Já merecíamos, caramba
Costa e Centeno estão de parabéns. Passos Coelho também. O Zé, o Manuel, a Teresa e o Silva também. Ninguém estava a pedir um triple A, mas o país já merecia uma notação menos mal cheirosa.
Em maio, numa entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, António Costa dizia que as agências “tinham de mudar o rating do país se quisessem permanecer credíveis”. O primeiro-ministro tem razão: não fazia sentido manter o rating em “lixo” como se nada se tivesse passado no país nos últimos seis anos.
Ninguém estava a pedir um triple A, mas o país já merecia uma notação menos mal cheirosa.
Apesar de toda a retórica política para enganar Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, o governo socialista, depois da deriva inicial das reversões, manteve no essencial o caminho que foi iniciado por Pedro Passos Coelho. Consolidação orçamental como um desígnio nacional.
Até ontem, o país estava preso por um arame. A pequenina DBRS era a única que nos dava uma notação acima de “lixo”. Agora, passámos a estar presos por dois arames e podemos encarar o fim do ‘quantitative easing‘ do BCE sem o credo na boca.
Portugal tem vindo a acumular conquistas importantes nos últimos meses: saímos com pinta do Procedimento por Défices Excessivos, a economia está a crescer ao ritmo mais alto do século e o desemprego caiu finalmente para níveis menos dramáticos.
No seu relatório, a agência americana é salomónica nos seus elogios. Afirma que o atual governo está no bom caminho e também elogia a “reforma no mercado laboral levada a cabo pelo governo anterior” e que permite à S&P prever uma descida da taxa de desemprego de 9,1% para 7% a médio prazo.
Esqueceu-se, — mas as agências de rating são pouco dadas a sentimentalismos, — foi de elogiar o Zé, o Manuel, a Teresa, o Silva e todos os portugueses que nos últimos anos tiveram de viver com menos e outros com quase nada para que o país pudesse corrigir os excessos que foram cometidos no passado.
Esta revisão do rating surge numa altura melindrosa para o Governo já que é mais um argumento para o PCP e para o Bloco de Esquerda, — apesar de desdenharem o papel das agências, — engrossarem a voz nas reivindicações para o Orçamento de Estado do próximo ano.
Por isso é que Mário Centeno, apesar do sorriso de orelha a orelha, veio esta manhã colocar água na fervura: “o otimismo tem de ser assertivo e pragmático. Porque a dívida permanece a quarta maior do mundo.”
A dívida pública, concorda a S&P, continua a ser o nosso calcanhar de Aquiles e só há uma forma de a debelar: continuar a gerar excedentes primários na casa dos 3 e 4% e reduzir o peso da despesa pública no PIB. O analista da agência Marko Mrsnik considera que a despesa pública em Portugal, que pesa 45% do PIB, “tem um valor elevado mesmo comparando com nações mais ricas da zona euro como a Alemanha e a Holanda”.
“Isto implica manter uma elevada carga fiscal, incluindo no fator trabalho”, diz a S&P. E de impostos altos o Zé, o Manuel, a Teresa e o Silva já tiveram a sua dose.
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