Conseguimos colocar a Europa na liderança da inovação tecnológica?

  • Tomás Penaguião
  • 12:32

Neste milénio a Europa produziu uma única tecnológica avaliada em mais de 100 mil milhões de dólares (Spotify), enquanto nos EUA foram criadas pelo menos sete empresas avaliadas em mais de 1 bilião.

O ecossistema empreendedor europeu está a amadurecer e, num cenário pós tomada de posse da nova Administração norte-americana, pode encontrar novas oportunidades para reduzir o gap para os Estados Unidos da América (EUA) e China, bem como para se posicionar enquanto referência global.

Na Europa contamos com algumas das melhores universidades e centros de investigação a nível mundial, como a Universidade Oxford ou a Fundação Champalimaud, fontes de talento e Investigação e Desenvolvimento (I&D) que são a base de qualquer ecossistema. Além disso, existem 3.5 milhões de quadros tecnológicos altamente qualificados em startups, a maior parte criados na última década. Durante este período, segundo o “State of European Tech 2024”, o investimento em startups aumentou cerca de 10 vezes, passando de 43 mil milhões de dólares para 426 mil milhões de dólares, e neste momento existem 35 mil startups em fase early stage na Europa. Numa primeira análise, estes indicadores positivos parecem apontar para um caminho de evolução e uma perspetiva otimista para os próximos anos.

Como se costuma ouvir, os EUA inovam, a China copia e a Europa regula. Ao longo dos últimos anos, os organismos europeus demonstraram uma hostilidade crescente em relação ao empreendedorismo tecnológico implementaram medidas regulatórias apertadas.

No entanto, neste milénio a Europa produziu uma única empresa tecnológica avaliada em mais de 100 mil milhões de dólares (Spotify), enquanto nos EUA foram criadas pelo menos sete empresas avaliadas em mais de 1 bilião (Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla) e na China vários centacórnios — startups avaliadas em mais de 100 mil milhões de dólares (Tencent, Alibaba, Pinduoduo). A que se deve então esta discrepância de capacidade de geração de valor?

A regulação oferece uma explicação parcial. Como se costuma ouvir, os EUA inovam, a China copia e a Europa regula. Ao longo dos últimos anos, os organismos europeus demonstraram uma hostilidade crescente em relação ao empreendedorismo tecnológico implementaram medidas regulatórias apertadas. Além disso, a Europa não funciona como mercado único neste âmbito, e há diferenças significativas de país para país que condicionam a expansão internacional dentro do território europeu.

A falta de investimento em tecnologia e em distintas fases de crescimento do ecossistema também é um fator limitador. A Europa investe um valor residual do seu PIB em I&D, sobretudo nos países do Sul, como Portugal, cujo investimento fica abaixo dos 0,1%, comparativamente com mais de 0,5% nos EUA. No continente, verifica-se também um défice de financiamento disponível para empresas em fase de crescimento (Series B+), que se traduz numa dependência das empresas europeias na captação de capital estrangeiro para se afirmarem no panorama global.

Ainda assim, é importante colocar estes desafios em perspetiva. O continente europeu encontra-se num estágio de afirmação, não sendo justo fazer uma comparação direta com Silicon Valley, que se tem vindo a consolidar há mais de cinco décadas. Por isso, é preciso valorizar o crescimento e reforçar a confiança num futuro que se revela prometedor para a Europa. Para transformar as lacunas em oportunidades, é crucial cultivar uma mentalidade mais aberta ao risco, inspirada em casos de sucesso como os 350 unicórnios construídos em território europeu e nas startups que se tornaram referências globais (Spotify, Klarna ou Revolut).

A Europa investe um valor residual do seu PIB em I&D, sobretudo nos países do Sul, como Portugal, cujo investimento fica abaixo dos 0,1%, comparativamente com mais de 0,5% nos EUA. No continente, verifica-se também um défice de financiamento disponível para empresas em fase de crescimento (Series B+), que se traduz numa dependência das empresas europeias na captação de capital estrangeiro.

Importa ainda que governos, investidores e empreendedores trabalhem em conjunto para criar um ambiente regulatório mais favorável, para reduzir barreiras administrativas, facilitar a expansão dentro do território europeu e incentivar fusões e aquisições. Além disso, a retenção de talentos, através de condições atrativas para fundadores e equipas — como incentivos fiscais e políticas de mobilidade que facilitem a contratação de talento internacional — deve ser uma prioridade para as empresas na Europa, evitando a fuga para os Estados Unidos, que foram o destino escolhido por 85% das startups europeias que se realocaram na última década.

O cenário é desafiante, mas acredito que existe potencial para a Europa dinamizar o ecossistema empreendedor de base tecnológica. Para isto, precisamos de promover e enraizar uma cultura que celebre a ambição e inovação, fomente a colaboração e invista em grande escala no potencial humano e tecnológico. Ao fazê-lo, o continente tornar-se-á mais competitivo e reafirmará a sua posição enquanto referência global em inovação e empreendedorismo.

  • Tomás Penaguião
  • Partner da Bynd Venture Capital

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