PIPA quer apostar na identificação precoce do autismo e precisa de ajuda
Contactos, visibilidade e investimento. São esses os objetivos que a PIPA aponta para a sua presença no Web Summit. O programa quer aposta na identificação precoce do autismo.
O Programa Integrado Para o Autismo (PIPA), que tem apostado na criação de aplicações eletrónicas para o acompanhamento de crianças, quer encontrar investidores que possam desenvolver tecnologia avançada para a identificação precoce da doença.
Recentemente, o PIPA criou uma vertente “APPS”, que assenta em três aplicações de formato eletrónico para promoção da estimulação de competências neurocognitivas e linguísticas que estão em défice na criança com perturbações do neurodesenvolvimento.
Trata-se de jogos criados com o objetivo de estimular a aquisição da linguagem e da numeracia.
João tem quatro anos e há cerca de dois que está a ser acompanhado pelo PIPA. Atualmente, nas suas sessões, recorre a estas aplicações. Agora tem autismo de grau ligeiro, mas quando ali chegou estava no grau moderado.
“Este acompanhamento tem sido uma grande ajuda, noto uma enorme evolução”, constata a mãe Susana.
Durante a sessão, o técnico Nuno mostra-lhe no iPad as aplicações disponíveis e João entusiasma-se a cada exercício, ora no encaixe das frutas, ora na identificação dos números e das cores.
Os jogos foram construídos por uma equipa de especialistas na área da saúde, nomeadamente da psicologia do desenvolvimento, da terapia da fala e do ‘design’.
Cláudia Bandeira Lima é a coordenadora do PIPA e explicou à Lusa que a ideia de se criarem aplicações eletrónicas surgiu depois de se aperceberem que as crianças tinham uma maior facilidade de aprendizagem através de uma plataforma eletrónica.
“Já que adaptamos tantos materiais lúdicos para trabalhar com as crianças no dia a dia, porque não criar jogos numa plataforma digital e, de facto, tem sido um enorme sucesso estas aplicações. Já temos mais de 8.000 ‘downloads’ e estamos muito satisfeitos com a recetividade quer dos pais, quer das crianças que têm uma intuição fácil para este tipo de aprendizagem”, esclareceu.
Mais de 60 crianças são acompanhadas anualmente pelo PIPA e, em Portugal, segundo a especialista uma em cada 68 crianças sofre de autismo, uma doença merece cada vez mais atenção.
A presença na Web Summit é, segundo Cláudia Lima, uma “oportunidade muito interessante”, por conciliar a vertente clínica com a de tecnologia.
“Faz imenso sentido. Estamos a avançar na tecnologia a olhos vistos e estas crianças têm, na maioria das vezes, uma aptidão especial para a área tecnológica”, disse.
Contactos e visibilidade são os objetivos do PIPA APPS, mas o mais importante, sublinhou Cláudia Lima, seria encontrar investidores que apostassem em tecnologia na área do diagnóstico precoce.
“Uma das grandes dificuldades nesta problemática do autismo é conseguirmos identificá-lo numa idade muito precoce, nos dois primeiros anos de vida, e não há nada que nos dê essa identificação e, portanto, seria muito interessante conseguirmos ter uma aplicação que permitisse esse diagnóstico”, sustentou.
Segundo Cláudia Lima, conhecimento, experiência e confiança no resultado não faltam, resta agora encontrar quem queira financiar novas aplicações, nomeadamente no formato de diagnóstico precoce e elevar Portugal na área do autismo, com ferramentas de desenvolvimento já existentes, por exemplo, nos Estados Unidos.
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