Lufthansa diz que investimento em Portugal é independente da TAP, mas mostra “compromisso”

A Lufthansa é uma das três companhias aéreas europeias que já manifestou interesse na privatização da TAP. Numa altura em que o Governo se prepara para relançar a venda, o grupo alemão anunciou um investimento em Portugal na casa dos “três dígitos” e que promete criar “mais de 700 empregos”. Quer a empresa quer o Executivo separam as águas.

O processo já vinha a decorrer há meses e Portugal competia com outros países pela localização de uma nova unidade de reparação de motores e peças de avião. O país já era considerado preferido, segundo declarações do CEO, Carsten Spohr, feitas em julho. Um favoritismo que se consumou esta segunda-feira, com o anúncio de que o investimento da Lufthansa Technik será realizado no Lusopark, em Santa Maria da Feira.

A Lufthansa garante, em resposta ao ECO, que “o investimento é independente do processo de privatização da TAP”, mas acrescenta que “mostra o compromisso do Grupo Lufthansa com Portugal”.

O ministro da Economia, Pedro Reis, também rejeitou que o investimento esteja relacionado com a venda da transportadora aérea portuguesa. “A privatização da TAP é acompanhada no Governo pelo Ministério das Finanças e o Ministério das Infraestruturas. São temas completamente diferentes“, garantiu à margem da visita do Presidente da República aos Países Baixos. “Neste caso é o Ministério da Economia, com uma intervenção muito importante da AICEP, com um trabalho de fundo que fizemos”, acrescentou.

Ainda que sejam processos separados, a aposta da companhia alemã no país pode valer pontos no concurso para a venda da transportadora aérea alemã. O decreto-lei de privatização aprovado pelo Governo anterior, que acabaria vetado pelo Presidente da República, impunha como um dos critérios “assegurar o investimento e emprego em atividades de alto valor no setor da aviação”. Ou seja, o Executivo pretendia que o novo investidor na TAP pudesse trazer operações para Portugal, dando como exemplo justamente a manutenção e engenharia.

Foi justamente o que a Lufthansa Technik anunciou esta segunda-feira, com a construção de uma nova unidade de 54 mil metros quadrados em Santa Maria da Feira, que deverá estar concluída até ao final de 2027 e criará “mais de 700 empregos” na região. O investimento não foi revelado, apenas que está na casa dos “três dígitos”, ou seja, acima de 100 milhões de euros.

A escolha da Lufthansa foi elogiada pelo ministro da Economia. “O que acredito é que este centro da Lufthansa pode trazer mais aviação e clientes da aeronáutica mundial – têm mais de 800 – para recorrerem a este centro”, afirmou. “Quando um grupo assume que vai investir, a longo prazo, mais de três dígitos numa área de 55 mil metros quadrados que vai ter 700 trabalhadores qualificados, é um compromisso fortíssimo com o país. Um investimento que vem num momento em que todo o mundo está à caça destes projetos“, disse ainda.

O Governo já afirmou que pretende fazer a privatização da TAP em 2025. “Vamos avançar com os passos necessários na nossa legislação para iniciar esse processo e realizá-lo de forma competitiva”, afirmou esta segunda-feira o ministro das Finanças, em Bruxelas.

Além da Lufthansa, já declararam o seu interesse o grupo IAG, dono da British Airways ou Iberia, e a Air France-KLM. Todos eles já reuniram com o Executivo.

Miranda Sarmento afirmou que a privatização terá dois objetivos. Por um lado “potenciar a empresa, aumentar a capacidade em termos de rotas e ligações, não só ao mercado europeu como também aos EUA, Brasil e África”. Por outro, “procurar o maior encaixe financeiro possível, para tentar ressarcir no curto, médio, longo prazo os 4 mil milhões que os contribuintes colocaram na empresa”.

(Notícia atualizada às 18h04 com declarações do ministro da Economia)