Eleição de Trump põe dólar na rota da paridade com euro. O que significa?

Nota verde atingiu o valor mais elevado do último ano contra o euro e bancos antecipam cenário de paridade devido à política económica protecionista de Trump. Quem ganha e quem perde?

Dólar e euro estão a caminho da paridade? O movimento dos últimos dias aponta nesse sentido, sobretudo depois da vitória clara de Donald Trump nas eleições dos EUA, com a promessa de uma política económica protecionista a dar força à nota verde. Com a Europa a “gripar”, há quem admita o euro abaixo do dólar. Mas o que significa um dólar valer um euro? Qual o impacto em Portugal?

Na última semana, pelo menos uma dezena de bancos internacionais cortaram as suas perspetivas para a moeda única, alguns dos quais antecipando um cenário de paridade com o dólar. Esta quinta-feira a nota verde avançou para máximos de um ano contra o euro, transacionando nos 1,05 euros – sendo que ainda há dois anos ambas as moedas se equivaliam.

Por detrás deste movimento no mercado cambial estão as perspetivas de que a próxima Administração Trump venha a impor uma política económica de fortes restrições comerciais a partir do próximo ano com um aumento das tarifas, que irão atingir as exportações das Zona Euro, num momento em que as grandes economias como Alemanha e França enfrentam tempos de incerteza.

Vítor Madeira, analista da XTB, explica isso mesmo ao ECO. “Este movimento reflete expectativas de crescimento económico nos EUA, com investidores a apostar no dólar”, diz o responsável. “Uma política de protecionismo enunciada por Donald Trump está também na origem do movimento aliada à expectativa do mercado monetário em que a Reserva Federal (Fed) vai permanecer com as taxas de juro altas por mais tempo do que inicialmente se pensava”, acrescenta.

Como explica Fernando Castro e Solla, partner da Baluarte Investimentos: “Esta medida tem impacto inflacionista por um lado e por outro lado gera incerteza relativa ao crescimento da economia a nível global. A inflação porque gera expectativas de taxas mais altas e a incerteza porque ativa o papel de refúgio têm ambas potencial impacto positivo no valor do dólar.

Steven Santos, diretor de plataformas do Big, concorda: “Num quadro geopolítico e económico instável, os investidores internacionais privilegiarão a acumulação de dólares americanos, que é a moeda central do sistema financeiro atual”.

Euro pressionado pelo dólar

Fonte: Refinitiv

Euro abaixo da paridade? É possível, admite Deutsche Bank

A “onda vermelha” em que os republicanos conquistam o Senado (já conquistada) e também a Câmara dos Representantes (perto disso) aumenta a probabilidade de que a política protecionista de Trump seja implementada. E com isso a chance de dólar e euro caminharem lado a lado.

Por outro lado, a Europa também não dá sinais favoráveis à sua moeda. O motor económico alemão por pouco escapou a uma recessão, o governo de Olaf Scholz está em crise e França mantém um elevado risco político após as eleições antecipadas realizadas este ano, dizem os analistas do JPMorgan, com uma previsão euro-dólar nos 1,05 dólares caso a onda vermelha se confirme.

A Mizuho espera que o euro atinja os 1,01 dólares em março e o banco ING prevê que isso aconteça no início de 2026. Mas o cenário mais penalizador para o euro vem do Deutsche Bank. “Se a agenda de Trump é implementada na totalidade e rapidamente, sem uma resposta política da Europa ou China, podemos ver o euro-dólar passar a paridade até 0,95 dólares ou até menos”, referiu George Saravelos, analista do banco alemão, numa nota citada pela agência Bloomberg.

A TD Securities espera que o euro recue para 1,03 dólares na altura em que Trump regressar à Casa Branca em janeiro, mas não descarta um cenário de paridade.

Quem ganha e quem perde?

O valor da moeda tem impacto na atividade económica. O euro mais fraco torna as exportações nacionais mais competitivas pois um dólar forte permite ao comprador internacional adquirir mais bens às empresas portuguesas.

Ou seja, setores ou países exportadores deverão a ganhar com este cenário, mas as contas não são tão lineares. Por exemplo, se tiverem de comprar as matérias-primas aos EUA para produzirem os bens, também vão ter de pagar mais.

Por outro lado, as importações de bens cotados em dólares vão sair mais caras. Isto porque com um euro passamos a comprar menos de um determinado produto que é transacionado em dólares. Esse é o caso do petróleo, gás e a generalidade das matérias-primas que são negociadas no mercado, que custarão mais dinheiro. Viajar para os EUA também ficará menos em conta.

“As implicações para a Europa, e assim para Portugal na medida em que tem na Europa o seu parceiro comercial determinante, oscilarão ao sabor do balanço do efeito positivo de um dólar forte a favorecer as exportações europeias e o impacto negativo do eventual estabelecimento de tarifas sobre as importações com origem europeia”, frisa Fernando Castro e Solla.

Mas o gestor recomenda prudência: “No passado, a proximidade da paridade levou muitas vezes as autoridades norte-americanas a atuar quer por via da política monetária quer por via da retórica política”.

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