“Não é compreensível.” Centeno volta a criticar bancos por juros baixos nos depósitos
Banqueiros recusam a ideia de que pagam pouco aos depositantes, mas o governador diz que "não é muito compreensível" quando recebem taxas mais elevadas pelo dinheiro que guardam no banco central.
O governador do Banco de Portugal voltou a criticar os bancos por não remunerarem devidamente os depositantes quando conseguem taxas de juro “significativamente” superiores junto do banco central. Ideia que os banqueiros recusam: “Não é um tema tão relevante”.
“O que é exigido à banca? Muito. É exigido à banca que cuide das almofadas que consiga criar, é exigido à banca – e hoje podemos exigir — que apoie a economia, e que reflita no rendimento que dá às poupanças dos portugueses aquilo que é a remuneração que obtém nos bancos centrais dos depósitos que lá tem”, começou por dizer Mário Centeno na intervenção de encerramento do Fórum Banca, organizado pelo Jornal Económico.
Centeno disse mesmo que “não é muito compreensível que haja diferença significativa na remuneração dos depósitos da banca junto do banco central pelo Banco de Portugal e a remuneração dos depósitos que a banca faz aos seus clientes”.
De acordo com o banco central, os novos depósitos já pagam menos de 2%, enquanto a taxa de juro de depósito do Banco Central Europeu (BCE) se situa nos 2,5%.
Não foi a primeira vez que o governador condenou a postura dos bancos neste tema. Esta quarta-feira lembrou que “a capacidade dos bancos em atrair depósitos é atribuída por nós, pelo país”. “E é uma responsabilidade social da banca gerir as poupanças dos portugueses, gestão que é feita com base no sistema que depende da confiança e foi a falta de confiança que nos trouxe às anteriores crises anteriores”. “Não podemos pôr em causa nunca essa confiança”, alertou.
Segundo Centeno, “a banca tem uma obrigação de respeitar o contrato social que tem e lhe é atribuído fiduciariamente pelo Estado na gestão das poupanças portugueses”.
Banca diz que é tema de concorrência
Antes da intervenção o governador, os líderes dos maiores bancos também abordaram o tema. E desvalorizaram as críticas. “Não é um tema tão relevante”, disse o CEO do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida.
“Os depósitos em Portugal, ao contrário do que a maioria das pessoas dizem, não estão mal pagos, são pagos de acordo com a lei da procura e da oferta de um mercado altamente competitivo. Não é de todo um problema, os bancos continuam a competir de forma muito agressiva”, referiu o líder do BCP, Miguel Maya.
Para João Pedro Oliveira e Costa, “é um tema completamente concorrencial”. “O mercado é aberto, é livre, há muitas alternativas de investimento e boas. Os bancos têm crescido nos depósitos. Não há muito mais a dizer”, disse o CEO do BPI.
Acautelar viragem do ciclo
Sem falar da crise política, o governador reiterou ainda o aviso aos bancos sobre o trabalho de casa que devem fazer para enfrentarem a mudança de ciclo económico.
“Se gozamos de uma situação cíclica muito positiva em Portugal — que não temos na Europa, pois Portugal está a crescer acima do PIB potencial – (…) temos de nos acautelar para as variações do ciclo. A pior coisa que podemos fazer hoje é sentar em cima de uma situação cíclica positiva e pensar que se vai perpetuar. Não é assim, não vai ser assim no futuro”, avisou Centeno.
(Notícia atualizada às 14h01)
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