Gronelândia tem recursos estratégicos cobiçados mas limitados

  • Lusa
  • 5 Março 2025

O presidente dos EUA voltou a dizer que pretende incorporar a Gronelândia nos EUA “de um forma ou de outra”.

A Gronelândia, o vasto território autónomo da Dinamarca cobiçado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, contém minerais essenciais para a transição energética e hidrocarbonetos, mas as reservas continuam a ser modestas à escala mundial.

Trump reafirmou na terça-feira, perante o Congresso em Washington, que quer incorporar a Gronelândia nos EUA, alegando questões de defesa internacional, e disse perentoriamente que isso acontecerá “de um forma ou de outra”.

As autoridades dinamarquesas e gronelandesas rejeitaram esta quarta a pretensão de Trump, com o chefe do governo regional, Múte Bourup Egede, a assegurar que a Gronelândia não está à venda nem quer fazer parte dos Estados Unidos.

Principais riquezas minerais da Gronelândia, uma ilha do Ártico pertencente à Dinamarca, embora com um estatuto de autonomia desde 2009, segundo a agência francesa AFP:

Terras raras

Com recursos de terras raras estimados em 36,1 milhões de toneladas (Mt) pelo Serviço Geológico Nacional da Dinamarca e da Gronelândia (GEUS), a ilha possui um stock significativo destes 17 metais cobiçados pela indústria do futuro e cuja procura deverá aumentar nos próximos anos.

Mas as reservas, que correspondem a recursos económica e tecnicamente recuperáveis, são da ordem dos 1,5 Mt, segundo o último relatório do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Um valor modesto em comparação com as reservas da China (44 Mt) ou do Brasil (21 Mt), mas suficiente para interessar os fabricantes que procuram diversificar as fontes de abastecimento face ao domínio chinês.

No final da cadeia, as terras raras podem ser encontradas num ‘drone’, numa turbina eólica, num disco rígido, num motor de carro elétrico, numa lente de telescópio ou num avião de combate.

Lítio, grafite, urânio e cobre

Segundo o GEUS, os solos da Gronelândia também contêm grafite, lítio e cobre, três minerais definidos pela Agência Internacional da Energia (AIE) como críticos para a transição energética.

O National Geological Survey estimou os recursos de grafite em 6 Mt, ou seja, 0,75% do total mundial calculado pelo USGS. De acordo com um relatório da AIE de maio de 2024, a China “domina toda a cadeia de produção” deste mineral, que é utilizado tanto nas baterias como na indústria nuclear.

Quanto ao lítio, que desempenha um papel crucial nas baterias e cuja procura poderá aumentar oito vezes até 2040, segundo a AIE, os recursos da Gronelândia foram estimados em 235.000 toneladas, ou seja, 0,20% do valor global.

A presença de cobre na Gronelândia, que não é muito significativa à escala mundial, parece menos estratégica do que a do urânio, um combustível nuclear cobiçado cuja extração na ilha foi proibida por lei em 2021.

Uma mina ativa, outra a arrancar de novo

Existe apenas uma mina ativa na Gronelândia: um depósito de anortosito (uma rocha formada a grande profundidade na Terra) na costa oeste explorado pela Lumina Sustainable Materials, com uma produção muito limitada. A atividade da mina tem sido muito intermitente e a sua propriedade mudou várias vezes ao longo dos anos.

A mina de ouro de Nalunaq, propriedade da empresa canadiana Amaroq Minerals, no sul da Gronelândia, está em vias de ser reiniciada. “Estão a ser desenvolvidos vários outros projetos, alguns dos quais atingiram a fase de viabilidade e obtiveram licenças de exploração”, disse o consultor sénior da GEUS Jakob Klove Keiding à AFP.

“Mas ainda necessitam de um investimento adicional significativo e de autorizações finais antes de poderem entrar em produção”, acrescentou.

A União Europeia, que identificou 25 dos 34 minerais da lista oficial de matérias-primas essenciais na Gronelândia, de acordo com um comunicado de 2023, assinou no mesmo ano um memorando de entendimento com o governo da Gronelândia para apoiar o “desenvolvimento de recursos minerais” na ilha.

Trata-se de uma parceria estratégica, numa altura em que o Ártico está a aquecer até quatro vezes mais depressa do que o resto do mundo, abrindo novas perspetivas para o transporte marítimo e a exploração de recursos como o petróleo e o gás.

Hidrocarbonetos

Poderão ser descobertos na ilha cerca de 28,43 mil milhões de barris de petróleo equivalente de hidrocarbonetos, segundo uma estimativa da GEUS, da National Oil Company of Greenland (Nunaoil) e da Greenland Mineral Resources Authority (MRA), com base em dados do setor.

Embora abundante, este depósito potencial daria ainda uma contribuição limitada para a procura mundial, uma vez que só os Estados Unidos consumirão mais de 7.000 milhões de barris em 2023, segundo a Agência de Informação sobre Energia dos EUA (EIA).

Nunca foi efetuada qualquer perfuração industrial de petróleo ou gás na Gronelândia, embora estejam ativas três licenças de exploração de petróleo no leste do território.

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