FMI diz que Portugal tem “banca fraca e investimento fraco”
Os progressos são "notáveis," mas são sobretudo de curto-prazo. O desafio mantém-se: há que quebrar o "ciclo vicioso entre bancos fracos, malparado elevado e fraco investimento."
Os progressos são “notáveis,” diz o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas os riscos para o crescimento e a sustentabilidade das finanças públicas permanecem no médio prazo. É preciso mais investimento, mais reformas estruturais, mais consolidação orçamental, mais esforços no sistema bancário. Numa frase: “O desafio político de médio prazo continua a ser quebrar o ciclo vicioso entre bancos fracos, malparado elevado e fraco investimento que continua a limitar o crescimento de médio prazo,” lê-se no relatório feito ao abrigo do Artigo IV, publicado esta sexta-feira.
“Portugal fez progressos notáveis ao longo do último ano na redução dos riscos de curto prazo,” lê-se logo no arranque do documento, que antecipa, tal como revelado em junho, um crescimento de 2,5% para o PIB português em 2017.
No relatório de despedida de Subir Lall — o último feito sob a sua liderança, já que entretanto o chefe da missão do FMI para Portugal passou a ser Alfredo Cuevas — os esforços para controlar a despesa e cumprir a meta orçamental no ano passado foram considerados “fortes” e reconhecem-se avanços na banca.
Nota-se que a retoma económica ganhou ritmo, empurrada pelo aumento expressivo das exportações de bens — descontando o efeito dos combustíveis, subiram 10% no primeiro semestre do ano, o que compara com 2,5% no período anterior — e do turismo. Por isso, “a meta do défice de 1,5% para este ano” está “bem ao alcance,” volta a dizer o FMI, reafirmando as conclusões retiradas em junho, logo após o fim da visita da missão técnica a Lisboa.
Uma consolidação orçamental estrutural duradoura é essencial para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas, com a elevada dívida pública a manter-se um risco considerável.
Mas nem tudo são rosas. Quando a análise passa para uma avaliação mais estrutural, começam os avisos. No défice: “Uma consolidação orçamental estrutural duradoura é essencial para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas, com a elevada dívida pública a manter-se um risco considerável e o ambiente de financiamento provavelmente a tornar-se menos benigno à medida que política monetária acomodatícia seja eventualmente reduzida,” escrevem os peritos.
Na banca: os passos para aumentar o capital no sistema bancário deveriam ser “seguidos de esforços ambiciosos” para limpar os balanços dos bancos. Sem isso, os bancos estão limitados no financiamento ao crescimento futuro, “vulneráveis aos riscos negativos” e incapazes de fazer de forma eficaz a “a intermediação efetiva entre as poupanças e o investimento produtivo,” somam.
Na economia: “Sem esforços mais ambiciosos para resolver os impedimentos estruturais ao investimento”, o crescimento de médio prazo “tenderá a aproximar-se do crescimento potencial de 1,2%,” lê-se no documento, que diz que será preciso o investimento subir 6,4% ao ano, para Portugal crescer 2% em 2021.
Na capacidade de financiamento: o país vai voltar a registar um excedente da balança comercial, mas isso não chega para colocar a dívida externa a descer de forma significativa no médio prazo. Feitas as contas, o FMI diz que faltam entre 2% a 4% do PIB de excedente comercial para que a posição fortemente negativa da posição de investimento internacional (uma boa medida da dívida externa) entre numa tendência claramente de correção.
Os diretores [do FMI] encorajaram as autoridades [portuguesas] a tirar partido das atuais condições macroeconómicas benignas para continuar a melhorar a resiliência do setor financeiro, assegurar a consolidação orçamental duradoura e aumentar o crescimento potencial.
E é por isso que o desafio continua a ser quebrar aquele “ciclo vicioso entre bancos fracos, malparado elevado e fraco investimento,” garante o documento. Os peritos explicam que enquanto os bancos estiverem limitados na sua capacidade de financiamento, não poderão ajudar a economia a crescer, financiando o investimento produtivo.
Ou seja, o que é preciso é “tirar partido das atuais condições macroeconómicas benignas para continuar a melhorar a resiliência do setor financeiro, assegurar a consolidação orçamental duradoura e aumentar o crescimento potencial,” remata a avaliação do board do FMI, na discussão do relatório produzido pela equipa de peritos.
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