Novo presidente da CGD ganha quase o dobro de antecessor

  • Margarida Peixoto
  • 18 Outubro 2016

António Domingues vai ganhar um salário anual de 423 mil euros, quase o dobro do salário de José de Matos. E esta é só a componente fixa. Se houver lugar a prémio, pode ir até 210 mil euros.

O novo presidente da Caixa Geral de Depósitos, António Domingues, vai receber um salário anual de 423 mil euros, o equivalente a mais de 30 mil euros por mês. O número foi revelado esta terça-feira pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, numa audição da Comissão de Orçamento e Finanças, no Parlamento.

O ministro foi questionado pelo deputado Duarte Pacheco, do PSD, o grupo parlamentar que agendou a audição de forma potestativa, especificamente para obter esclarecimentos do ministro sobre o processo de recapitalização da CGD e a execução orçamental de 2016.

Mário Centeno explicou que os salários do conselho de administração da Caixa foram fixados de acordo com a mediana paga no setor para aquelas funções, de forma a não “influenciar o mercado”, seja no sentido de o inflacionar, seja por estar “fora do mercado”.

Estes são os vencimentos dos administradores da CGD, conforme adiantou o ministro:

  • Presidente do conselho de administração: 423 mil euros anuais;
  • Vogais executivos: 337 mil euros;
  • Vogais não executivos: 49 mil euros anuais.

Mais tarde, o ministro viria a acrescentar que estes valores se referem apenas à componente fixa do salário. Se for caso disso, os administradores terão direito a uma remuneração variável, cujo valor de referência no setor é de metade da remuneração fixa. Ou seja, cerca de 210 mil euros.

Salários de 2015 eram quase metade

Comparado com as remunerações da anterior administração, os valores subiram quase para o dobro, mostra o relatório e contas de 2015 da Caixa. Segundo o documento, José de Matos ganhava 16.578,28 euros por mês. Multiplicando por 14 salários, o vencimento do anterior presidente da comissão executiva da Caixa chegava a 232,1 mil euros por ano.

Também o salário dos vogais do conselho de administração vão subir, por comparação com a gestão de 2015. Segundo o relatório e contas, o valor anual variava entre 160 mil euros e 188,7 mil euros.

A comparação com o passado foi lembrada pela deputada do CDS Cecília Meireles. De seguida, o social-democrata Carlos Silva lembrou os cortes que os bancos que precisaram de recorrer ao apoio estatal tiveram de fazer nas suas remunerações.

Na resposta, Centeno criticou a comparação entre uma capitalização de um banco público e o recurso a uma ajuda estatal. Além disso, frisou que a lei anterior era mais vantajosa: “A aplicação da regra salarial anterior a estes administradores resultava numa despesa salarial superior porque a regra anterior permitia.” E acrescentou: “Os salários a que se refere não são os de quem estava a dirigir a caixa. São os dos empregos que tinham antes de irem para a Caixa”.

Sobre as remunerações variáveis, Centeno revelou que “os limites que são praticados no setor têm até metade da remuneração fixa.” Contudo, garantiu que “esta remuneração é fixada após a avaliação do desempenho da equipa de gestão”. Ou seja, argumentou, “se a administração da Caixa receber uma remuneração variável é porque o investimento que os contribuintes fizeram está a ter retorno.”

“O espanto compreende-se. É quase meio milhão por ano”

Durante a audição, Mariana Mortágua, deputada do BE, reconheceu que a crítica ao valor dos salários da administração da Caixa “tem de ser feita”. Isto porque “é muito dinheiro quando comparado com os salários médios e mínimos” praticados na economia portuguesa. Por isso, disse a deputada, “o espanto compreende-se”.

Para a bloquista, a alternativa é “limitar os salários dos gestores das empresas públicas aos do primeiro-ministro”. Mariana Mortágua lembrou que o PCP até tem uma proposta nesse sentido. Só assim, argumentou, existiria uma verdadeira alteração de regime face à política de remunerações praticada pela Caixa.

Antes da alteração que permite à Caixa pagar de acordo com a mediana do mercado, os salários eram definidos em função dos vencimentos passados: “Se eu fosse buscar o Cristiano Ronaldo, teria que lhe pagar a média dos seus últimos salários”, frisou a deputada.

(Notícia atualizada às 18h52 com mais informação)

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