Bruxelas prevê “crescimento modesto” em 2025. Cinco economias do euro ficam no vermelho este ano
Comissão Europeia estima que Alemanha (-0,1%), Irlanda (-0,5%), Áustria (-0,6%), Finlândia (-0,3%) e Estónia (-1%) sofram uma contração, pelo segundo ano consecutivo, que será investida em 2025.
Com o poder de compra dos consumidores a recuperar, as taxas de juros a descer e o investimento a acelerar impulsionado pela bazuca europeia, a Comissão Europeia aponta para um “crescimento modesto” em 2025. Mas, se no próximo ano, todas as economias vão crescer, este ano, Bruxelas estima que cinco economias da zona euro vão terminar o ano no vermelho, incluindo o motor da Europa – a Alemanha.
As previsões de Inverno da Comissão Europeia, divulgadas esta sexta-feira, apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 de 0,9% na União Europeia e de 0,8% na zona euro. Mas atividade económica deverá acelerar para 1,5%, nos 27 Estados, e para 1,3% na área da moeda única no próximo ano. Já para 2026, as previsões são ainda mais otimistas com a UE a crescer 1,8% e a zona euro 1,6%.
A retoma começou logo a sentir-se no primeiro trimestre de 2024, mas apesar da expansão se ter prolongado ao longo do segundo e terceiro trimestres “a um ritmo constante”, foi também “moderado”. Isto porque “apesar do crescimento do emprego e a recuperação dos salários reais terem continuado a alimentar o rendimento disponível, o consumo das famílias foi contido”.
“Um custo de vida ainda elevado e uma maior incerteza na sequência da exposição repetida a choques extremos, agravada por incentivos financeiros para poupar num contexto de taxas de juro elevadas, levou as famílias a poupar uma parte cada vez maior do seu rendimento”. No segundo trimestre de 2024, a taxa de poupança das famílias foi de 14,8% – acima das expectativas e mais de três pontos percentuais acima da média de longo prazo pré-pandemia. “Simultaneamente, o investimento foi dececionante, com uma contração profunda e generalizada na maior parte dos Estados-membros”, escreve a Comissão no seu relatório.
O comissário para os Assuntos Económicos, na conferência de imprensa de apresentação do relatório, considerou que as Previsões de Outono “não são otimistas” e estão “em linha com o consensus, desde que se tenha em conta os riscos descendentes que podem sempre acontecer”. Paolo Gentiloni sublinhou que, do seu ponto de vista, “há uma grande incerteza de quando e como a propensão das famílias para o consumo vai ganhar força, nas economias europeias”. “Olho muito para os valores das poupanças que não se mexem o suficiente em alguns países, apesar do aumento dos salários. É uma questão de incerteza numa previsão“, admitiu.
Assim, para este ano, a Comissão estima que Alemanha (-0,1%), Irlanda (-0,5%), Áustria (-0,6%), Finlândia (-0,3%) e Estónia (-1%) sofram uma contração, pelo segundo ano consecutivo, que depois será investida em 2025. No próximo ano, as taxas de crescimento vão oscilar entre os 4,3% de Malta e os 0,7% da Alemanha. Aliás, o poderoso eixo franco-alemão apresenta o pior desempenho na tabela dos 27 com crescimentos do PIB de 0,8% e 0,7% respetivamente, que se transformarão em 1,4% e 1,3%, em 2026.
O maior otimismo da Comissão para 2025 assenta no facto de as restrições ao consumo parecerem estar a diminuir à medida que o “poder de compra dos salários recupera gradualmente, as taxas de juro descem e o consumo deverá crescer ainda mais”. A Comissão prevê ainda que o “investimento recupere tem do em conta o bom desempenho das empresas, recuperação dos lucros e melhoria nas condições de crédito”. Mas também é de sublinhar o impulso do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, a bazuca europeia, e de outros fundos da UE no aumento do investimento público ao longo do horizonte de previsão.
“A procura interna deverá impulsionar o crescimento económico no futuro”, avança a Comissão. Em 2025 e 2026, Bruxelas espera que as exportações e as importações cresçam praticamente ao mesmo ritmo, o que significa “um contributo neutro para o crescimento”.
Efeito Trump só em janeiro ou fevereiro
Em termos de comércio internacional, as previsões foram fechadas antes de serem conhecidos os resultados das eleições norte-americanas. As ameaças de Donald Trump impor tarifas às importações europeias são um risco para as projeções, reconheceu o comissário para os Assuntos Económicos, na conferência de imprensa de apresentação das previsões. “As consequências da alteração de política nos Estados Unidos só vão surgir em janeiro ou fevereiro do próximo ano, porque existe um período de transição” entre a administração Biden e Trump, recordou Paolo Gentiloni.
“Estamos a analisar a questão, mas este cenário”, de aumento das tarifas comercias, “pode ter repercussões em países como Alemanha e Itália que têm relações comerciais mais estreitas com os EUA”, reconheceu Gentiloni. “O que acresce às dificuldades na indústria que assistimos em alguns países apesar”, acrescentou, frisando, contudo que Berlim e Roma têm previsões de crescimento distintas — 0,7% e 1%, respetivamente, no próximo ano.
O comissário, que já está numa das suas últimas conferências de imprensa, recordou ainda que, mesmo nos EUA, existe uma grande discussão em torno das tarifas comerciais já que estas podem fazer escalar a inflação nos EUA, com o reflexo inerente na subida das taxas de juros, que por sua vez podem arrefecer o crescimento. A Comissão antecipa que os EUA cresçam 2,7% este ano, uma revisão em alta face às Previsões da Primavera (2,5), para abrandar nos anos seguintes para 2,1% e 2,2%.
Riscos e incertezas aumentam
Paolo Gentiloni foi muito claro ao sublinhar que as incertezas aumentaram. A continuação da guerra na Ucrânia e a intensificação do conflito no Médio Oriente alimentam riscos geopolíticos e riscos para segurança energética. Riscos aos quais se soma a possibilidade de aumento das medidas protecionistas entre os parceiros comerciais, algo que “poderia prejudicar o comércio global, pesando sobre a economia altamente aberta da UE”, reconhece.
Já a nível interno, os sinais de alarme estão concentrados “na incerteza política e nos desafios estruturais da indústria transformadora”, que se poderão traduzir em “novas perdas de competitividade e penalizar o crescimento e o mercado de trabalho”. A Comissão saúda a resiliência do mercado de trabalho que permite que a taxa de desemprego se situe em níveis historicamente baixos. O desemprego deverá ficar nos 6,1% este ano (6,5% na zona euro) e cair para 5,9% em 2025 e 2026 (6,3% na zona euro). Já o emprego vai continuar a crescer, embora a um ritmo mais lento – os 0,8% de progressão estimados para este ano (0,9% na zona euro), vão abrandar para 0,5% em 2026 (0,6% nas economias da moeda única).
Mas há mais riscos, como os atrasos na implementação do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, ou seja a bazuca europeia. É verdade que a Comissão espera que através dos PRR de cada país haja uma retoma do investimento, até porque as regras obrigam a que os investimentos estejam todos concluídos até junho de 2026. “O setor das Administrações Públicas deverá impulsionar o investimento em infraestruturas, com o apoio do RRF”, escreve a Comissão. “À medida que o setor imobiliário finalmente recupera em 2026, o investimento em construção deverá crescer 3,3%. O investimento em equipamentos também deverá recuperar em 2025, continuando a crescer no ano seguinte”, estima Bruxelas.
Cerca de metade das despesas do MRR previstas com subvenções servirão para apoiar as empresas nas necessidades de ajustamento da capacidade, nomeadamente na transição para uma produção com baixas emissões e que poupe energia. “Ainda assim, a elevada incerteza e as mudanças estruturais deverão pesar nalguns segmentos da indústria transformadora, especialmente nas indústrias de uso intensivo de energia e do setor automóvel”, lê-se no documento.
Por outro lado, um impacto mais forte do que o esperado da consolidação orçamental também poderá travar ainda mais a retoma do crescimento, alerta a Comissão. O défice das administrações públicas da UE deverá diminuir em 2024 em cerca de 0,4 p.p., para 3,1% do PIB, e para 3% em 2025. Já em 2026, o impacto positivo do crescimento deverá permitir uma redução mais acentuada do défice para 2,9%. Na zona euro, a previsão é de uma redução do défice de 3% em 2024 para 2,9% em 2025 e 2,8% em 2026.
Mas, apesar de muitos Estados-membros estarem a trabalhar para reduzir os seus rácios da dívida, Bruxelas antecipa o rácio agregado da dívida em relação ao PIB da UE aumente, de 82,1% em 2023 para 83,4% em 2026. Isto segue-se a uma quebra de quase 10 pontos percentuais entre 2020 e 2023, e reflete “os efeitos dos défices primários ainda elevados e do aumento das despesas com juros, que já não são compensados por um elevado crescimento nominal do PIB, uma vez que a inflação está a desacelerar”. Na zona euro, a dívida pública deverá aumentar de 88,9% do PIB em 2023 para 90% em 2026.
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