Exclusivo Descobrimos porque é que a Yupido “vale” 29 mil milhões de euros
O ECO foi à conservatória consultar a avaliação do Revisor Oficial de Contas ao insólito aumento de capital da Yupido e descobriu que o ativo intangível é uma "plataforma digital inovadora de media".
Por esta altura, já deve ter ouvido falar da Yupido. Trata-se de uma empresa portuguesa que está despertar atenção por ter um capital social avaliado em 29 mil milhões de euros, o correspondente a duas vezes o valor de mercado da Galp. Já tínhamos avançado que este valor surge após um aumento de capital realizado no ano passado. Agora, o ECO revela que ativo é esse: trata-se de uma “plataforma digital inovadora” de media.
O ECO teve acesso a um conjunto de documentos ligados a esta sociedade que está na boca do mundo. Nomeadamente, o relatório emitido pelo revisor oficial de contas, António Alves da Silva, que avaliou o “ativo intangível” multimilionário da Yupido. Nele, o revisor assume a “responsabilidade” e a “razoabilidade” deste valor insólito.
Mas, afinal, que ativo é este que a Yupido usou para realizar este aumento de capital? Segundo o relatório, trata-se de uma plataforma “de armazenamento, proteção, distribuição e divulgação de todo o tipo de conteúdo media” e que se destaca “pelos algoritmos que a constituem”.
"Em concreto, [este ativo intangível] materializa-se numa plataforma digital inovadora, de armazenamento, proteção, distribuição e divulgação de todo o tipo de conteúdo media. Tal plataforma destaca-se pelos algoritmos que a constituem.”
Lê-se ainda no relatório: “A nova tecnologia que foi objeto da minha avaliação visa responder às crescentes necessidades do mercado relativas ao consumo de conteúdos de media, designadamente as decorrentes das exigências motivadas pelas novas formas e acesso aos conteúdos, seja pelos dispositivos móveis (smartphones, tablets e PC portáteis [sic]), ou outros dispositivos, designadamente fixos, que possam ser conectados à internet.”
"É da minha responsabilidade a razoabilidade de avaliação do direito intangível em causa e a declaração de que o valor encontrado é suficiente para a realização do aumento de capital social pretendido. (…) Entendo que o trabalho efetuado proporciona uma base aceitável para a emissão da minha declaração.”
É este o tão afamado “ativo intangível” da Yupido e é detido pelos subscritores do aumento de capital. Nomeadamente Cláudia Alves, diretora de operações, com mais de 19,9 mil milhões de euros; Torcato André Jorge, diretor de marketing, com mais de 8,3 mil milhões de euros em capital, e Filipe Besugo, com uns modestos 275,9 milhões de euros de capital em espécie respeitante à plataforma.
Avaliação é “conservadora”. Valor da plataforma será ainda maior
Todos os aumentos de capital em espécie têm de ser avaliados por um revisor oficial de contas, que é obrigado a redigir o relatório agora revelado pelo ECO. É por isso que o mistério fica parcialmente revelado através da leitura do documento. Mas se pensa que 29 mil milhões é um valor exagerado, engane-se.
Segundo o revisor, “foi considerada uma taxa de penetração no mercado (quota de mercado) conservadora”. Isso leva António Alves da Silva a garantir que “o potencial de valorização do referido software poderá ascender a valores ainda mais significativos” — isto é, ainda mais do que os 29 mil milhões de euros em causa.
O potencial de valorização do referido software poderá ascender a valores ainda mais significativos.
Como o ECO já tinha avançado esta quarta-feira, a empresa nunca teve vendas desde que foi criada em 2015. Além disso, também não tem funcionários. Apresentou prejuízos superiores a 11.000 euros em 2015 e mais de 21.000 euros em 2016.
Vídeo: Conheça a Yupido, a empresa mistério
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