BCE, turismo e economia: a tríade do terceiro dia em Davos
Christine Lagarde é a figura de destaque esta quarta-feira na estância suíça. O ministro da Economia, Pedro Reis, termina a sua série de encontros bilaterais no Fórum Económico Mundial, na Suíça.
A intervenção da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, é a mais esperada no terceiro dia do Fórum Económico Mundial em Davos, que decorre uma semana antes da próxima reunião do Conselho de governadores do BCE, onde analistas antecipam o primeiro corte de juros do ano. Apesar de ser a figura principal do certame, é presença habitual nos Alpes suíços.
Desta vez, Christine Lagarde vai dividir o palco, às 15h15 (hora de Lisboa), com o CEO da L’Oréal, o empresário francês Nicolas Hieronimus, a CEO da gigante da ciência e tecnologia alemã Merck, Belen Garijo, e o vice-chanceler da Alemanha, Robert Habeck, para debater o que é necessário para que os líderes estejam à altura dos desafios demográficos e de produtividade na União Europeia, na sequência de relatos de “vulnerabilidades” e agonia lenta”, como caracterizou o relatório Draghi sobre a competitividade europeia.
O discurso de Christine Lagarde ocorre pouco depois de o economista austríaco Robert Holzmann, governador do banco central da Áustria, ter dito na segunda-feira, em entrevista ao Político, que “cortar as taxas de juros quando a inflação sobe mais rápido do que o previsto, mesmo que temporariamente, corre o risco de prejudicar a credibilidade” da instituição com sede em Frankfurt. Mais: alertou que os riscos de nova escalada de preços estão a crescer e a decisão de cortar os juros, na próxima reunião de política monetária, ainda não é certa. O conselho de governadores do BCE reúne-se nos dias 29 e 30 de janeiro.
Já o ministro da Economia, Pedro Reis, termina hoje a sua série de encontros bilaterais na Suíça, que arrancaram ontem com uma agenda repleta de reuniões com outros governantes de países como Angola e Arábia Saudita. A comitiva política portuguesa é ainda composta pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, que falou esta terça-feira.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchéz, que recentemente fez correr tinta por querer limitar a compra de casa por investidores não europeus, é outro dos políticos que sobressai na agenda do fórum esta quarta-feira, assim como a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.
O programa prevê ainda outros tópicos de relevo para a economia mundial, entre os quais o turismo no panorama de negócios, tendo por base o cenário económico emergente que se espera para 2025. Para tal, o leque de oradores também é premium: uma managing director da consultora Bain & Company, Karen Harris, o economista-chefe da AXA Investment, Gilles Moëc, e o economista-chefe do Banco Bradesco, o brasileiro Fernando Honorato Barbosa. Na vertente do desenvolvimento turístico, a presidente executiva da Trip.com, Jane Sun, o comissário europeu Apostolos Tzitzikostas, o primeiro-ministro da Albânia e o ministro do Turismo da Arábia Saudita, Ahmad Alkhateeb, com quem Pedro Reis tem reunião marcada.
Energia dá gás ao segundo dia de trabalhos
Horas após Donald Trump tomar posse como 47º presidente dos EUA, começavam os trabalhos na estância de esqui mais famosa do mundo esta semana — e o tema Casa Branca não foi ignorado pelas personalidades que estiveram em Davos, nomeadamente a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho.
Em linha com o objetivo de Donald Trump de que os outros países aumentem as importações de petróleo e gás natural norte-americanos, o Governo português mostrou-se disponível e interessado em comprar mais Gás Natural Liquefeito (GNL) aos EUA e também à Nigéria para reduzir (ainda mais) os negócios de energia com a Rússia.
“Já somos bastante independentes do gás russo. Em 2021, tivemos 15% de importações deste gás e no ano passado passámos a importar 5%. Esperamos diminuir ainda mais essa percentagem, importando sobretudo gás da Nigéria e dos EUA”, antecipou ontem Maria Graça Carvalho, no debate em Davos.
A presidente da Comissão Europeia abordou o mesmo assunto e garantiu que existe interesse em negociar, embora “as regras do jogo” estejam “a mudar”. “Nenhuma outra economia está tão integrada como estamos. De todos os ativos americanos no estrangeiro, dois terços estão na Europa e os EUA fornecem 50% do nosso GNL. As empresas europeias contratam cerca de 3,5 milhões de americanos, e outros milhões de empregos dependem do comércio com Europa”, argumentou Ursula von der Leyen.
O CEO da EDP, que também se deslocou a Davos no dia seguinte à tomada de posse de Donald Trump, garantiu que continua a ver os EUA como um grande mercado para a empresa portuguesa, até porque a maior economia do mundo precisa “de toda a oferta [de energia] que for possível”. Em entrevista ao canal CNBC, Miguel Stilwell de Andrade previu inclusive o crescimento, dada a necessidade de fontes de energia para alimentar os centros de dados e desenvolvimento de sistemas de IA.
A 55ª edição do Fórum Económico Mundial, que decorre entre os dias 20 e 24 de janeiro, está subordinada ao tema “Collaboration for the Intelligent Age” (“Colaboração para a Era da Inteligência”) e deverá receber cerca de três mil líderes mundiais de 130 países, entre os quais 60 chefes de governo e 900 CEO ou presidentes de empresas. A CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, vai discursar na quinta-feira às 12h15 (hora de Lisboa) sobre como se pode garantir um acesso mais equitativo aos benefícios da inteligência artificial a nível global.
Para receber todas estas individualidades, a segurança está reforçada em Davos desde o Natal através de cerca de cinco mil membros das Forças Armadas suíças que estão destacados para evitar e responder às ameaças de violência ou terrorismo. Desta vez, o contexto meteorológico é menos severo, comparativamente ao ano passado, quando as mínimas eram de -16ºC. Até sexta-feira, esperam-se temperaturas mínimas de – 6ºC e máximas de 7ºC.
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