Autárquicas? Força nas canetas… nos cartazes e nos concertos
Antes dos resultados, já há vencedores: músicos, empresas de brindes, gráficas, agências publicitárias ou empresas de transportes são os grandes beneficiados com as autárquicas.
As campanhas eleitorais já não são o que eram. A palavra de ordem é contenção e os orçamentos disponíveis para as campanhas reduziram-se em muitos milhões face ao que os partidos gastaram há quatro anos, mas há coisas que não mudam. Em ano de autárquicas, as câmaras têm mais dinheiro para gastar em festas populares e os negócios agradecem a ajuda em meses tradicionalmente parados. Antes dos resultados, já há vencedores: músicos, empresas de brindes, gráficas, agências publicitárias ou empresas de transportes são os grandes beneficiados com as autárquicas.
Este ano, as principais forças políticas vão gastar quase cinco milhões de euros só em brindes. O PS destaca-se, de longe: vai gastar quase dois milhões de euros só para oferecer canetas, porta-chaves, chapéus e afins aos eleitores. Mas, no global, os socialistas vão seguir a tendência dos restantes partidos e cortar o orçamento total em 28%. No extremo oposto está o Bloco de Esquerda, que vai gastar pouco mais de 3.600 euros em brindes e outras ofertas.
O orçamento dos partidos para a campanha das autárquicas
Mesmo os limites impostos pelo Tribunal Constitucional para os valores dos principais meios de campanha — uma lista indicativa que serve para evitar a inflação desregulada de preços em época de eleições — estão mais baixos do que há quatro anos. Em 2013, o Tribunal Constitucional apontava para que o aluguer de estruturas metálicas para cartazes, por exemplo, custasse entre 800 e 975 euros, para um aluguer até três meses. Nestas autárquicas, baixou o intervalo para 600 a 975 euros.
Mas, com ou sem cortes, as empresas de brindes agradecem, mesmo que seja já mesmo em cima do acontecimento. “O político português é como o empresário. Faz tudo em cima da hora. Só para aí em agosto é que começámos a receber telefonemas”, conta Nuno Oliveira, diretor de marketing da Nobrinde. Mas, quando os telefonemas chegam, chegam em força.
“As autárquicas rendem mais do que as legislativas, porque temos muito mais gente a querer os nossos produtos. Nas legislativas, temos quatro ou cinco clientes, que são os maiores partidos. Nas autárquicas, temos muito mais”, diz o responsável. No fim, as vendas de canetas, t-shirts e bandeiras, os produtos mais escolhidos, são suficientes para combater a sazonalidade típica dos meses de agosto e setembro e aumentar as receitas em 15% a 20%. “Haver autárquicas é a diferença entre ter um mês mau ou ter um mês ao nível dos outros”.
O preço é o mesmo, mas há mais trabalho
Este sábado, pelas 17h00, Emanuel vai estar na Quinta da Pícua, na Maia, a animar o comício do movimento Maia em Primeiro, do PSD. Mais tarde, às 21h00, vai ser possível encontrá-lo a atuar na festa de apresentação dos candidatos do PS à freguesia do Lordelo, da câmara de Paredes.
“Não é como antigamente”, diz Samuel Monteiro, o manager de Emanuel. “Já não há tantos comícios”, mas o artista não se queixa. “O Emanuel tem sempre muito trabalho, é sempre muito requisitado. O que muda é que temos datas que não estavam previstas, porque participamos em comícios”, explica Samuel Monteiro.
Há mais trabalho, mas não rende mais, mesmo com o pretexto das autárquicas. “Não cobramos mais, o preço é fixo. Mas há mais trabalho. Em ano de eleições, os orçamentos das autarquias aumentam, há sempre mais festas e, por isso, os artistas têm sempre mais trabalho”, conta.
É fácil de verificar isso. Numa pesquisa pelo portal Base, que reúne os contratos assinados por entidades públicas, percebe-se que este ano correu muito melhor a Quim Barreiros, um dos artistas de música pimba mais requisitados, do que o ano passado. Até 22 de setembro, foram publicados no portal 26 contratos celebrados com o cantor, num valor global que supera os 220 mil euros. No ano passado, Quim Barreiros só foi contratado por autarquias por 16 vezes, encaixando cerca de 140 mil euros.
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