Juros da dívida francesa igualam os da Grécia pela primeira vez desde 2008

Impasse orçamental eleva custo da dívida de França para níveis históricos. A yield das obrigações do Tesouro a 10 anos já negoceiam perto dos 3%, o valor mais elevado desde a crise soberana do euro.

Os investidores continuam a pressionar as obrigações do Tesouro francês, por conta dos poucos (ou mesmo nenhuns) sinais sobre um potencial acordo entre o Governo liderado por Michel Barnier e a oposição liderada por Marine Le Pen para um entendimento relativamente à aprovação do Orçamento do Estado para 2025.

A pressão sobre as obrigações francesas intensificou-se nos últimos dias, refletindo a crescente preocupação dos investidores com a estabilidade política e a saúde das finanças públicas de França. As yields das obrigações francesas a 10 anos – apesar de nesta sexta-feira estarem em ligeira queda (tal como sucede com a maioria dos países da Zona Euro) – atingiram níveis semelhantes às da Grécia, um fenómeno não observado desde 2008, pouco antes da crise financeira do subprime.

Esta convergência é particularmente significativa, considerando que durante a crise da dívida soberana as yields gregas eram substancialmente superiores às francesas. Desde 25 de novembro que as yields das obrigações a 10 anos de França têm superado as taxas das obrigações gregas durante alguns momentos do dia. Atualmente, as yields das obrigações francesas a 10 anos negoceiam muito próximo dos 3%, igualando as taxas das obrigações gregas, e encontrando-se ao nível de 2012, justamente no período da crise soberana da Zona Euro.

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A instabilidade política em França é um fator crucial por trás deste aumento no custo da dívida. O governo do primeiro-ministro Michel Barnier enfrenta dificuldades para aprovar o orçamento de 2025, devido a um parlamento dividido e à ameaça de votos de desconfiança tanto da esquerda quanto da extrema-direita.

Esta situação levou a que o prémio de risco de França disparasse na quarta-feira, com o spread das obrigações francesas a 10 anos face às alemãs a atingir cerca de 84 pontos base, quase igualando o spread das obrigações gregas. Nas maturidades mais curtas, França já é vista como mais arriscada do que a Grécia.

A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, que detém uma influência significativa no parlamento dividido de França, deu ao primeiro-ministro Michel Barnier até segunda-feira para aceder às suas exigências orçamentais antes de decidir se derruba o governo.Lusa

Pressão sobe de nível na próxima semana

Enquanto França luta com estes desafios, outros países anteriormente considerados problemáticos na Zona Euro, como Portugal, Espanha e Grécia, têm conseguido melhorar as suas posições fiscais e reduzir os seus custos de financiamento. A dívida pública nacional, por exemplo, deverá cair para 93,3% do PIB no final do próximo ano (em 2024 era de 134% do PIB), enquanto a dívida pública grega caiu de um rácio de 223% do PIB no primeiro trimestre de 2021 para 160% do PIB em meados deste ano.

A situação atual coloca França numa posição delicada nos mercados financeiros. A incapacidade do governo francês em aprovar medidas fiscais rigorosas pode levar a uma maior deterioração da confiança dos investidores e potencialmente resultar em custos de financiamento ainda mais elevados.

Esse cenário ganhou novos contornos esta sexta-feira com Marine Le Pen, líder da extrema-direita, a aumentar a pressão sobre o Governo, dando a Michel Barnier até segunda-feira para aceder às suas exigências orçamentais antes de decidir se derruba o governo.

Se o National Rally de Marine Le Pen decidir apoiar uma moção de censura, o Governo de Michel Barnier poderá cair já na próxima quarta-feira, esperando-se com isso uma nova subida das yields das obrigações do Tesouro francês.

O National Rally de Marine Le Pen exige que Michel Barnier altere os planos orçamentais para 2025, que incorporam 60 mil milhões de euros em ajustes fiscais. Essas exigências englobam o abandono da proposta de redução dos reembolsos de medicamentos, o estabelecimento de uma moratória sobre novos impostos ou aumentos para a maioria dos cidadãos, a indexação das pensões à inflação a partir de 1 de janeiro e a implementação de políticas mais rigorosas em matéria de migração e criminalidade.

Se o National Rally decidir apoiar uma moção de censura, o Governo de Michel Barnier poderá cair já na próxima quarta-feira, esperando-se com isso uma nova subida das yields das obrigações do Tesouro francês, encarecendo ainda mais os novos empréstimos obrigacionistas dos gauleses.

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