Só 15% dos que fazem cursos superiores profissionais têm emprego. Maioria prossegue estudos

Cursos técnicos superiores profissionais foram pensados para facilitar entrada no mercado de trabalho, mas podem estar a funcionar, em alternativa, como ponte entre secundário e ensino superior.

Os cursos técnicos superiores profissionais (TeSP) foram criados para “facilitar a entrada no mercado de trabalho”, mas só 15% dos diplomados estavam empregados como trabalhadores por conta de outrem entre 2016 e 2022, alerta um novo estudo. Em declarações ao ECO, Pedro Martins e Tomás Urbano, autores dessa análise e investigadores da Nova SBE, argumentam que estes cursos “não estão a cumprir a sua missão inicial”, mas, em alternativa, a servir de porta de entrada para níveis mais elevados no ensino superior.

De acordo com os dados recolhidos junto do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho pelos autores deste novo estudo, nos seis anos compreendidos entre 2016 e 2022, 26.391 pessoas concluíram cursos técnicos superiores profissionais. Destas, 15,4% conseguiram um emprego, isto é, estão ou estiveram empregados como trabalhadores por conta de outrem do setor privado.

Este número parece-nos (muito) baixo, dado o objetivo inicial do programa envolver a transição direta destes graduados para o mercado de trabalho”, salientam Tomás Urbano e Pedro Martins.

Em declarações ao ECO, os investigadores admitem existir “algum estigma” no mercado de trabalho em relação a estes cursos, sendo que “alguns estudos anteriores” já avisavam que o reconhecimento deste tipo de formação pela generalidade das empresas é limitado.

Alguns empregadores podem estar a associar (corretamente ou não) os TeSP a um ensino de menor qualidade em comparação com as licenciaturas, o que resulta em salários mais baixos e menos oportunidades de progressão na carreira para os diplomados”, observam os especialistas.

Alguns empregadores podem estar a associar (corretamente ou não) os TeSP a um ensino de menor qualidade em comparação com as licenciaturas, o que resulta em salários mais baixos e menos oportunidades de progressão na carreira para os diplomados.

Pedro Martins e Tomás Urbano

Investigadores da Nova SBE

Por outro lado, apesar de não terem sido pensados como ponte para níveis mais elevados no ensino superior, estes cursos “podem terem-se tornado em muitos casos em substitutos dos primeiros anos das licenciaturas“. Aliás, de acordo com os dados recolhidos, a maioria dos diplomados (65%) continuam os seus estudos para licenciaturas ou outros graus superiores.

“Ainda que não tenha sido o primeiro objetivo destes cursos quando foram criados, estes podem estar a contribuir para que alunos que transitariam do secundário para o mercado de trabalho agora consigam transitar para um TeSP e mais tarde para uma licenciatura ou até mestrado antes de entrar plenamente no mercado de trabalho“, detalham os referidos investigadores.

Salários 31,5% abaixo dos licenciados

O estudo assinado por Pedro Martins e Tomás Urbano analisa também os salários dos diplomados dos cursos técnicos superiores profissionais e conclui que estes são mais elevados do que os de quem tem somente o ensino secundário, mas mais baixos dos que os dos licenciados.

“Os trabalhadores por conta de outrem com diploma TeSP recebem salários, em média, 14,3% mais elevados do que trabalhadores da mesma idade mas apenas com ensino secundário. Por outro lado, os trabalhadores por conta de outrem com diploma TeSP recebem salários consideravelmente menores (31,5% menores) do que os trabalhadores licenciados com a mesma idade”, indica o novo estudo.

Segundo Pedro Martins e Tomás Urbano, a dinâmica é a esperada, tendo em conta que estes cursos só têm dois anos de duração (contra três anos de uma licenciatura), não conferem um grau académico e que as licenciaturas têm um “maior reconhecimento junto dos empregadores, visto serem um grau académico já estabelecido há muitos anos ou décadas“.

Cursos superiores profissionais custam menos

Os dados recolhidos pelos autores mostram também que os alunos inscritos em cursos TeSP provêm na sua maioria de cursos profissionais no ensino secundário, sendo que estes, importa notar, têm prioridade para até 50% destas vagas.

Por outro lado, no que diz respeito ao investimento público implicado nestes cursos, avança-se que o Fundo Social Europeu (via o programa Portugal 2030) disponibilizou 26,8 milhões de euros num concurso recente para apoiar estes cursos, “em até 5.150 euros por estudante”. “Este será um valor de referência para estimar o custo para o Orçamento do Estado de cada aluno TeSP por ano”, explicam os autores.

Apesar de os retornos salariais serem mais baixos que as licenciaturas, os cursos TeSP também são muito mais baratos.

Pedro Martins e Tomás Urbano

Investigadores da Nova SBE

Questionados sobre este ponto, Pedro Martins e Tomás Urbano adiantam que este valor parece mais baixo do que o que é desembolsado por aluno em “muitas licenciaturas, sobretudo as mais técnicas”. Assim, apesar de os retornos salariais serem mais baixos do que os das licenciaturas, estes cursos são também “muito mais baratos”, notam os investigadores.

Criados em 2014, os cursos técnicos superiores profissionais procuram promover a ligação entre instituições de ensino e as necessidades regionais e são direcionados preferencialmente a estudantes que concluem o ensino secundário profissional.

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