Famílias estão a poupar pouco, mas ainda não há risco
Por enquanto, os níveis de consumo das famílias estão alinhados com os rendimentos. Mas é preciso acompanhar os indicadores com cautela.
A taxa de poupança das famílias está em níveis baixos, quando comparado com o período da crise. Quer dizer que os consumidores estão a gastar para além das suas possibilidades? Não, pelo menos por enquanto. Os dados mostram que as famílias consomem de acordo com os rendimentos disponíveis, mas é o próprio Governo que assume que seria importante poupar mais.
No debate de generalidade de apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2018, o ministro das Finanças, Mário Centeno, defendeu que a poupança tem vindo a recuperar. Contudo, assumiu que a recuperação não acontece a um ritmo suficiente e que por isso o Governo tem de criar as condições para para facilitar a poupança das famílias — no dia seguinte, o Conselho de Ministros anunciaria um novo produto de poupança para os particulares com condições piores do que aqueles que estavam em vigor.
Mas afinal, o que se passa com a poupança das famílias? As famílias estão a adotar comportamentos de risco? Em primeiro lugar, vale a pena olhar para os números. Os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que os consumidores poupam 5,2% do seu rendimento disponível — uma percentagem baixa quando comparada com os 9,1% de 2013, ou com os 10,5% de 2010. Ainda assim, o valor já esteve ainda mais baixo, em 5%, como mostra o próximo gráfico.
Como tem evoluído a taxa de poupança das famílias?
Fonte: INE
Tendo em conta que as famílias reservam uma parte considerada pequena do seu rendimento para poupança, quer dizer que estão a consumir de mais? “As despesas de consumo das famílias estão alinhadas com o seu rendimento”, diz Rui Constantino, economista-chefe do Banco Santander Totta. A afirmação é corroborada pelos dados do INE, que dão conta de um aumento de 0,9% tanto das despesas de consumo, como do rendimento disponível, no segundo trimestre de 2017.
Constantino explica que as famílias poderiam estar a diminuir as suas poupanças, ou até a recorrer ao aumento do seu nível de endividamento, mas não é isso que os dados mostram. Durante alguns meses, pensou-se, de facto, que a taxa de poupança já estava abaixo dos 4%, o valor mais baixo desde 1999. Porém, este valor haveria de ser revisto em alta, com o apuramento de informação mais detalhada de 2015. O INE explicou que os rendimentos da propriedade foram, afinal, mais elevados, o que subiu a taxa para valores em torno dos 5%.
As despesas de consumo das famílias estão alinhadas com o seu rendimento.
“É verdade que temos uma poupança baixa, mas a generalidade das famílias tem património imobiliário”, acrescenta ainda o economista. É por isso que, por enquanto, ainda não há sinais de risco, embora seja importante ir monitorizando a situação. “Há que acompanhar a evolução dos indicadores, para ver se não surgem desequilíbrios”, defende Rui Constantino.
O INE revela ainda que o rendimento das famílias está a crescer maioritariamente pela redução dos impostos pagos (em 7,7%), mas também por um aumento das remunerações (de 1,1%).
Olhando para o Boletim Económico de outubro do Banco de Portugal, são visíveis alguns sinais de prudência no consumo das famílias. O banco central dá conta de uma desaceleração do consumo privado este ano, face a 2016. Enquanto no ano passado, o consumo de bens duradouros estava a crescer 10%, este ano cresce a um ritmo de 5%. Grande parte da explicação está na compra de automóveis, cujo crescimento caiu de 20% para 5%.
Também o crescimento do consumo de bens correntes dá alguma confiança: deverá subir 1,9% este ano, ligeiramente acima dos 1,6% de 2016, mas ainda abaixo do crescimento do PIB — o que indicia sustentabilidade face à evolução dos rendimentos.
O ECO está, ao longo desta semana, a realizar um conjunto de trabalhos sobre a poupança, no âmbito do Dia Mundial da Poupança. Pode acompanhar estes artigos aqui.
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