423 mil euros é muito? Mira Amaral, Catroga e Beleza de acordo: a qualidade paga-se
A propósito do salário que vai ser pago a António Domingues, Mira Amaral, Catroga e Beleza concordam que, para ter gestores de qualidade, é preciso pagar-lhes. Mas também exigir resultados.
Os salários dos membros do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) continuam a marcar a semana. Na noite de quarta-feira, foi a vez de António Costa se pronunciar sobre o assunto, para alinhar com as justificações já dadas por Mário Centeno: os salários dos administradores do banco público devem acompanhar os que são praticados no setor. Já esta quinta-feira, Luís Mira Amaral, Eduardo Catroga e Miguel Beleza falaram ao ECO e são mais ou menos unânimes: a qualidade paga-se. Com alguns limites – mas nunca impostos por lei.
“Se o Estado quer ter empresas em setores concorrenciais, tem de pagar de acordo com os salários do setor. Em todos os países de economia de mercado é assim”, resume Mira Amaral. Sobre a discrepância salarial entre gestores e políticos, o antigo presidente do BIC, que foi também ministro durante dez anos, é claro: “Toda a gente sabe que os gestores empresariais ganham mais do que os políticos. É a vida“.
Quem quer jogadores como o Cristiano Ronaldo tem de os pagar.
Eduardo Catroga segue a mesma linha. “A Caixa é uma instituição financeira que tem de ser competitiva no mercado e, para ser competitiva no mercado, tem de ter bons gestores. Quem quiser bons gestores tem de os pagar. No mercado do futebol, quem quer jogadores como o Cristiano Ronaldo tem de os pagar”, exemplifica o administrador da EDP.
E vai mais longe: “A Caixa devia até ter um sistema de incentivos variáveis em função dos objetivos para defesa dos interesses de todos os contribuintes, que são os acionistas da Caixa”.
Devem exigir-se ao público os mesmos resultados que se exigem ao privado. Caso contrário, retirar [os gestores] dos cargos.
Mas há alguns limites que devem impor-se. Miguel Beleza também acredita que, “se pretendemos pessoas tão competentes quanto as que existem nos outros bancos, temos de lhes pagar de acordo com isso”. Mas ressalva: “Também se deve exigir os mesmos resultados que exigem no privado. Devemos ter pessoas qualificadas, pagar-lhes de acordo com o que se paga no mercado e exigir-lhes bons resultados. Caso contrário, têm de sofrer as mesmas consequências que se sentem numa empresa privada, ou seja, retirá-las dos cargos“.
Mira Amaral, por seu lado, tem dúvidas sobre a justiça do montante que está a ser oferecido a António Domingues. “Se o salário do doutor António Domingues é um salário normal na banca ou não, isso é outra matéria. Mesmo em relação aos salários bancários, é um salário bastante simpático“, refere.
O salário de António Domingues é bastante simpático. Talvez não fosse necessário ser tão elevado.
Até porque, sublinha, “os gestores dos bancos que estão sujeitos a apoios estatais estão com salários mais baixos”, dando o caso do BCP. “O BCP também teve apoio público dos contribuintes e tem salários mais baixos do que na Caixa. Talvez não fosse necessário o salário [de António Domingues] ser tão elevado”.
Um “disparate”, a “demagogia barata” e a “mentira” do PSD e CDS
Sobre a proposta do PCP de limitar as remunerações dos gestores públicos e privados a 90% do salário do primeiro-ministro, estão todos de acordo: não faz sentido.
Mira Amaral dá o mote de partida: “Houve um miserabilismo no tempo de Passos Coelho“, diz, referindo-se às alterações que o anterior Governo fez ao Estatuto do Gestor Público, que implicava a indexação ao vencimento do primeiro-ministro de todos os gestores públicos. Havia, no entanto, a possibilidade de exceção para as empresas públicas que atuem em mercado concorrencial; nesses casos, os gestores podiam optar pela remuneração média dos três anos anteriores a terem ingressado na empresa pública. O atual Governo voltou a alterar o estatuto, acabando com os limites salariais.
É altura de os políticos acabarem com a demagogia e fazerem pedagogia.
Para o antigo presidente do BIC, a “tese de que os salários dos gestores da Caixa, que estão em concorrência com os outros salários do setor, têm de estar indexados ao salário do primeiro-ministro é um disparate completo“. Já para Eduardo Catroga, “é demagogia política barata“. E reforça: “É altura de os políticos acabarem com a demagogia e fazerem pedagogia“.
No encontro de quarta-feira, o primeiro-ministro também não deixou passar este assunto e aproveitou para acusar o PSD e o CDS-PP de “mentirem em matéria de salários de gestores da CGD”.
Isto porque, “apesar de terem criado um teto ao nível dos vencimentos, estabeleceram igualmente uma exceção: que as pessoas podiam ganhar mais se auferissem a média do que obtiveram nos três anos anteriores”. E isso, acrescentou António Costa, “fazia com que, num mesmo conselho de administração, existissem pessoas a ganhar muito e outras pouco”.
Em suma, antes da alteração introduzida pelo atual Governo, “existia um truque, fingindo-se que havia um teto remuneratório“.
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