Domingues começa mal

O novo presidente da CGD decidiu responder a Pedro Passos Coelho. Esqueceu-se que é agora um gestor público e, (também) por isso, deve deixar o debate político para os políticos.

O novo presidente da Caixa Geral de Depósitos entrou no debate político, e fez mal. O até agora discreto António Domingues decidiu desmentir afirmações de Pedro Passos Coelho que, em entrevista ao Público, tinha suscitado dúvidas sobre a recapitalização do banco público e o processo de nomeação da administração.

Até há uns meses, quem conhecia António Domingues? Fora do circuito bancário, poucos, porque Domingues cultivou sempre uma posição discreta enquanto vice-presidente do BPI. Agora, é um gestor público e convém que não esqueça esse novo estatuto. Quando decide entrar em debate com o líder da oposição, está, ele próprio, a entrar num terreno que não é nem deve ser o dele. Deveria ter seguido o exemplo do anterior presidente, José de Matos, que, com razões mais relevantes, manteve o silêncio e só o desfez no Parlamento.

Pedro Passos Coelho tem telhados de vidro na banca, sim, mas as críticas que fez são, no mínimo, pertinentes. O processo começou mal, desenvolveu-se mal e, apesar de tudo, acabou com uma aprovação de capitalização do banco por parte de Bruxelas. Menos mal, embora ainda estejam por apurar as consequências desta operação pública para os bancos privados.

O nome de António Domingues foi o ‘Ás’ do Governo, um profissional independente e fora da lógica partidária. O resto da equipa também. Mas sabe-se hoje que António Domingues estava a trabalhar no plano da CGD enquanto vice-presidente do BPI. Não deveria tê-lo feito desta forma, na sua defesa, do BPI e da própria CGD. O Parlamento é o sítio certo para a defesa da honra. Já levou a resposta do líder da oposição. E agora, vai responder outra vez ou enfiar a viola no saco?

Vamos acreditar que António Domingues desenhou um plano de reestruturação da CGD para o banco público ter acesso a uma capitalização de mais de cinco mil milhões de euros – e pelo meio ‘contratou’ a McKinsey – só com informação pública. É preciso fazer um esforço, e só o passado profissional de Domingues justifica o benefício da dúvida.

Depois da polémica em torno do seu salário – populista e fundada sobretudo em motivações partidárias -, Domingues deveria preocupar-se agora em apresentar um plano e os objetivos para CGD. É a única resposta. Em vez disso, decidiu responder a Passos Coelho numa carta a um jornal. Começa mal.

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