Tarifas no alumínio e aço ameaçam exportações de mil milhões (se incluírem produto acabado)
Portugal exportou cerca de 274 milhões de euros de produtos de aço e alumínio para os EUA, o equivalente a 5,3% das exportações totais de aço e alumínio e a apenas 0,35% das exportações totais.
O (pré) anúncio de tarifas de 25% às importações de alumínio e aço está a deixar empresários, investidores e governantes em alerta. No caso português, o impacto das novas taxas aduaneiras vai depender se as tarifas são aplicadas apenas à matéria-prima ou se vão incidir sobre o produto acabado. Apenas num cenário em que sejam incluídos os bens já transformados é que as vendas da metalurgia e metalomecânica para os EUA, no valor de 1.000 milhões de euros, serão afetadas.
A indústria metalúrgica, campeã das exportações nacionais, está a acompanhar com expectativa o anúncio formal das tarifas sobre o alumínio e aço por parte dos EUA, depois de Donald Trump ter anunciado este domingo que iria avançar com uma ordem executiva para aplicar taxas aduaneiras sobre todas as importações de alumínio e aço.
Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), realça que “tudo depende do que for anunciado, se as tarifas forem sobre as matérias-primas, ou sobre produtos acabados“.
A confirmarem-se as tarifas de 25% [sobre os produtos acabados] isso poria em causa grande parte das exportações que estamos a fazer para os EUA
Rafael Campos Pereira explica ao ECO que, no caso das tarifas apenas serem aplicadas sobre a matéria-prima, isso não irá afetar o setor. Já “a confirmarem-se as tarifas de 25% [sobre os produtos acabados] isso poria em causa grande parte das exportações que estamos a fazer para os EUA”. Ou seja, cerca de mil milhões de euros.
O mercado norte-americano pesa apenas cerca de 4% do total das exportações da metalurgia e metalomecânica, que ronda os 24 mil milhões de euros.
Esta não é a primeira vez que Donald Trump avança com taxas sobre o aço e alumínio. Durante o seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, mas posteriormente concedeu a vários parceiros comerciais isenções de direitos aduaneiros, incluindo o Canadá, o México e o Brasil. Mais tarde, o antigo Presidente Joe Biden negociou acordos de contingentes isentos de direitos com a Grã-Bretanha, a União Europeia e o Japão.
O representante da associação refere que as empresas mais afetadas pela concretização destas taxas são fabricantes de máquinas e de peças técnicas. Ainda assim, o responsável nota que, “não há nenhuma [empresa do setor] com mais de 30% de exposição aos EUA”, calculando que com este nível de exposição haja apenas uma ou duas empresas.
Vendas de aço e metal para EUA pesam pouco
As exportações de produtos de aço e alumínio para os EUA têm um peso muito baixo no bolo total de exportações nacionais. Segundo os dados mais recentes do INE, Portugal exportou, em 2024, cerca de 274 milhões de euros de produtos de aço e alumínio para o mercado norte-americano, o equivalente a 5,3% das exportações totais de aço e alumínio e a apenas 0,35% dos 79 mil milhões de euros de exportações de todos os bens e produtos exportados para todo o mundo em 2024.
Além disso, os dados do INE revelam também que, no ano passado, o volume de exportações de bens de aço e alumínio para os EUA registou uma queda de 4%. Trata-se de uma queda muito superior à correção de 0,65% do total de exportações de bens de aço e alumínio. Em 2024, Portugal exportou 5,3 mil milhões de euros para os EUA, o que representa 6,7% das exportações nacionais.
Em termos globais, dos mais de 79 mil milhões de euros de exportações nacionais em 2024, 6,5% foram exportações de ferro e alumínio, num valor total de 5,15 mil milhões de euros.
Questionada sobre o potencial impacto destas tarifas, a APAL – Associação Portuguesa do Alumínio, realça que “diz-nos a prudência e experiências anteriores idênticas que será necessária mais informação e medidas executivas concretas para podermos avaliar a real dimensão das imposições de tarifas anunciadas pelo Presidente Trump”, refere o presidente da APAL.
O mercado norte-americano não representa uma quota parte significativa das suas exportações [de alumínio], e como tal o impacto direto destas medidas será residual para o setor exportador.
Quanto ao potencial impacto para as indústrias portuguesas do setor, “o mercado norte-americano não representa uma quota parte significativa das suas exportações, e como tal o impacto direto destas medidas será residual para o setor exportador“, explica José Dias, ao ECO.
O mesmo responsável adianta que “relativamente ao mercado do alumínio em lingote e em bilete, que afeta naturalmente a compra de matérias-primas, esse poderá ser o mais influenciado, uma vez que a colocação de taxas de importação por parte dos Estado Unidos, poderá direcionar países produtores que tradicionalmente colocam os seus produtos em espaço norte-americano para o espaço Europeu, originando assim uma alteração nos fluxos comerciais tradicionalmente operados neste espaço, sem que se consiga antecipar o comportamento dos preços, mas antecipando uma maior dificuldade de manutenção do elevado valor de alumínio reciclado que se consome no espaço Europeu, e que em muito contribui para a estratégia de descarbonização europeia”.
“Durante o dia de hoje (segunda-feira) não se verificaram grandes variações na Bolsa de Metais de Londres (LME), o que nos poderá levar a deduzir que o mercado está confiante no bom senso dos responsáveis pelos Estados envolvidos nos processos negociais, por forma a que estas mesmas decisões vão no sentido de proteger as suas economias e os seus consumidores”, acrescenta.
Mário Jorge, bastonário da Ordem dos Despachantes Oficiais, destaca que tarifas sobre o aço e o alumínio “não vão afetar diretamente” as exportações portuguesas, a não ser que as taxas sejam aplicadas a outros produtos.
Mesmo assim, o bastonário considera que todos serão afetados pela imposição de taxas aduaneiras, que terão impacto nos preços pagos pelos consumidores. “A guerra económica não é interesse das partes”, atira.
Num cenário marcado pela escalada do protecionismo, Mário Jorge acredita que as empresas portuguesas sejam incentivadas a procurar outros mercados alternativos aos EUA.
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