Cartas contra a diversidade. Empresários recusam “ir a reboque dos humores” dos EUA
EUA enviaram cartas a empresas em Portugal a informar que têm de abandonar as políticas de diversidade. Patrões criticam, sublinhando que regras da Europa não devem ser fixadas por Washington.
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defenderam esta quinta-feira que os Estados Unidos não devem determinar as regras na União Europeia, quando questionados sobre as cartas que o Governo norte-americano enviou a empresas em Portugal a avisar que estas devem abandonar os seus programas de diversidade, noticiadas em exclusivo pelo ECO.
“Não devem ser os Estados Unidos a determinar as regras na Europa. A Europa tem na sua história civilizações milenares. Fizemos aqui a Revolução Francesa. Já existíamos quando outros ainda não existiam. Não faz sentido que alinhemos sempre pelo diapasão do que impõe a administração americana“, salientou o líder da CIP, Armindo Monteiro, na conferência de imprensa em as confederações empresariais apresentaram as propostas que vão enviar aos partidos, no âmbito das eleições legislativas.
“Tem de ser a Europa a definir a sua política e não irmos a reboque dos humores de Washington, sobretudo na atual conjuntura política”, concordou o presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura.
Aos jornalistas, o responsável disse, contudo, que isso “pressupõe que a Europa aumente a sua autonomia estratégica“, o que depende da soberania alimentar, frisou.
Tem de ser a Europa a definir a sua política e não irmos a reboque dos humores de Washington, sobretudo na atual conjuntura política.
“Soberania alimentar é o pressuposto primeiro para termos autonomia estratégica. Há aqui uma importância acrescida de se olhar para tudo o que é o agroalimentar, ou seja, tudo aquilo que é nós, europeus, termos a certeza de que, aconteça o que acontecer, sejam quais forem os humores de outras partes do mundo ou as guerras que existam na nossa fronteira, teremos comida no prato“, argumentou Mendonça e Moura.
Conforme avançou em exclusivo o ECO na segunda-feira, a embaixada dos Estados Unidos em Portugal está a levar a cabo uma revisão global dos contratos entre o Governo norte-americanos e empresas nacionais, o que inclui a certificação de que estas cumprem a ordem executiva assinada em janeiro por Donald Trump que põe um “ponto final” nos programas de diversidade.
O objetivo, lê-se nesse documento, é “acabar com a discriminação ilegal e restaurar as oportunidades baseadas no mérito”. Isto não só no seio do Governo o Estados Unidos, mas também nas empresas que com ele têm contratos, daí que várias empresas da União Europeia estejam agora a receber cartas a indicar que devem abandonar os seus programas de diversidade.
Em reação, a presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), Carla Tavares, já defendeu que está em causa “uma inaceitável intromissão” na política interna dos países e da União Europeia e confessou-se preocupada com este “sinal de retrocesso” nos direitos humanos.
Também a Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI) já disse estar muito preocupada com as missivas enviadas a empresas portuguesas. “São uma falta de respeito para com a soberania dos países e das organizações“, sublinhou a coordenadora de projetos Mónica Canário, em declarações ao ECO.
O ECO também pediu uma reação ao Governo, mas até agora não obteve resposta. O Ministério da Economia remeteu para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que se mantém, por sua vez, em silêncio.
(Notícia atualizada às 13h22)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Cartas contra a diversidade. Empresários recusam “ir a reboque dos humores” dos EUA
{{ noCommentsLabel }}