Zimbabué. Robert Mugabe demite-se
Robert Mugabe acaba de deixar a presidência do Zimbabué. O pedido de demissão foi entregue, num momento em que estava iminente a sua destituição.
Trinta anos depois de ter assumido o cargo de Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe demite-se. A notícia foi avançada por um porta-voz do Parlamento, de acordo com a Associated Press. O político de 93 anos decidiu deixar o cargo, num momento em que estava iminente o seu impeachment. O antigo vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, assumirá, entretanto, a liderança interina do país.
“Lutámos contra o leão e ganhámos“, congratulou-se o líder da bancada da União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (Zanu-Pf), na sequência deste anúncio. A demissão de Robert Mugabe foi conhecida durante uma reunião em Harare (capital do Zimbabué), na qual se estava a discutir a moção de destituição do líder mais velho do mundo, avança a Bloomberg.
A decisão do histórico político acontece poucos dias depois da Zanu-Pf ter ordenado a sua retirada do cargo em causa. Quatro dias antes dessa ordem do partido no poder do Zimbabué, os militares tinham colocado Robert Mugabe sob prisão domiciliária e detido vários dos seus aliados. O gatilho deste processo? A demissão de Mnangagwa por Mugabe, no início do mês.
O movimento contra Robert Mugabe resulta da confluência de duas forças que lutam pelo controlo do partido no poder: uma facção afeta a Mnangagwa e às forças militares e uma outra conhecida como Geração 40, que deseja ver Grace Mugabe (esposa do presidente demissionário) na presidência do país. A primeira acabou por sair vencedora, com Mnangagwa a tomar as rédeas do país e a ser escolhido como candidato da Zanu-Pf, nas eleições presidenciais, no próximo ano.
O que deixa Mugabe?
Robert Mugabe deixa o Zimbabué com um legado de desastres: 95% da população ativa está desempregada, escasseia a comida e a água, as infraestruturas estão em péssimo estado. Filho de um carpinteiro e de uma catequista, o líder demissionário entrou na política, quando estava a estudar na Universidade Fort Hare, na África do Sul. Em 1963, Mugabe ajudou a fundar a União Nacional Africana (Zanu) e em 1980 inaugurou o cargo de primeiro-ministro do Zimbabué.
Aos 39 anos, Mugabe foi encarcerado por apelar ao fim do Governo minoritário de Ian Smith e, consequentemente, acabou por passar 11 anos em prisão, período durante o qual se formou em Direito, Economia e Educação. Um ano depois de ser libertado, o presidente demissionário fugiu para Moçambique, onde liderou a Zanu, que controlava duas das maiores guerrilhas, da Rodésia.
Enquanto primeiro-ministro, Robert Mugabe advocou, efemeramente, a reconciliação. Em 1982 (dois anos depois de assumir o cargo) a violência tomou, contudo, conta do país, quando Mugabe acusou o seu parceiro da coligação de conspiração, no sentido de o destituir. Seguiu-se, assim, uma forte repressão militar, que custaria a vida a 20 mil pessoas.
O ciclo de violência do seu Governo conquistou um novo pico em 2000, quando o Presidente demissionário permitiu que os seus apoiantes tomassem as propriedades dominadas pela população branca, destruindo as produções agrícolas e promovendo a fome. Em 2005, Mugabe voltou à carga com o despejo das favelas do Zimbabué, retirando os tetos a 750 mil cidadãos.
Adeus, Mugabe. Olá, Mnangagwa
Conhecido como “crocodilo” (nome de guerrilha), Emmerson Mnangagwa já passou pelos cargos de ministro da Justiça e da Defesa. Ao lado de Robert Mugabe, o novo líder interino do Zimbabué ganhou os títulos de calculista, implacável e dissimulado. No currículo, Emmerson tem 50 anos de política e guerrilha.
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