Salário médio líquido dispara 10% para 1.142 euros. É a maior subida da década. Veja as profissões que mais ganham
Ordenado limpo de impostos aumentou 100 euros, no ano passado face a 2023. Militares tiveram o maior incremento à boleia do subsídio de risco. Mas a desigualdade entre homens e mulheres agravou-se.
O salário médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem, em Portugal, subiu 100 euros para 1.142 euros, o que corresponde a um aumento de 9,6%, em relação ao vencimento médio de 1.042 euros de 2023. É a maior subida da década, segundo as contas do ECO com base nos dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Na comparação com 2011, início da série, o ordenado médio, já limpo de impostos e contribuições, teve uma progressão de 331 euros (41%) face aos 811 euros praticados na altura.
Entre os grupos profissionais com incrementos mais generosos, o destaque vai para os militares das Forças Armadas que tiveram um aumento histórico de 22% (277 euros) à boleia da subida do suplemento de condição militar de 100 para 300 euros. Agricultores e técnicos de nível intermédio completam o pódio do grupo de profissões que sentiram valorizações salariais mais elevadas (ver tabela em baixo).
Analisando a evolução do salário médio líquido desde 2011, o ano mais antigo para o qual o INE disponibiliza dados, verifica-se que 2024 foi o ano no qual as remunerações, depois de descontados impostos e contribuições sociais, mais subiram. O aumento de 9,6% foi histórico, tendo em conta que as variações anuais rondaram sempre os 2% e 3%.
A forte subida do salário mínimo nos últimos anos, de 7,8% em 2023 e de 7,9% em 2024, a par da atualização remuneratória dos trabalhadores do Estado e da maior subida da base remuneratória da Administração Pública (BRAP) deram um especial contributo para a alavancagem do ordenado médio líquido no ano passado.
Para além disso, várias carreiras da Administração Pública como a dos professores, funcionários judiciais, forças de segurança (Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana), guardas prisionais, Forças Armadas e enfermeiros alcançaram, no ano passado, acordos para o descongelamento e valorização dos seus salários, o que também teve um peso especial na variação dos vencimentos médios.
Nunca em anos anteriores o ordenado médio tinha subido tanto. De lembrar que, em 2023, o incremento remuneratório foi de apenas 2,76%, tendo inclusivamente ficado aquém da inflação média registada naquele ano, de 4,3%. Recuando mais no tempo e excluindo a performance salarial de 2024, só se verificaram aumentos mais substantivos em 2020, com uma variação de 4,06%, e, em 2021, com 3,69%.
O período que registou uma evolução dos ordenados menos significativa está concentrado nos anos da governação de Pedro Passos Coelho, entre 2012 e 2014, fortemente marcada pela intervenção da troika. Em 2013, até houve uma contração de 0,62% do salário médio líquido mensal dos trabalhadores por contra de outrem, que caiu de 811 para 808 euros. Para esta evolução, contribuiu, por um lado, os cortes salariais entre 2,5% e 12% na Função Pública, aplicados em 2013, para quem auferisse mais de 600 euros brutos mensais e, por outro, o congelamento da retribuição mínima mensal garantida nos 485 anos, entre 2012 e 2014.
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Desigualdade salarial entre homens e mulher agravou-se para 206 euros
Apesar da evolução positiva das remunerações que, no ano passado, mais do que compensou a inflação média anual, de 2,4%, a desigualdade salarial entre homens e mulheres piorou. O fosso estava nos 178 euros e, agora, agravou-se para 206 euros, segundos os dados do INE. Aliás, esta tendência tem vindo a acentuar-se pelo menos desde 2022. Nesse ano, as trabalhadoras ganhavam menos 166 euros do que os congéneres masculinos.
Os homens também beneficiaram de um aumento mais generoso, de 10,14%, passando a ganhar, no ano passado, 1.249 euros em média, ou seja, mais 115 euros face ao vencimento de 1.134 euros.
O vencimento médio líquido das trabalhadoras, já depois dos descontos para IRS e as contribuições sociais, deu um salto menor, de 9,1% ou de 87 euros, passando de 956 euros para 1.043 euros, segundo os cálculos do ECO com base nas estatísticas do INE.
Maiores aumentos para as Forças Armadas, agricultores e técnicos
Quanto à variação do ordenado médio líquido mensal por conjuntos de profissões, o INE indica que a classe das Forças Armadas foi a que beneficiou da maior subida salarial (21,7%), que ultrapassou largamente a inflação de 2024 (2,4%). Este grupo auferia, em 2023, 1.274 euros por mês e viu o ordenado engordar 277 euros para 1.551 euros, no ano passado, o que traduz um avanço de quase 22%. Trata-se de um incremento recorde que, em grande medida, reflete a subida do suplemento de condição militar de 100 para 300 euros.
No ranking dos maiores aumentos, surge, em segundo lugar, a classe dos agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta, O salário médio destes trabalhadores subiu 75 euros, de 748 para 823 euros, o que corresponde a um aumento de 10%, também acima da variação do índice de preços.
A completar o pódio, na terceira posição, estão os técnicos e profissões de nível intermédio que passaram a ganhar 1.225 euros, ou seja, mais 109 euros face ao vencimento médio do ano anterior, de 1.116 euros. Esta variação de 9,8% também suplantou a inflação.
Todos os grupos de profissões registaram variações do salário médio líquido acima do índice de preços. De destacar, por exemplo, o pessoal administrativo: em termos absolutos, o ordenado médio subiu 81 euros, de 889 para 970 euros, o que corresponde a um aumento de 9,1%, mas já abaixo da variação global do vencimento médio líquido para o conjunto do país (9,6%).
No caso do grupo dos especialistas das atividades intelectuais e científicas, onde estão os professores e médicos, o vencimento médio líquido subiu 117 euros, de 1.452 para 1.569 euros, o que corresponde a uma variação de 8,1%.
Entre os grupos profissionais que registaram aumentos mais modestos, o destaque vai para a classe dos trabalhadores não qualificados, dos trabalhadores da montagem e dos gestores de topo de empresas e representantes do poder legislativo, como deputados ou membros do Governo.
No ano passado, o ordenado médio dos trabalhadores não qualificados subiu 40 euros para 697 euros face ao vencimento médio de 657 euros registado em 2023, o que corresponde a um incremento de 6,1%. É a variação mais comedida entre as profissões analisadas pelo INE. De salientar que estes valores estão abaixo do ordenado mínimo que, no ano passado, estava nos 820 euros mensais brutos, porque são já líquidos de impostos e contribuições sociais.
Os operadores e trabalhadores da montagem passaram a ganhar em média, no ano passado, 985 euros por mês, uma subida de 63 euros (6,8%) face ao vencimento anterior, que estava nos 922 euros.
Já os gestores de topo e os representantes do poder legislativa ganharam mais 123 euros, passando de um vencimento médio líquido de 1.763 euros para 1.886 euros. Ainda assim, é preciso sublinhar que esta categoria profissional é a mais bem remunerada, segundo os dados do INE.
O vencimento deste grupo de trabalhadores é mais do dobro do ordenado médio mais baixo, de 697 euros, pago aos trabalhadores não qualificados. A diferença entre o vencimento dos gestores de topo, de 1.886 euros, e o ordenado dos não qualificados é de 1.189 euros, o que corresponde a um fosso de 170,59%, que se tem vindo a agravar. Em 2023, a diferença estava nos 1.109 euros (169%).
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