Ter 501 carros sem ter nenhum e um telemóvel em vez da chave. O carsharing espalha-se por Lisboa

A Brisa apresentou o novo projeto de carsharing. Vai trazer 211 novos carros às ruas da capital, que somam aos 40 que a Citydrive já tem e aos 250 que estão para chegar. Como funciona?

Cada vez é mais difícil conduzir pela cidade. À parte do preço dos combustíveis e do estacionamento, ainda há o trânsito. Menos carros em circulação e a hipótese de mudar de ideias a meio do caminho, ajudam? É isto que o carsharing permite. A City Drive foi a primeira empresa a chegar e vai multiplicar a aposta. Em setembro, a Brisa junta-se à corrida. Quer fazer o test drive? O ECO explica como funciona e os benefícios que tem para a cidade. De resto, já tem o que precisa para experimentar esta opção de mobilidade: a chave é o telemóvel.

Vamos à história

Pioneira no carsharing em Lisboa, a empresa portuguesa City Drive está na cidade desde 2014 com uma frota de 40 carros — dez Skoda Fabia e 30 Opel Adam. Até ao final do ano, vão juntar a estes mais 250, e a grande aposta é nos elétricos, embora o modelo esteja por definir, revela Pedro Matos, o responsável do departamento comercial da empresa.

A Brisa também decidiu enveredar por esta via com um investimento de cinco milhões no carsharing. São mais 211 carros, o que significa que, no final do ano, os lisboetas terão 501 no total à sua disposição. O copiloto deste circuito é a alemã Drive Now, uma parceria entre a BMW e a Sixt que soma experiência em doze cidades europeias. Lisboa é a primeira na Península Ibérica mas não só: também é uma estreia no serviço de carsharing no que toca a dispensar cartões: abastecimento, estacionamento e outros pagamentos… tudo é feito através da aplicação. E foi outra portuguesa, a rede Via Verde, que veio facilitar o processo.

Pronto para arrancar? Quarta-feira foi a apresentação da Drive Now mas é a partir de meados de setembro — dia 12 — que os lisboetas podem contar com mais esta opção para se deslocarem. O ECO explica como vai funcionar.

“Olá, chamo-me João”

O primeiro passo é o registo online, que até ao dia de estreia está “em saldos”: é gratuito e oferece 20 minutos grátis. A partir daí, pagam-se 10 euros e a oferta é de 30 minutos.

“Olá, chamo-me João” — todos os carros têm nomes e apresentam-se assim que são selecionados na aplicação. Para além do nome, contam o nível da bateria, os quilómetros que o combustível permite andar e se o carro tem algum dano anterior à deslocação. Se o João não agrada…. existirá um Miguel ou uma Maria nas redondezas. São quatro os modelos: o BMW 116, um Série 1, o Mini de três ou cinco portas e um elétrico, o BMW i3, que é o mais raro — só há onze — e, portanto, também a mais cara das opções. Os restantes 200 carros que compõem a frota dividem-se entre os Mini e os Série 1. Todos os anos a frota vai ser renovada, sempre tendo em conta as preferências dos clientes.

Nico Gabriel, CEO da Drive Now, posa à esquerda de Pedro Rocha e Melo, vice presidente da Brisa, ao lado dos quatro modelos. Do mais próximo para o mais afastado, vê-se o BMW I3, o BMW 116 (Série 1) e os dois Mini Clubman, de três e cinco portas.Paula Nunes / ECO

Depois de eleger o seu companheiro de viagem, pode reservá-lo e seguir o GPS até ao lugar onde este está parado. Tem 15 minutos para chegar até ao veículo sem custos. A partir daí, a demora custa dez cêntimos por cada minuto a mais. No lugar, a chave é o telemóvel: pode desbloquear as portas e, por segurança, tem ainda um código pessoal para inserir no automóvel. O carro liga e está pronto para arrancar.

Quando começa a descontar

O preço da viagem depende do modelo e da duração. Por cada minuto na estrada, os BMW i3 cobram 34 cêntimos, os BMW Série 1 ficam-se pelos 31 e os Mini pelos 29 cêntimos. Assim, o trajeto entre Belém e o Cais do Sodré, que demora cerca de 14 minutos, custará 4,06 euros à boleia de um Mini. A mesma viagem, ao volante do Série 1, vai encarecer 28 cêntimos e 70 cêntimos se optar por um elétrico. No registo, antes de fazer o download da app, o cliente escolhe o modo de pagamento: Cartão Visa, Mastercard, American Express ou Diners Club (todos os que tenham código de verificação).

Ao preço de cada viagem acresce um euro que garante um seguro contra todos os riscos durante a deslocação. Em alternativa, o cliente pode escolher pagar uma franquia de 350 euros quando se regista, que funciona como seguro contra danos pessoais.

O combustível está incluído, é da responsabilidade da mesma equipa de manutenção que limpa e monitoriza os veículos. Contudo, se excecionalmente for necessário abastecer, o cliente pode visitar um posto da Galp, parceira da Brisa, e a despesa é paga com a aplicação e suportada pela empresa. Para compensar o tempo que se perde, ganha-se um bónus de 20 minutos (gratuitos). Esta é uma das vantagens que chega com a Drive Now: não precisa dos cartões para abastecer. Só os elétricos ainda precisam de cartão dado o modo de funcionamento da MOBI.E.

Chegou ao destino? Pode estacionar em qualquer lugar dentro dos 48 quilómetros da área de operação, dada a parceria da Brisa com a EMEL. A lei é que define as exceções, como é o caso das zonas para residentes ou os lugares para pessoas com mobilidade reduzida. No caso de querer parar fora da área permitida ou, se quiser garantir que o carro fica à sua espera, o preço são 15 cêntimos por minuto, a tarifa de park&keep. De segunda a sexta, entre a uma e as sete horas da manhã, não se paga esta tarifa. Haverá ainda um preço fixo para quem queira ir e vir do aeroporto.

A CityDrive cobra 29 cêntimos por minuto durante a primeira hora, preço que baixa para os 25 cêntimos no tempo que se segue. Tem uma zona de serviço semelhante àquela que os novos concorrentes apresentam: também não abrange parte da área que envolve Chelas nem os caminhos que se estendem para cima do Palácio Nacional da Ajuda. Dado que não possui parceria com a Via Verde, com a City Drive o cliente é reembolsado por despesas extra com combustível no prazo de 24 horas, após o envio da foto do recibo.

Para todos e para a cidade

Com o carsharing, cria-se mais espaço nas cidades: a frota de 700 carros partilhados libertou 2.000 lugares de estacionamento em Munique. Este espaço pode ser aproveitado para a criação de zonas verdes. Por cada carro partilhado, retiram-se três a cinco veículos da estrada, que são assim substituídos por modelos novos de emissões mais baixas ou mesmo de zero-emissões, como é o caso dos carros elétricos. Ainda de acordo com a Drive Now, 39,8% dos clientes decidiram não comprar um veículo próprio graças à existência de carros partilhados. Reduz-se assim o consumo. Uma vez que o carro é guiado por diferentes utilizadores, não fica tanto tempo parado, pelo que a utilização é 3,5 vezes superior à de um carro privado.

Tanto a Drive Now como a Citydrive concordam que um dos grandes benefícios do serviço é a redução da pegada de carbono. A flexibilidade inerente, tanto ao nível do estacionamento como na opção por outros meios faz cair o número de quilómetros, e a Drive Now calcula que, só em Viena, tenham sido emitidas menos 7.000 toneladas de dióxido de carbono graças aos carros partilhados. Para além disso, o serviço da Drive Now já permitiu o primeiro contacto com veículos elétricos a mais de 300.000 clientes, promovendo este tipo de veículos mais amigos do ambiente. Pedro Matos, da City Drive, realça ainda os menores níveis de ruído que advêm de menos carros em circulação.

Dados da Drive Now

Quem vai ao volante?

A única condição é já ter carta de condução há mais de um ano. Quase metade dos utilizadores são licenciados e encontram-se numa relação mas ainda não são pais. A maioria tem entre os 30 e os 39 anos, mas são seguidos de perto pela faixa dos 18 aos 29. Os utilizadores que não possuem carro ultrapassam ligeiramente — em 4% — os clientes que têm veículo próprio.

A City Drive diz que o número de clientes tem aumentado consistentemente. Hoje, estão na fasquia dos 10.000, embora nem todos sejam utilizadores diários. A Brisa tem como meta os 10.000 clientes até ao final de 2017, mas espera ter alcançado os 25.000 ao fim de um ano de operação. Muitos turistas? Não. “Essencialmente utilizadores registados em Lisboa”, afirma João Oliveira, diretor geral do projeto na Brisa, pois “cerca de 95% dos clientes da Drive Now utilizam o serviço na cidade de origem”. Contudo, espera que alguns dos 960.000 clientes que aderiram à Drive Now pela Europa acabem por utilizar também o serviço em Portugal.

Quando a Drive Now entrou no mercado de carsharing na Alemanha, em 2012, o número de clientes cresceu de 185.000 para 255.000. Até à data, este sistema trabalhava apenas com estações fixas espalhadas pela cidade, e a Drive Now veio adicionar a flexibilidade de estacionamento. Em 2017, o mercado de carsharing alemão aproximou-se da fasquia dos dois milhões, com 1.715.000 clientes — 73% dos quais usam o serviço da Drive Now.

  • Paula Nunes
  • Fotojornalista
  • Miguel Couto

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