Spreads máximos da casa estão abaixo dos mínimos em vigor durante a crise
Os bancos estão dispostos a cobrar menos aos clientes mais arriscados face ao que cobravam aos clientes de menor risco no pico da crise. Vontade de dar crédito justifica essa realidade.
A “guerra dos spreads” da casa está ao rubro. Sucedem-se as revisões em baixa dos spreads em benefício de quem quer um empréstimo para a compra de habitação. A vontade de dar crédito é tanta que os bancos estão dispostos a cobrar menos aos clientes mais arriscados do que aquilo que cobravam aos clientes de menor risco no pico da crise.
Confuso? O que se passa é o seguinte: aquilo que os bancos têm agora como spread máximo no crédito à habitação é inferior ao spread mínimo durante a crise.
Spreads: dos máximos para os mínimos
Fonte: Preçários dos bancos
São pelo menos cinco os bancos nacionais em que essa situação acontece: BCP, Santander Totta, Montepio Geral, Bankinter e Crédito Agrícola. Qualquer destes bancos tem nos seus preçários tetos máximos para os spreads inferiores àqueles que eram os seus limites mínimos no início de 2013, período em que a “torneira do crédito” estava mais fechada. Apenas a CGD, o Novo Banco e o BPI não acompanham esta tendência.
No caso do BCP, o teto máximo dos spreads do crédito à habitação é atualmente de 3%. Este valor é inferior aos 3,75%, patamar a partir do qual o banco liderado por Nuno Amado se dispunha a dar crédito no início de 2013. Já o Santander Totta e o Montepio Geral têm tetos máximos de spreads de 2,5% e 3,5%, respetivamente, quando há cinco anos exigiam no mínimo 3,25% e 3,7% para financiar a compra de casa.
Por sua vez, no Bankinter o spread máximo é de 3,2%, aquém dos 3,5% que o Barclays (banco cuja atividade de retalho em Portugal foi comprada pelo banco espanhol) disponibilizava como spread mínimo no pico da crise. A maior discrepância de valores surge no caso do Crédito Agrícola. O banco liderado por Licínio Pina tem em 2,65% o seu limite máximo de spreads. No início de 2013, a sua margem mínima era superior em mais de um ponto percentual: 4,05%.
Não há menos risco. É uma questão de contexto
Essa realidade não significa que os clientes que hoje procuram crédito para a compra de casa ofereçam menor risco face ao que acontecia há cinco anos. O contexto de atuação dos bancos é que é muito diferente. “A descida dos spreads face ao que aconteceu no pico da crise deve-se essencialmente à política de liquidez do Banco Central Europeu (BCE) que permitiu a libertação de liquidez no mercado“, começa por explicar Nuno Rico, economista da Deco, acrescentando que conjuntamente com a recuperação económica, constituíram “um incentivo ao mercado e deram mais vontade aos bancos para emprestar dinheiro”.
Um cenário bastante distinto daquele com que os bancos se depararam durante a crise financeira, altura em que a difícil situação em que se encontravam, com elevados níveis de malparado e a necessidade de reforçarem os rácios de capital obrigou-os a “fechar a torneira” do crédito. O aumento dos spreads foi uma via para o conseguir concretizar.
Hoje, o cenário é muito distinto. “Após os finais de 2014 e início de 2015, acabamos por assistir a um aligeirar não só das restrições de acesso, como também pelo facto de terem acesso a grandes volumes de liquidez devido à política expansionista do BCE, os bancos começaram a baixar os spreads de modo a conseguirem colocar essa liquidez no mercado”, contextualiza o economista da Deco.
Spreads mínimos da casa
Fonte: Preçários dos bancos
Atualmente, todos os bancos oferecem crédito à habitação a partir de spreads inferiores a 2%, em alguns casos já bem próximos de 1%. Apesar de serem superiores ao que chegou a ser praticado antes da crise financeira, o atual nível de spreads tem ajudado a puxar pela concessão de crédito à habitação.
Em 2017, os bancos nacionais disponibilizaram mais de oito mil milhões de euros em crédito para a compra de casa, o montante mais elevado desde antes da crise financeira. O arranque de 2018 dá seguimento a essa tendência, com 634 milhões de euros em empréstimos para a compra de casa disponibilizados em janeiro, segundo os últimos dados do Banco de Portugal.
A vontade de os bancos em dar crédito com esse fim é de tal ordem que, para além cortarem no preço que cobram aos clientes para conceder empréstimos, também estão a apostar em campanhas promocionais dos seus produtos de crédito à habitação, em que a rapidez é o principal foco.
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