Custo da água ‘perdida’ no país é de 152 milhões só num ano
A água perdida por falhas nas redes podia encher 8,7 piscinas olímpicas por hora e dar resposta a mais do dobro (2,5 vezes) do consumo urbano no Algarve.
A Entidade Reguladora dos Serviços da Água e Resíduos estima que as perdas de água do sistema e as águas residuais que são desperdiçadas custaram, só em 2023, um total de 152 milhões de euros, os quais podiam ter sido poupados e que acabam por ser refletidos nas faturas dos consumidores.
De acordo com o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos de Portugal (RASARP), caso fossem eliminadas 80% das perdas reais de água no sistema e se 10% das águas residuais tratadas fossem reutilizadas, podiam-se ter poupado 152 milhões de euros em 2023.
Esta poupança tem em conta os gastos que as entidades gestoras tiveram com a aquisição de água para abastecimento público, e que não seriam necessários se a maioria das ineficiências da rede fossem eliminadas (reduzindo as chamadas perdas reais), assim como os gastos que podiam ter sido evitados com o tratamento das águas que não deviam ter ido parar ao sistema de águas residuais (as afluências indevidas), devido por exemplo à sua qualidade.
Em 2023, registou-se um total de 191 milhões de metros cúbicos de perdas de água no sistema o que, de acordo com a apresentação do RASARP feita pelo regulador esta manhã, equivale a encher 8,7 piscinas olímpicas por hora. Uma quantidade que seria suficiente para dar resposta a mais do dobro (2,5 vezes) do consumo urbano no Algarve. Estes 191 milhões dividem-se entre 170 milhões relativos ao sistema de distribuição (em baixa) e 21,3 milhões dizem respeito ao sistema de captação e tratamento (em alta).
“Este volume de perdas reais traduz-se em gastos desnecessários que as entidades gestoras em baixa têm de suportar com a compra de água às entidades gestoras em alta (…) e que, por sua vez, são repercutidos nas tarifas cobradas ao utilizador final”, lê-se no RASARP.
Caso se mantenha a tendência até agora verificada, estima-se que o potencial de poupança associado às perdas reais ascenda a cerca de 520 milhões de euros até 2030.
De acordo com o relatório, no período de 2019 a 2023, o custo das perdas totalizou 433 milhões de euros, com 2021 a apresentar os maiores custos (89 milhões de euros) e sendo que estas perdas económicas nunca foram menores que 83 milhões, o valor mais baixo, registado em 2022. “Caso se mantenha a tendência até agora verificada, estima-se que o potencial de poupança associado às perdas reais ascenda a cerca de 520 milhões de euros até 2030”, escreve a ERSAR, no relatório.
Já no que toca aos custos das influências indevidas, isto é, da água que não deve afluir ao sistema de águas residuais, contabilizam-se em 102 milhões de euros em 2023, o valor mais alto desde 2019, ano desde o qual este custo tem-se mantido entre os 61 e os 74 milhões de euros. “Caso se mantenha a tendência até agora verificada, estima-se que o potencial de poupança associado a esta componente ascenda a cerca de 450 milhões de euros até 2030”, acrescenta o regulador.
Neste sentido, um total de 970 milhões de euros podem ser desperdiçados, até 2030, por ineficiências do sistema de abastecimento de água. No entanto, ressalva o regulador, este valor nunca poderia ser poupado na totalidade, já que não é possível eliminar por completo as ineficiências do sistema. É nesse sentido que a ERSAR aponta para uma poupança possível de 152 milhões em 2023, ano para o qual foi calculada a poupança com base num cenário mais realista, de resolução de 80% das perdas e recuperação de 10% das afluências indevidas.
Fatura média da água voltou a subir em 2024
A fatura média da água a nível nacional foi de 30,99 euros no ano de 2023, indica a Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos. Este valor subiu, em 2024, para os 31,79 euros, e tem sido ascendente nos últimos 10 anos, com exceção de um ligeiro recuo em 2021.
Os dados de 2023 foram partilhados esta sexta-feira a propósito da apresentação do Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos de Portugal (RASARP), e podem ser comparados com os dados de junho de 2024 que, apesar de poderem ter sofrido alterações ao longo do último semestre do ano, são representativos dos tarifários que foram comunicados ao regulador para vigorar ao longo do ano passado.
Os valores da fatura apresentados correspondem a um consumo mensal de 10 metros quadrados, que é o consumo típico de um agregado familiar em Portugal. Em 2024, a fatura mais barata foi recebida em Vila Nova de Foz Côa, onde a fatura se fica pelos 9,51 euros, enquanto em Amarante a mesma ascende a 46,76 euros. Uma diferença de mais de 37 euros mensais.
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A acessibilidade económica do serviço é considerada “positiva” pelo regulador, mas “muito negativa” na cobertura de gastos, de acordo com a apresentação que foi feita do RASARP. “Na prestação de serviços em baixa é de salientar o facto da maioria das entidades gestoras que não recupera os gastos com a prestação dos serviços de águas e resíduos operar em regime de gestão direta [geralmente serviços municipais ou municipalizados], podendo ser a predominância deste modelo de gestão a justificação para que o setor dos resíduos obtenha o pior desempenho económico”, lê-se no relatório.
A ERSAR dá ainda conta de que o setor ter vindo cada vez mais a adotar modelos empresariais, embora seja mais comum no serviço em alta. Neste serviço, mais de 90% da população é abrangida por entidades gestoras com modelo de gestão empresarial. No serviço em baixa, a percentagem é inferior, fixando-se nos 51% no serviço de abastecimento de águas, nos 45% nos serviços de águas residuais e apenas em 18% nos serviços de resíduos urbanos.
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