2018, parte 2
Encerrando o exercício que iniciámos na semana passada, ficam quatro questões que previsivelmente darão que falar nos próximos doze meses. Bom ano!
Instituições europeias
O fim da crise das dívidas soberanas limitou o enorme protagonismo ganho pela Alemanha nos últimos anos. As dificuldades para formar governo (as eleições foram em Setembro) contribuíram para a erosão do poder de Berlim e Emmanuel Macron, há oito meses no poder em França, não consegue ocupar o espaço aberto e continua com dificuldades para reerguer o eixo franco-alemão. A ausência, por agora, de uma chanceler em plenitude de funções deixa o presidente francês sem parceiro para esta dança de poder e confere uma oportunidade para as instituições europeias, com Jean-Claude Junker à cabeça, recuperarem a iniciativa perdida durante a crise. Uma parte do legado de Delors poderá, assim, ser ressuscitado.
Acordo União Europeia Mercosul
Ao longo dos dois últimos anos, assistimos a uma mudança de tendência política na América Latina. Argentina, Brasil e Chile contam agora com governos economicamente mais liberais. Neste contexto, não é de descartar que em 2018 seja, finalmente, assinado o acordo comercial entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e a União Europeia, o que poderá ser uma muito boa notícia para as empresas portuguesas exportadoras. No entanto, não é de descartar que a instabilidade política brasileira condicione grandes movimentos na região e volte a frustrar esta expectativa.
China no mundo
Donald Trump é uma catástrofe para a política externa norte-americana. A principal potência mundial perdeu credibilidade e capacidade de influência (poder efectivo, nos dias que correm) sobre adversários e parceiros. O presidente chinês Xi Jinping compreendeu que a instabilidade de Trump poderia ser uma oportunidade e, durante os últimos doze meses, teve na consolidação do papel da China como potência económica e comercial à escala global a sua grande prioridade. A hiper-reactividade e o imediatismo de Trump têm na moderação e na visão de longo prazo de Pequim um contra-ponto cada vez mais evidente. A defesa do comércio-livre e o desenvolvimento da “nova rota da seda” foram disso exemplo. O ano 2018 deverá confirmar esta tendência que demonstra que o poder chinês não chegará na forma de aviões e de carros de combate, mas sim de investimento e quotas de mercado.
O papel da Rússia
Com taxas de aprovação a rondar os 80%, Vladimir Putin parte para uma quarta campanha presidencial tranquilo. Com a sua estratégia validada pela opinião pública, neste mandato, o presidente russo consolidou uma política agressiva em relação ao “estrangeiro próximo” e recuperou parte do papel de potência com a intervenção na Síria e a manutenção do aliado (hoje vassalo) Bashar al-Assad. A pirataria informática, por outro lado, parece ter permitido a Putin reerguer, em versão low cost, uma parte da famosa rede de espionagem e contra-informação soviética. Com Trump no poder e com o petróleo novamente em alta, 2018 afigura-se como um bom ano para Putin.
Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
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