Exclusivo Setor dos ‘data centers’ inicia esforços para tentar captar uma Gigafábrica de IA para Portugal

Reunião entre setor dos 'data centers' e Ministério da Economia abordou dinamização de uma eventual candidatura portuguesa às Gigafábricas de IA da Comissão Europeia.

A PortugalDC está a iniciar esforços para tentar dinamizar uma candidatura portuguesa a uma das cinco Gigafábricas de IA da Comissão Europeia. Os trabalhos estão numa fase “muito embrionária”, mas a associação setorial dos data centers acredita que o país poderá ter condições para atrair este investimento.

A Comissão Europeia pretende que sejam criadas na Europa até cinco Gigafábricas de IA, grandes data centers pensados especificamente para o treino e desenvolvimento de modelos de inteligência artificial (IA). Para tal, está a desenhar apoios diretos e subsídios para aumentar o apetite de consórcios privados.

Na semana passada, responsáveis da PortugalDC reuniram-se no Ministério da Economia com o secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira. No encontro, que contou com representantes de outras entidades públicas, a dinamização de uma candidatura a uma Gigafábrica de IA foi um dos temas em cima da mesa, diz ao ECO o presidente da associação, Luís Pedro Duarte.

Segundo o responsável, terá sido o CEO do Banco Português de Fomento (BPF), Gonçalo Regalado, também presente no encontro, a lançar o repto para que Portugal não deixe passar esta oportunidade, apresentando uma candidatura. “Pediram explicitamente a nossa ajuda para dinamizar o processo”, diz o presidente da PortugalDC.

“A associação está a agendar uma reunião de board esta semana para podermos responder ao repto lançado pelo Banco de Fomento”, revela ainda Luís Pedro Duarte, que viu no Governo “bastante interesse” em desenvolver uma estratégia nacional para o setor dos data centers. Tal ajudaria o país a captar este tipo de oportunidades, defende o responsável.

Do lado da Comissão Europeia, o processo também está numa fase inicial. No dia 9 de abril foi lançada uma call para aferir o interesse dos privados em desenvolver estas infraestruturas, que irá decorrer até 20 de junho. O procedimento está sob a alçada do EuroHPC, o organismo europeu que coordena os esforços na área da supercomputação.

Apesar de não ser vinculativo, os consórcios interessados terão de preparar, já nesta fase, um autêntico plano de negócios detalhado que responda a múltiplas questões, incluindo uma proposta de localização e a respetiva justificação.

A proposta terá ainda de contemplar um sumário do projeto, requisitos de energia, mecanismos de governação, o orçamento previsto, necessidades ao nível dos recursos humanos e perspetivas futuras de mercado, bem como uma análise a potenciais clientes-alvo. As linhas orientadoras já foram disponibilizadas.

Na fase seguinte, a Comissão Europeia irá discutir com os interessados de forma mais detalhada, enquanto fecha o mecanismo de financiamento público e clarifica todas as considerações necessárias ao nível das regras das ajudas de Estado, assegurando os recursos financeiros necessários “para apoiar uma ou mais Gigafábricas de IA”. Está previsto o lançamento da call oficial no quarto trimestre deste ano, altura em que deverão ser conhecidos mais detalhes.

Para que seja apresentada uma candidatura portuguesa terão de existir empresas interessadas em investir — e com bolsos fundos. No Plano de Ação Continente IA, a própria Comissão Europeia considera que criar cinco Gigafábricas é um objetivo ambicioso, com o qual pretende mobilizar 20 mil milhões de euros, o que daria uns quatro mil milhões por cada infraestrutura. A Comissão diz mesmo que uma única Gigafábrica representa, por si só, um investimento avultado na sua construção e operação.

O mercado nacional tem sido apontado como um bom destino alternativo para data centers e atraído o interesse de vários investidores privados. A PortugalDC, criada em 2023, conta atualmente, ela própria, com 100 membros, incluindo 11 operadores de data center, dos quais oito com número de identificação fiscal português.

Mas o país pode estar em desvantagem face a outros Estados-membros, admite o líder da PortugalDC, devido ao facto de os EUA, no início do ano, não terem considerado Portugal um “aliado e parceiro chave” para exportações de componentes tecnológicos sensíveis, tais como os processadores da Nvidia. Desse modo, Portugal arrisca ficar sujeito a restrições na quantidade de chips que pode adquirir, ao contrário de outros mercados, como Espanha e França. “É claramente uma desvantagem, isso foi um dos temas que trouxemos para a reunião”, acrescenta Luís Pedro Duarte.

O ECO colocou várias questões à Comissão Europeia sobre este plano, e também ao Banco de Fomento na segunda-feira ao fim da tarde, encontrando-se a aguardar resposta.

(Notícia alterada às 12h20 com número atualizado de membros da associação)

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