Reflexões sobre a transformação do mercado de trabalho e o “reskilling” na Europa
Para muitas empresas, o futuro não reside apenas na contratação de novos talentos, mas no investimento na requalificação das equipas existentes.
Tive a honra de participar no lançamento da New Career Network (NCN), uma plataforma visionária que promete redefinir a requalificação profissional no cenário europeu. O evento, promovido pela Sonae e realizado no icónico Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, reuniu líderes empresariais e representantes de organizações formadoras – incluindo a TechOf – para explorar estratégias inovadoras frente à crescente crise de talentos.
Os números falam por si: em 2023, cerca de 75% dos empregadores em 21 países europeus relataram dificuldades em encontrar profissionais com as competências necessárias – um salto alarmante em comparação com os 42% de 2018. Ao mesmo tempo, em outubro de 2024, 12,97 milhões de pessoas continuavam desempregadas na Europa (dados do Eurostat). Essa dicotomia entre a falta de talentos e o desemprego reflete um desequilíbrio estrutural no mercado de trabalho. A Comissão Europeia estima que, até 2030, cerca de 20 milhões de trabalhadores precisarão de adquirir novas competências para acompanhar a revolução digital e tecnológica.
O evento destacou a urgência dessa transformação. Uma sondagem em tempo real com os participantes revelou que 91% dos líderes presentes reconhecem a escassez de talentos como um desafio nas suas indústrias. Essa realidade exige não apenas ações imediatas, mas também uma abordagem colaborativa entre empresas, governos e instituições formadoras.
Como CEO da TechOf vejo na prática o impacto transformador e a importância de programas que não apenas ensinem competências técnicas, mas também desenvolvam soft skills e promovam uma mentalidade de aprendizagem contínua.
A transformação digital e a adoção das novas tecnologias, somada à automação de processos, está a acelerar exponencialmente e vai impactar significativamente o mercado de trabalho português nos próximos cinco anos. Para muitas empresas, o futuro não reside apenas na contratação de novos talentos, mas no investimento na requalificação das equipas existentes e na inclusão de profissionais oriundos de setores diversos.
Segundo o Fórum Económico Mundial, até este ano, 50% da força de trabalho global precisará de reskilling. A pergunta deixou de ser “quando investir em reskilling?” e passou a ser “como o fazer de forma eficaz?”.
A importância do reskilling reside na capacidade de capacitar os profissionais com novas competências, alinhadas às exigências do mercado em constante evolução. Muitas posições tradicionais estão a ser substituídas por funções emergentes, como análise de dados, gestão de projetos ágeis e especializações em inteligência artificial. Sem iniciativas de requalificação, corremos o risco de ver surgir um desajuste entre a oferta de mão de obra e as competências efetivamente requeridas pelas empresas, o que pode resultar em desemprego estrutural e perda de competitividade nacional.
Para além dos benefícios óbvios no desempenho das organizações, o reskilling também contribui para um ambiente de trabalho mais colaborativo e resiliente. Os colaboradores, ao sentirem-se valorizados com oportunidades de aprendizagem e crescimento, tornam-se mais motivados e propensos a inovar. Isto reflete-se na construção de equipas capazes de enfrentar a concorrência internacional e de responder mais rapidamente às mudanças no panorama económico. Em última análise, a aposta na formação contínua é também um estímulo ao empreendedorismo, uma vez que profissionais mais qualificados tendem a desenvolver soluções originais e criar projetos de negócios.
No evento de lançamento da NCN, ouvi histórias inspiradoras de pessoas que transformaram as suas vidas por meio da requalificação. Profissionais que transitaram de setores como a construção civil e a restauração para carreiras tecnológicas ou especializações em instalações sustentáveis. Trata-se de uma solução em que todos ganham: empresas, que recebem talentos qualificados e motivados, e profissionais, que encontram novas oportunidades e realizam o seu potencial.
Mas o sucesso dessas iniciativas não depende apenas de boas intenções. Ele exige compromisso contínuo e colaboração:
- Políticas públicas robustas que incentivem a requalificação e criem condições para que empresas invistam em formação;
- Empresas abertas a efetuar um diagnóstico rigoroso das suas necessidades de competências, envolvendo gestores e recursos humanos na definição de áreas prioritárias e, por fim, disponíveis a integrar profissionais requalificados, reconhecendo o valor da diversidade de experiências.
- Entidades formadoras ágeis e inovadoras, capazes de criar programas alinhados às necessidades reais do mercado.
O reskilling não é apenas uma solução para a crise de talentos. É uma estratégia de construção de um mercado de trabalho mais resiliente, inclusivo e preparado para os desafios do futuro. Acredito firmemente que, ao investirem na evolução das suas pessoas, as organizações estarão a preparar-se para liderar em vez de reagir, construindo um futuro mais dinâmico e promissor para a nossa economia.
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