Negócio perdulário da TAP no Brasil. “Faria de novo? Não”, assume ex-CEO Fernando Pinto
No Parlamento, Fernando Pinto lembrou que, à época, a manutenção era o “melhor negócio do mundo na aviação” e que compra da Varig Manutenção & Engenharia contou com o “entusiasmo total” da Parpública.
Um dos temas mais polémicos na história da TAP neste século foi a aquisição da Varig Manutenção & Engenharia em 2006, que abriria um buraco de mais de 900 milhões na companhia aérea portuguesa. Fernando Pinto, que era a altura o presidente executivo da transportadora, afirmou esta quarta-feira no Parlamento que não faria o negócio, pelo menos não da mesma forma.
“No geral, isso [VEM/TAP ME Brasil] foi bom. Se me pergunta se faria de novo? Não, eu tentaria fazer de outra forma, para não ter esses custos, problemas e tudo mais, mas ninguém consegue adivinhar o futuro”, disse o gestor, que está a ser ouvido na Comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação sobre as conclusões da auditoria da Inspeção-Geral das Finanças (IGF) às contas da TAP, divulgada em agosto de 2024.
A análise da IGF considerou que o racional económico da aquisição da Varig Manutenção & Engenharia não ficou demonstrado, contabilizando perdas superiores a 906 milhões de euros, até 2023.
Na audição desta manhã, Fernando Pinto lembrou que, à época, a manutenção era o “melhor negócio do mundo na aviação”, mas o contexto alterou-se posteriormente, com as diversas crises, entre as quais a do petróleo, em 2008. Adicionalmente, explicou, os custos da VEM aumentaram com a valorização do real no Brasil, que levou também aos aumentos dos custos com mão-de-obra.
O antigo CEO, que deixou a TAP em 2017, referiu aos deputados que a compra da VEM contou com o “entusiasmo total” da Parpública, que considerava a manutenção de aeronaves “o melhor negócio”. O antigo responsável explicou que, a partir do momento em que a TAP percebeu que a ME Brasil não dava resultados, tentou-se a venda, várias vezes, mas sem sucesso.
Adicionalmente, Fernando Pinto apontou que encerrar a empresa não foi uma opção porque traria prejuízos muito maiores à TAP devido a questões fiscais no Brasil, que a empresa estava a questionar legalmente. “Naquele tempo, eu não apostava no encerramento. Apostava, sim, na recuperação e isso aconteceu em 2018, antes do problema com a Covid. Ela [VEM] teve resultados operacionais positivos”, realçou.
Questionado sobre as afirmações do antigo administrador da companhia aérea Diogo Lacerda Machado, de que o negócio no Brasil “foi de longe o melhor investimento que a TAP fez em 50 anos” e que sem ele a companhia, provavelmente, hoje não existiria, Fernando Pinto concordou que a manutenção ajudou ao crescimento do transporte aéreo – a TAP SA – que tinha bons resultados.
Quanto ao ex-acionista David Neeleman, Fernando Pinto considerou que Portugal tem muito a agradecer-lhe, por ter aberto o mercado americano à TAP.
Em entrevista à Lusa, em janeiro de 2022, a então presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, anunciou que, após tentativas de venda falhadas, o grupo tinha decidido encerrar gradualmente as operações de Manutenção e Engenharia Brasil (TAP ME), como parte do plano de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia no mês anterior, que exigia a separação dos ativos não-essenciais, nomeadamente o negócio de manutenção no Brasil, e os de ‘catering’ (Cateringpor) e de handling (Groundforce).
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Negócio perdulário da TAP no Brasil. “Faria de novo? Não”, assume ex-CEO Fernando Pinto
{{ noCommentsLabel }}