseram que esperam compensar a descida das taxas com um aumento do volume de negócios que se perspetiva com a reanimação da economia.

“Vai ser preciso um maior apoio ao financiamento da economia”, referiu Miguel Maya na conferência dos 40 anos da APB.

“O crescimento económico vai continuar num sentido positivo, embora mais moderado” e as taxas de juro, embora mais baixas, “continuarão positivas”, acrescentou João Pedro Oliveira e Costa, considerando que “a base do negócio está melhor do que quando tínhamos com uma economia em recessão e taxas negativas”.

O CEO do BCP, Miguel Maya, ladeado pelo CEO do BPI, João Oliveira e Costa (D) na conferência dos 40 anos da APB.ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Maior eficiência após “grande limpeza”

A Fitch espera que o pico dos resultados seja atingido este ano e que os lucros diminuam em 2025 e 2026. Ainda assim, “a rendibilidade dos bancos portugueses deverá continuar a comparar-se bem em relação aos restantes bancos da Zona Euro”, frisa a agência de rating, notando que a margem financeira continuará a ser o “motor” dos resultados dos bancos nos próximos anos, embora venha a descer “mecanicamente em linha com as taxas Euribor”.

Sem fazer grandes previsões, a Moody’s referiu que mantém “uma perspetiva estável de rendibilidade para o sistema bancário português”, apesar de a descida das taxas apontar para uma redução dos lucros.

Ainda assim, há outro ponto que vai suportar os resultados dos bancos: depois da profunda reestruturação dos últimos anos, agora estão mais eficientes e com balanços mais saudáveis, como evidenciam o rácio cost-to-income de 38,3% (custos de estrutura em relação aos proveitos) e o rácio de NPL de 2,6% (% malparado em relação à carteira de crédito) em junho.

NPL cai para mínimos

Fonte: Banco de Portugal

Como chegaram até aqui? “A redução substancial de balcões e de colaboradores nos últimos anos contribuiu para uma eficiência superior à dos pares”, destacam os analistas da Standard & Poor’s.

Os bancos contam atualmente com menos 13 mil trabalhadores e menos 2.200 agências do que há dez anos, durante a crise da dívida soberana.

Neste período, a banca desfez-se de mais de 40 mil milhões de empréstimos problemáticos através sobretudo da venda de carteiras de malparado, mas também de recuperações e curas de créditos.

O CEO do BPI resumiu bem ao ECO o que espera os bancos no futuro próximo: os “lucros momentâneos” dos últimos dois anos vão dar lugar a uma “certa normalização” com resultados mais baixos, mas o setor vai beneficiar da “grande limpeza” que fizeram nos últimos anos para assegurar “rentabilidades mais de acordo com aquilo que é a exigência do retorno de capital”.

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