90 dias, nove tweets. O arranque de Centeno no Eurogrupo no Twitter
Um mês e meio como Presidente do Eurogrupo em 280 caracteres. @mariofcenteno: de que fala o Presidente do Eurogrupo no Twitter?
Esta é uma história que começa a 5 de dezembro. Um dia depois de ter sido eleito para o Eurogrupo, a equipa de Mário Centeno criou uma conta de Twitter para a função. A rede social da ave azul já era a casa de Jeroen Dijsselbloem, ex-presidente do Eurogrupo, e da maior parte dos líderes europeus, incluindo ministros das Finanças. Em três meses de utilização, e praticamente dois meses oficialmente à frente do grupo informal que junta os países da Zona Euro, o que disse o utilizador @mariofcenteno?
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Nestes três meses, Mário Centeno já acumulou na sua agenda mais de 20 encontros. A maior parte deles foram em Lisboa, mas houve um momento alto chamado Davos onde se encontrou com Christine Lagarde, presidente do Fundo Monetário Internacional, e Steven Mnuchin, secretário do Tesouro norte-americano. A par das reuniões, Centeno dividiu-se entre várias conferências, debates ou entrevistas a órgãos internacionais — tudo momentos assinalados no Twitter.
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Mas esta não é uma conta para consumo interno. A maior parte dos tweets são em inglês. Contam-se pelos dedos da mão as publicações em português ou diretamente sobre Portugal. Contudo, o seu alcance ainda é curto: Centeno tem apenas pouco mais de três mil seguidores. Jeroen Dijsselbloem tem, neste momento, mais de 100 mil seguidores. Quando começou no cargo em 2013 já contava com mais de 16 mil seguidores.
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Ainda antes de ter tomado posse oficialmente, Centeno encontrava-se com vários intervenientes europeus e dava entrevistas como futuro presidente do Eurogrupo. Na lista estão Klaus Regling, presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Pierre Moscovici, comissário europeu para os Assuntos Económicos, Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia para o euro, e o ministro das Finanças holandês, Wopke Hoesktra. Foi em Lisboa que os recebeu, tal como tinha prometido, fazendo da capital portuguesa uma sucursal do Eurogrupo.
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Apesar de ter menor notoriedade a nível europeu, Mário Centeno tem utilizado o Twitter como um instrumento de política: elogia a Grécia, apoia as reformas do euro, dá o exemplo de sucesso de Portugal e publicita os encontros que tem. Mais de 140 tweets depois, o que marca a presença do novo presidente do Eurogrupo na rede social utilizada por vários políticos a nível mundial para marcar a atualidade?
A Zona Euro pelo olhar de Centeno
A conta do ministro das Finanças português tem sido principalmente usada para explicar a visão que o novo presidente do Eurogrupo tem sobre a Zona Euro: o seu passado, presente e futuro. Nos tweets, o passado mistura-se com o futuro com o objetivo de evitar a repetição de erros. Para o líder do Eurogrupo, “o euro sobreviveu ao teste da crise” e “o apoio dos cidadãos à moeda única tem crescido e está agora muito forte”. “Não devemos desiludi-los”, escreve, avisando que “a história não será simpática para nós [políticos europeus] se não usarmos a janela de oportunidade para reforçar a Zona Euro”.
Sobre o presente, o seu novo papel exige que se una às vozes europeias na transmissão de uma mensagem positiva. “O desempenho do crescimento económico na Zona Euro tem sido sólida e ampla”, argumenta, destacando que as economias europeias estão a tornar-se “cada vez mais resilientes”. “Talvez mais do que o crédito que lhe dão”, desabafa. Mais tarde, insistiu: “Boas notícias são ‘não-notícias'”.
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O próprio admite que “o ciclo económico é extremamente favorável” e que o recente ciclo de eleições resultou numa “onda de Governos pró-europeus”, mas que isso não vai “durar para sempre”. Numa mistura de “ambição” e “pragmatismo”, o presidente do Eurogrupo tem uma missão muito clara: tornar a Zona Euro mais “resiliente” e “robusta” perante crises. “Quero focar-me em resultados concretos que possam melhorar a confiança e o investimento”, garantiu Mário Centeno na sua sessão de tomada de posse, a 12 de janeiro.
Os encontros em França e Alemanha foram os mais importantes. Em ambos, Centeno vincou o compromisso das duas potências europeias para reformar a Zona Euro. O português esteve à mesa com Emmanuel Macron, um dos maiores defensores públicos de uma maior integração económica entre os países da moeda única. “França está com um forte impulso para reformas ambiciosas. A minha expectativa é que esta energia se encontre com o novo Governo alemão“, escreveu o ministro das Finanças português.
A medida do sucesso de Mário Centeno serão os consensos atingidos e o calendário alcançado. Para já a data na cabeça do Eurogrupo é a cimeira do euro em junho para a qual já deve estar preparado um plano abrangente de reformas e um roteiro dos próximos passos a dar.
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A questão será saber que reformas é que avançam. Centeno tem falado e escrito sobre o assunto, mas de forma vaga para não se comprometer com nenhuma posição. A prioridade é a União Bancária e a União Económica e Monetária, mas o próprio diz num tweet que a capacidade orçamental (ou seja, um orçamento comum para a Zona Euro) ou a melhoria das regras orçamentais também podem vir a estar em cima da mesa.
Sendo presidente do Eurogrupo numa altura que a União Europeia negoceia com o Reino Unido o pós-Brexit, Mário Centeno também já marcou a sua posição. “Estamos sempre preocupados com políticas protecionistas. Mas estamos prontos e preparados para do nosso lado responder com níveis altos de competitividade”, lê-se num tweet recente.
Portugal como exemplo de sucesso
É uma linha que cose as várias intervenções públicas de Centeno: dar Portugal — um caso que conhece de perto — como exemplo de sucesso dentro da Zona Euro: “Estamos a colher hoje os benefícios do crescimento económico por causa das reformas que fizemos, tanto a nível nacional como europeu”.
“Portugal é um caso de sucesso na Europa com o crescimento forte e o desemprego em queda“, escreveu num tweet, dando por várias vezes Portugal como um exemplo de fenómenos que estão a acontecer na Europa. “A fragmentação financeira está a diminuir na Europa. Deixem-me usar Portugal como exemplo: as PME têm o menor spread de financiamento desde o começo do século”, escreveu.
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Ainda assim, foram poucas as vezes que falou diretamente sobre Portugal. Um desses casos foi a melhoria em dois níveis do rating pela Fitch: “As condições de financiamento da República vão beneficiar desta decisão, assim como as famílias portuguesas e as empresas”. Já enquanto presidente do Eurogrupo, Centeno esteve lado a lado com Lagarde e anunciou mais um pagamento antecipado ao FMI, argumentando que a decisão “envia fortes sinais aos mercados e melhora a sustentabilidade da dívida”.
“Em Portugal nós combinámos políticas de convergência económica com a consolidação orçamental. [Esta estratégia] resultou num excedente do saldo primário, uma redução do rácio da dívida no PIB, um crescimento [económico] forte e uma queda no desemprego”, escreveu o ministro das Finanças português no Twitter, em defesa da estratégia portuguesa. Mas não é o único país que defende.
Os elogios à Grécia
Mário Centeno também já aplicou o sucesso de Portugal ao caso grego: defendeu que as autoridades gregas é que devem decidir o futuro do país, referindo que foi algo que aprendeu com a sua própria experiência enquanto ministro das Finanças português. Apesar de admitir que o programa de ajustamento grego foi “difícil”, Centeno disse estar “convencido” de que será bem-sucedido e que terá “bons resultados” que se traduzam na vida das pessoas.
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A Grécia é vista como o último patinho feio da Zona Euro que continua a ser discutido frequentemente pelos ministros das Finanças europeus, ainda que de forma muito menos atribulada. Ultrapassado grande parte do ajustamento grego, Mário Centeno preside o Eurogrupo numa altura em que a mensagem para Atenas é positiva e de encorajamento. “Quanto à Grécia, temos algumas boas notícias“, escreveu no primeiro encontro do Eurogrupo que liderou.
Centeno foi o mensageiro do “acordo político” para a terceira revisão do programa, no montante de 6,7 mil milhões de euros da próxima tranche, do sucesso da aplicação das medidas, entre outros. “O Eurogrupo está a estudar como é que pode facilitar o regresso da Grécia aos mercados financeiros de forma sustentável”, escreveu, assinalando que a estratégia de longo prazo do Governo helénico será “crucial”.
O futuro do orçamento comunitário
Para além das reformas da Zona Euro, o Eurogrupo de Mário Centeno ficará também marcado pela discussão das novas fontes de receita para o orçamento comunitário. Neste ponto, o ministro tem ido mais além: “O próximo quadro de financiamento da UE tem de ser mais simples, mais equitativo, mais transparente e focado em gastar melhor” para acrescentar maior valor europeu. Além disso, quer que o orçamento tenha instrumentos para lidar com choques económicos.
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Quanto aos novos impostos europeus ou outra forma de aumentar os recursos próprios da UE, Centeno disse ser “favorável” à utilização de parte dos lucros do Banco Central Europeu. Mais tarde, clarificou que a medida está em cima da mesa e que só é a favor que se faça o debate sobre o assunto. Seja como for, num tweet já tinha argumentado que “o orçamento da UE tem de ser coberto por fontes de receita ligados às competências partilhadas”, onde se inclui o BCE.
“Como economista, faz sentido que uma união monetária tenha capacidade orçamental que ajude o investimento e seja um instrumento de estabilização”, escreveu Centeno. Mas este é um daqueles assuntos em que existe pressa em fazer a discussão, mas que levará tempo até haver o consenso entre os Estados-membros. Entre os vários tweets de política europeia, Mário Centeno até deixou um conselho aos seus pares: “Temos de gerir as expectativas e dar uma boa dose de paciência aos agentes económicos, o que às vezes está em falta no debate político“.
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