Mercado em ebulição chama pelo Novobanco

Novobanco acelera preparativos para IPO para aproveitar momento dourado da banca europeia. Até ao final da próxima semana, Mark Bourke estará entre Londres e Nova Iorque em reuniões com investidores.

A banca europeia atravessa um momento particularmente positivo, com as ações dos maiores bancos da Zona Euro a acumularem uma valorização média de 32,6% desde o início de 2025. Um desempenho que supera significativamente o índice Stoxx 600, referência para as ações europeias, que regista ganhos mais modestos de 9,9% no mesmo período, ou mesmo o índice Euro Stoxx 50, que agrega as 50 maiores empresas da Zona Euro, que subiu 13%.

Mais impressionante ainda é que 14 dos 28 maiores bancos da área do euro que integram o índice Euro Stoxx Banks acumulam valorizações superiores a 30% desde janeiro, demonstrando a robustez do setor no atual ciclo económico.

Este cenário favorável no mercado de capitais tem servido como chamariz para um particular dinamismo do ambiente de fusões e aquisições no setor financeiro europeu, que coincide justamente com os planos do Novobanco para avançar com a sua oferta pública inicial (IPO) ainda este ano até junho ou até setembro.

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As taxas de juro mais elevadas nos últimos anos e os buffers de capital significativamente melhorados têm fortalecido a capacidade dos bancos europeus prosseguirem estratégias de aquisição, permitindo-lhes capitalizar oportunidades de crescimento mesmo após a distribuição de dividendos e programas de recompra de ações cada vez mais generosos.

“Espera-se que a atividade de negociação nos mercados bancários e de capitais aumente, especialmente nos EUA e na Europa, uma vez que alguns dos fatores que inibiram as fusões e aquisições entre 2022 e 2024 parecem estar a diminuir”, destaca Christopher Sur, analista da Pwc numa análise às tendências globais de fusões e aquisições nos serviços financeiros.

É num contexto de consolidação e de forte dinamismo do setor bancário que o Novobanco mantém inalterados os seus planos para avançar com um IPO “no final do segundo trimestre ou no final do terceiro trimestre deste ano”, como já anunciou o CEO do banco.

Desde há alguns meses que o bancário europeu atravessa uma vaga de consolidação como há muito não se via, com as instituições a procurarem reforçar as suas posições de mercado, expandir a base de ativos e melhorar a rentabilidade num ambiente competitivo cada vez mais exigente. E dificilmente essa onda irá parar nos próximos meses.

“Estamos mais otimistas sobre M&A no setor bancário do que estivemos nos últimos cinco anos”, destaca a sociedade de advogados Katten numa nota publicada no final de janeiro, sublinhando ainda que “à medida que se aproxima um ambiente de margens de juros líquidas mais baixas, os credores do Reino Unido e da Europa que tinham colocado de lado negócios transformacionais, precisarão de agir rapidamente, embora com cuidado”.

Onda de fusões e aquisições na banca europeia

Os últimos meses foram marcados por operações significativas no setor bancário europeu que, de alguma forma, estão a redesenhar a paisagem. Entre as mais relevantes, destaca-se a completa absorção do Credit Suisse pelo UBS, uma operação iniciada em 2023 e cujo processo de integração continua em 2025. Este negócio representa uma das maiores reestruturações bancárias da história europeia recente.

No Reino Unido, o Nationwide finalizou a aquisição Money por cerca de 3,4 mil milhões de euros em outubro, enquanto o Coventry Building Society completou a compra do Co-Op Bank no primeiro dia de 2025 por cerca de 940 milhões de euros. Em Espanha, o BBVA continua a perseguir uma oferta hostil pelo Banco Sabadell, um negócio avaliado em mais de 12 mil milhões de euros que enfrenta o seu último teste este mês, altura em que a autoridade reguladora da concorrência poderá anunciar os resultados da sua análise.

Uma das operações mais controversas é a tentativa da UniCredit italiana de aumentar a sua participação no Commerzbank, já tendo alcançado 28% da propriedade do segundo maior banco da Alemanha. Esta movimentação gerou forte oposição política na Alemanha, deixando um alerta para a ocorrência de eventuais tensões nacionalistas que podem surgir em fusões transfronteiriças, como sucedeu com a operação sobre o Commerzbank.

O atual ciclo de consolidação no setor bancário europeu está longe de terminar. À medida que as taxas de juro começam a diminuir, é provável que a atividade de fusões e aquisições ganhe ainda mais ímpeto.

Em Itália, o cenário é especialmente dinâmico, com múltiplas operações simultâneas: a UniCredit lançou uma oferta de 10 mil milhões de euros pelo Banco BPM no final de 2024, enquanto o Crédit Agricole aumentou sua participação no mesmo banco para defender seus interesses existentes. Simultaneamente, o Banca IFIS anunciou uma oferta de 298 milhões de euros para adquirir a totalidade do capital do Illimity Bank, o Banco BPM e a Anima aumentaram conjuntamente a sua participação no Banca Monte dei Paschi di Siena (BMPS), enquanto o próprio BMPS anunciou uma surpreendente oferta de 13,3 mil milhões de euros pelo Mediobanca.

Em outros mercados europeus, o banco dinamarquês Nykredit avançou com uma oferta de cerca de 3,3 mil milhões de euros em dinheiro para comprar o rival Spar Nord Bank, criando assim “o terceiro maior banco da Dinamarca, com uma forte base de clientes, a maior rede de agências da Dinamarca e sólidas posições de mercado nos sectores do retalho e empresarial”, destacam as duas instituições num comunicado comum.

É neste contexto de consolidação e de forte dinamismo do setor bancário que o Novobanco mantém inalterados os seus planos para uma oferta pública inicial (IPO), prevista para ocorrer “no final do segundo trimestre ou no final do terceiro trimestre deste ano”, como confirmou Mark Bourke, CEO do Novobanco, numa nota enviada aos funcionários do banco em meados de fevereiro.

Mark Bourke, CEO do Novo Banco, em entrevista ao ECO - 02FEV24
Mark Bourke, CEO do Novobanco, e a sua equipa estarão a viajar entre Londres e Nova Iorque até ao final da próxima semana em reuniões com vários investidores com o intuito de promoverem o IPO do Novobanco e assim captarem o interesse para a operação.Hugo Amaral/ECO

Coordenação global para colocar o Novobanco em bolsa

A janela temporal que Mark Bourke deu em meados de fevereiro para avançar com o IPO do Novobanco, que aponta essencialmente para junho ou setembro, não sofreu qualquer alteração, apesar da crise política em Portugal que poderá levar à ocorrência de eleições antecipadas, referiu o banqueiro esta quinta-feira na apresentação dos resultados do banco aos analistas.

A mensagem do banqueiro foi também reforçada numa entrevista à Bloomberg, com Bourke a referir que “se tudo correr bem, se conseguirmos otimizar a estrutura de capital, poderemos atingir a janela do segundo trimestre”.

É nesse sentido que Bourke mantém uma agenda intensa nos próximos dias focada em garantir o sucesso da operação. Segundo sabe o ECO, a sua agenda está preenchida com encontros com investidores em Londres e Nova Iorque até ao final da próxima semana, justamente com o intuito claro de captar o interesse dos investidores para o IPO.

O IPO do Novobanco pode traduzir-se numa operação acima de mil milhões de euros, tornando esta na maior oferta pública em Portugal desde a entrada em bolsa da EDP Renováveis em 2008.

Um dos aspetos ainda em aberto é a percentagem exata do capital do banco que será colocada no mercado. Esta alocação, que deverá variar entre 20% e 30%, estará dependente da procura por parte dos investidores. Com base numa recente estimativa dos analistas da JB Capital, que avaliam o banco entre 4,8 mil milhões e 6,2 mil milhões de euros, significa que, potencialmente, o IPO do Novobanco possa traduzir-se numa operação acima de mil milhões de euros, tornando esta na maior oferta pública em Portugal desde a entrada em bolsa da EDP Renováveis em 2008.

Para coordenar esta operação, o Novobanco já selecionou um conjunto de parceiros financeiros, como o Bank of America, Deutsche Bank e JPMorgan Chase, que foram designados como coordenadores globais do IPO, conforme confirmou o próprio CEO.

Adicionalmente, o banco inclui na equipa o BNP Paribas, a Jefferies Financial Group e a Keefe, Bruyette & Woods (KBW), ampliando assim a capacidade de distribuição internacional da oferta, segundo informações recolhidas pela Bloomberg junto de fontes relacionadas com a operação.

Este é mais um sinal de que o Novobanco continua a trabalhar intensamente na preparação do prospeto para o IPO, que ainda está dependente de uma autorização do regulador para poder realizar uma redução de capital planeada – trata-se de um elemento crucial para o avanço da operação nos prazos previstos.

O atual ciclo de consolidação no setor bancário europeu está longe de terminar. À medida que as taxas de juro começam a diminuir, é provável que a atividade de fusões e aquisições ganhe ainda mais ímpeto, com os bancos a procurarem escalar operações e aumentar a rentabilidade num ambiente cada vez mais competitivo.

Para o Novobanco, o IPO planeado representa não apenas uma oportunidade de refinanciamento para os seus acionistas atuais, mas também um passo crucial para o seu estabelecimento como um participante independente e sustentável no mercado bancário europeu.

No entanto, como prudentemente observou Mark Bourke, a Lone Star “manterá todas as opções em aberto até não estar mais presente”, sugerindo que alternativas ao IPO, como uma potencial venda a outro banco, não estão completamente descartadas.

A recente análise do CEO da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, sobre a possível aquisição do Novobanco, bem como as declarações do CEO do Banco Comercial Português, Miguel Maya, sobre um eventual interesse no banco, ilustram o dinâmico ambiente de consolidação que caracteriza o setor atualmente.

À medida que o Novobanco avança com os seus planos de IPO e os bancos europeus continuam a explorar oportunidades de fusão e aquisição, o setor bancário europeu está a caminho de uma transformação significativa. Esta reorganização poderá potencialmente fortalecer a posição competitiva dos bancos europeus face aos seus homólogos americanos e chineses, embora o caminho para desafiar os gigantes globais seja ainda longo e complexo.

A evolução do Novobanco, de um banco problemático nascido de uma crise para um potencial protagonista de uma das maiores ofertas públicas em Portugal nas últimas décadas, que fechou as contas de 2024 com lucros recorde de 744,6 mil milhões de euros e tem disponível 3,5 mil milhões de euros para entregar aos acionistas nos próximos três anos, simboliza perfeitamente a resiliência e a contínua evolução do setor bancário europeu.

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