Altice decreta fim das compras. Admite vender ativos

A Altice mudou o foco: quer agora abater os 50 mil milhões de dívida que acumula. Para tal, vai parar o ciclo de fusões e aquisições. E admite a venda de ativos.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. A Altice está agora focada em abater os 50 mil milhões de euros de dívida que acumula. Neste sentido, a empresa franco-israelita decretou o fim das aquisições e admite mesmo vir a vender alguns ativos na Europa, sobretudo aqueles que mais fujam ao core das operações. Numa conferência com analistas, o administrador financeiro do grupo, Dennis Okhuijsen, afirmou que a empresa vai “voltar ao básico e cortar na despesa”. Entre as hipóteses faladas esteve a venda de torres, por exemplo.

O cerco apertou-se para a Altice no início deste mês. Os resultados relativos ao terceiro trimestre — que Dennis Okhuijsen admitiu esta quarta-feira serem “muito maus” — levantaram dúvidas quanto à capacidade do grupo de pagar a dívida. Além disso, o grupo emitiu um profit warning em que admite que os resultados do ano de 2017 deverão ficar no “limite mínimo” das suas previsões.

"Hoje não é altura para desculpas ou explicações, mas para factos.”

Dennis Okhuijsen

CFO do grupo Altice, CEO da Altice Europa

Aos resultados negativos surgiu uma hemorragia na bolsa… e uma rutura. Michel Combes foi afastado do cargo de presidente executivo, confirmando os rumores que já existiam no meio. Dexter Goei substituiu-o no cargo e Dennis Okhuijsen tornou-se líder da Altice no mercado europeu. Só esta quarta-feira é que os investidores deram tréguas à empresa. As ações da Altice em Amesterdão recuperavam quase 4%, depois de um tombo de mais de 45% desde a apresentação de resultados.

Na conferência desta quarta-feira falou também Patrick Drahi, o fundador e dono do grupo. Drahi fez um mea culpa e admitiu que a empresa não tem estado suficientemente focada nos problemas operacionais e que não tem vendido bem os seus serviços, falando pouco com os clientes. A opinião dos altos cargos do grupo parece ser unânime: “Não é um problema de concorrência, não é um problema da [qualidade da] rede, mas uma falha na forma de lidar com todos os detalhes relativos aos consumidores”, assumiu também Dennis Okhuijsen. A Altice tem vindo a perder clientes no negócio das telecomunicações, sobretudo em França, onde detém a SFR.

Estas intervenções, que decorreram em Barcelona (Espanha), representam uma mudança de discurso por parte da Altice. O grupo tinha vindo a advogar até aqui uma estratégia de convergência entre telecomunicações, media e publicidade, tendo adquirido diversos negócios nestas áreas não só na Europa como nos Estados Unidos. Nos últimos anos, a empresa adquiriu a Meo em Portugal num negócio multimilionário com a brasileira Oi, comprou empresas de media em França como o Libération e a BFM TV e, do outro lado do Atlântico, adquiriu a startup Teads e a Cablevision, entre outros.

Ao mesmo tempo, encontra-se num processo de aquisição da Media Capital em Portugal, o grupo que detém a TVI e a rádio Comercial. No verão, ofereceu 440 milhões de euros pela empresa, num negócio que merece forte oposição por parte dos concorrentes dos vários setores. A operação encontra-se a aguardar uma avaliação final do regulador da concorrência.

(Notícia atualizada pela última vez às 13h05 com mais informação)

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