EDP “tropeça” na Colômbia no caminho para os 1,3 mil milhões
A EDP Renováveis anunciou esta quinta-feira que iria deixar cair os investimentos previstos para a Colômbia, uma decisão que implica perdas de até 700 milhões de euros.
A EDP Renováveis anunciou esta quinta-feira que iria deixar cair os investimentos previstos para a Colômbia, uma decisão que implica perdas de até 700 milhões de euros. Apesar de a empresa contabilizar esta perda como “evento não recorrente”, salvaguardando desta forma o efeito negativo no lucro, a subsidiária de energias limpas do grupo EDP sofre este golpe num ano em que a casa-mãe impôs como meta atingir os 1,3 mil milhões de lucro.
“A EDP espera atingir em 2024 um EBITDA recorrente de cerca de 5 mil milhões de euros, um resultado líquido recorrente de aproximadamente 1,3 mil milhões de euros, em linha com os objetivos financeiros apresentados em maio”, escreveu a empresa, no comunicado relativo aos resultados do terceiro trimestre da cotada.
A EDP detém de momento 71,3% do capital da EDP Renováveis. Até setembro deste ano, estas empresas comunicaram, respetivamente, lucros de 1.083 milhões de euros e 210 milhões de euros. O grupo avançou, ao longo do ano, uma perspetiva de lucro apenas em relação à casa-mãe – os já referidos 1,3 mil milhões de euros. Para a EDP Renováveis, a última meta comunicada, em maio, dizia respeito ao EBITDA, que deveria atingir os 1,9 mil milhões de euros este ano. Em setembro, o EBITDA desta subsidiária cifrava-se nos 1,29 mil milhões de euros.
No rescaldo da última apresentação de resultados, numa chamada com analistas, o responsável financeiro da empresa (CFO, na sigla em inglês), Rui Teixeira, já havia assinalado a situação instável dos projetos na Colômbia: “Quero gerir expectativas. Ao longo dos próximos 2 a 3 meses, a decisão de avançar ou não avançar pode levar a uma perda completa dos 700 milhões de euros na EDP Renováveis”.
O cenário de perda verificou-se. Esta quinta-feira, após o fecho do mercado, a EDP comunicou que “a EDPR decidiu não avançar com os investimentos nos seus projetos eólicos de 0,5 GW [gigawatts] na região de La Guajira, na Colômbia“, e que “face a esta decisão, a EDPR estima perdas potenciais associadas a estes projetos de até 0,7 mil milhões de euros“, montantes que vão ser tratados como eventos não recorrentes, não tendo dessa forma impacto no lucro ou na política de dividendos.
A justificar esta decisão está o risco identificado no país. A EDP Renováveis considera que estes projetos não cumprem os critérios de investimento e perfil de risco que tem como referência. Em causa estão dois projetos eólicos, Alpha e Beta, que obtiveram licenças ambientais em agosto de 2019, ano desde o qual sofreram vários reveses, desde as medidas de contenção do tempo da pandemia covid-19 até à mudança de Governo, o que teve consequências na viabilidade económica do projeto, explicou a empresa em comunicado.
“Até hoje, não foi alcançada visibilidade sobre a melhoria do quadro de receitas reguladas, como as reformas do mecanismo “cargo por confiabilidade” e outras medidas potenciais, que a EDPR e a associação de energias renováveis da Colômbia defenderam como cruciais para permitir a construção de projetos eólicos”, pontua a empresa, na comunicação desta quinta-feira ao mercado.
Mas os alertas deixados em relação a esta situação não surgiram apenas nesta segunda metade do ano. Já em maio, novamente em diálogo com analistas no rescaldo da apresentação de resultados do primeiro trimestre, o CEO, Miguel Stilwell d’Andrade, afirmou que a EDP estava focada em obter a licença para a linha de transmissão associada ao projeto antes do final do ano. “Não estamos a incluir [estes projetos] nos objetivos do plano de negócios ou na atualização de perspetivas. E temos uma exposição total, incluindo o valor contabilístico e outros passivos, esperadas no final do ano, em torno dos 700 mil milhões de euros”, assumiu na altura.
Os lucros da EDP têm sido impulsionados pelo investimento em redes. Nos primeiros três trimestres, o resultado líquido da empresa aumentou 14% “suportado pelo bom desempenho da atividade de redes de eletricidade no Brasil, assim como pela recuperação de produção hídrica no mercado ibérico, que mais do que compensaram os menores ganhos com rotação de ativos renováveis”, indicou a elétrica, em comunicado.
No mesmo período, a subsidiária de energias limpas sentiu uma quebra homóloga de 53% nos lucros, para 210 milhões de euros, atribuída precisamente à diminuição dos ganhos com rotação de ativos, que passaram de 393 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2023 para 179 milhões no mesmo período de 2024.
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