PRR é “oportunidade perdida” para a transição elétrica na mobilidade, lamenta Pires de Lima
Os gestores criticam o facto dos fundos do PRR terem sido usados para suprir necessidades de investimento público e lamentam que estes fundos tenham falhado o objetivo de acelerar a transição elétrica
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) falhou em promover a transição elétrica na mobilidade, revelando-se uma “oportunidade perdida”, defende António Pires de Lima, CEO da Brisa. O empresário lamenta ainda que o PRR tenha sido “desenhado para suprir deficiências de investimento público”. Uma crítica acompanhada pelos líderes da Luz Saúde e da Casais, que apontam ainda o dedo à elevada carga burocrática e regulatória que as empresas enfrentam, limitando-as na sua competitividade.
“O PRR é uma oportunidade perdida para a transição elétrica na mobilidade“, atirou Pires de Lima, numa intervenção durante a 7.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Alfândega do Porto. Para o CEO da Brisa, o investimento “é muito limitado para que as empresas possam apostar em postos de carregamento fora das grandes cidades, ou para trocar carros antigos” por elétricos.
A participar num painel com a CEO da Luz Saúde, Isabel Vaz, e o CEO do Grupo Casais, António Carlos Rodrigues, o líder da Brisa adiantou “o PRR passou praticamente ao lado da Brisa“, demonstrando que a empresa “não dependia para o seu crescimento e desenvolvimento do orçamento do estado e destes investimentos de orçamento público”.
De acordo com o responsável, a forma como o PRR foi desenhado e questões como a burocracia levam a que “uma boa parte das empresas não esteja à espera do PRR para tratarem da sua vida”.
Também Isabel Vaz, líder da Luz Saúde, destacou que “continuamos a ser pouco exigentes, no retorno do investimento que o Estado faz“, lamentando que muito do dinheiro envolvido em projetos como o PRR “terá sido gasto em gastos correntes e não em investimento”. Num momento em que a Europa está a perder competitividade para os Estados Unidos e para a China, Isabel Vaz refere que, no caso de Portugal, há ainda um problema de escala.
“Temos um problema, que é sermos um país pequenino. Temos uma Europa que tende a regular em vez de fazer” e Portugal ainda acrescenta pontos ao que vem da Europa, o que resulta em “custos muito grandes das empresas“, aponta Isabel Vaz. “A Europa está competir com China e EUA, numa Europa que é muito complexa de gerir”, destaca.
Para a líder do grupo de saúde, “as empresas são de facto pequenas em Portugal“, num mundo em que “a grande competição entre as empresas vai ser pela tecnologia”, o que vai exigir elevados investimentos. “Na saúde temos um budget cada vez mais superior em termos de investimento em tecnologia.”
António Carlos Rodrigues, CEO da Casais, destacou que o Orçamento do Estado para 2025, aprovado na última sexta-feira, com algum alívio fiscal para as empresas “é um sinal” positivo, “mas não é suficiente”, destacando que Portugal fica atrás de outros países em termis de impostos, perdendo competitividade.
Em relação a outros temas do orçamento, o empresário elogiou a “visão integrada”, focada na aposta em infraestruturas, nomeadamente no setor dos portos e da ferrovia. “É um caminho para criar este ecossistema”, aponta.
Empresários são responsáveis por saída de talento
No que diz respeito à retenção de talento, António Pires de Lima considera que as empresas têm que assumir responsabilidades, destacando que não estão a ter capacidade para oferecer empregos “à medida” dos jovens que hoje saem das universidades. “É manifesto que os empresários portugueses, com um tecido empresarial comandado por micro e pequenas empresas, não estão em condições de oferecer a esta geração empregos à sua medida”.
“É mau que este investimento que estamos a fazer nas pessoas – todos os anos produz 50 a 60 mil jovens licenciados – seja parcialmente desaproveitado, porque há cerca de um terço desses jovens que não encontra sua condições para prosseguir a vida em Portugal“, lamentou o líder da Brisa, realçando que, neste campo, não se pode atribuir as culpas ao Estado. “Temos que reconhecer as nossas responsabilidades”, adiantou, destacando que cabe às empresas oferecer “propostas de trabalho que atraiam os jovens para os reter”.
Apesar de apontar responsabilidades aos empresários, Pires de Lima não deixa de apontar que a questão do esforço do ponto de vista fiscal, ao nível do IRS e do IRC, também tem impacto na saída de talento, notando que “é positivo que tenha existido o compromisso possível entre partidos da AD e o PS para que este modelo de IRS jovem possa estar ativo para não penalizar tanto jovens até 35 anos e tenha estabilidade”.
Para Isabel Vaz, “mais do que os jovens irem para fora, o problema é que não estamos a atrair os jovens de outros países para cá. O nosso saldo migratório está negativo”.
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